DIANTE DA PORTA DA VIDA MORTA
Alcenor
Candeira Filho (1947)
Diante da porta
da vida morta,
devo sorrir
ou devo chorar?
Há deste lado
belas estrelas
que um dia talvez
possa alcançar.
Belas estrelas,
mas que me assombram
e fazem mal
ao meu olhar.
Por trás da porta
da vida morta,
em meio a um branco
transcendental,
o que haverá?
o que haverá?
Belas estrelas
dos meus assombros,
por gentileza
dizei-me vós:
diante da porta
da vida morta
devo sorrir
ou devo chorar?
Belo poema, vívido, visceralmente musical, no qual as batidas rítmicas formam um todo harmonioso apoiados nos seus paralelismos, nos refrões. Poesia de verdade, de quem pensa o seu ofício metapoeticamaente, com o saber dos que aprenderam a fazer a poesia de todos os tempos, ou seja, pela hábil fusão da tradição e do pensamento lírico moderno.
ResponderExcluirHá poema que se devem de preferência ler em voz alta, conforme um dia me advertiu um severo professor norte-americano que me lecionou na graduação da UFRJ literatura americana.
O exemplo do seu poema se alinha nesta condição.
Mais uma vez, não é somente o rigorismo rimático do verso (mesmo quando vertemos um poema de uma língua para outra) tradicional, que não é especificamente este, que torna mais musical um poema bem arquitetado.
Merece este poema uma análise mais demorada, tanto nos seus aspectos formais quanto nos seus aspectos filosóficos.
Cunha e Silva Filho