Cinismo de candidato, cumplicidade do eleitor
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
A campanha eleitoral encerra-se,
aliviando a esgotada paciência do eleitor. Candidatos, que tentaram açucarar a
retórica do discurso da fé e temor de Deus, mas vestindo roupas inadequadas
para participar do banquete democrático, não convenceram. A parábola evangélica
do banquete nupcial cai bem nessas horas, porque “muitos são chamados, mas
poucos os escolhidos”. Candidato ficha-suja, que exibe cândidas virtudes,
contradiz-se, diante de flagrantes condutas de corrupção. Não merece comparecer
ao nobre banquete da democracia. Se o eleitor lhe vota, comete o mesmo crime de
cumplicidade e traição à pátria.
252
candidatos a cargos eletivos, em todo o Brasil, estão barrados pela Lei da
Ficha Limpa em 2014. De acordo com a Lei, ficam inelegíveis os candidatos que
tiverem suas contas rejeitadas por ato intencional (ou “doloso”) de improbidade
administrativa, quando exerciam cargos ou funções públicas, ou que foram
condenados por determinados crimes em órgãos colegiados. Os eleitores conhecem
bem as figuras, porquanto a imprensa tem divulgado, exaustivamente, os
fichados.
Durante os debates promovidos por canais de comunicação,
foram execrados por adversários. Então, por que continuam a tripudiar, por anos
seguidos e mandatos conquistados, a dignidade nacional? Só se encontra uma
resposta: cumplicidade de eleitores e autoridades, portanto conduta antiética e
condenável.
A rejeição da candidatura não tira o político da corrida
eleitoral. Permite que ele siga com a campanha até a votação, caso não tenham
se esgotado todas as possibilidades de recurso. Se eleito, toma posse. Se a
situação dele não for regularizada, seus votos serão considerados inválidos,
mas o percurso é longo e proveitoso para continuar no poder. Eis aí um túnel
nebuloso, por onde todo tipo de malabarismos jurídicos quase sempre resulta em
impunidade, embora a custos altos com advogados. O preço de uma liminar, por
exemplo, chega à estratosfera. O acusado, já eleito e desfrutando das benesses
do poder, encontra as fontes de onde tirar dinheiro para sua defesa nos
tribunais. Ele se encontra na dolce far niente vida de eterno repetidor de
mandato, aplaudido e eleito pela ignorância popular, e um exército de cabos
eleitorais generosamente pagos.
O grupo Ficha
Suja, conhecendo a impunidade via Recursos na Justiça, segue, com deslavada
cara de pau, o "Vai que Cola!", ou “na miúda”, sem aparecer na mídia,
esperando serem esquecidos. Eleitor, já acostumado a conviver com a classe
política Ficha Suja, cada vez mais tende a se tornar complacente e generoso,
abraçando e votando nos impunes. Mais vergonhoso acompanhar jornalistas que
jogam confetes por jabás generosos. A impressão de que a sacanagem virou moda
na era do “que é que tem?”.
Cidadãos do bem
encontram-se acuados, vendo o barco da decência à deriva, em mares bravios da
impunidade. A sensação é de puni-los é não votar neles. Um gigantesco exército
do NÃO à impunidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário