Primeira página do ano de 2015
Cunha e
Silva Filho
É com Você,
leitor, do Rio, de outros
estados e de outras partes do
mundo que me dá vontade
de falar. Nada sei da maioria e alguma coisa sei de um
pequeno círculo de amigos ou
conhecidos. Sei também que, em alguma
parte, alguém me lê ainda que seja por
uma única vez. Vai procurar outro blog
entre os milhares que existem para todos
os gostos , opiniões, grupos
e ideologias.
O colunista não
vai ficar zangado se não obtiver uma resposta qualquer visto que a
palavra que lhe enviou nasceu de uma
necessidade insopitável de me comunicar com Você através de um artigo, de uma crônica, de uma tradução, de uma resenha, de um
pequeno ensaio ou parte de um ensaio maior ou até pelo recurso, hoje
quase desnecessário, de lhe
dirigir em inglês, tendo eu o
cuidado de adicionar, logo após o texto
em inglês, a minha tradução,
não a eletrônica, mas
a minha mesmo, com todas as limitações
que possa haver, não obstante
sabendo que, como acontece
no Face,
há sempre, por debaixo do texto
em língua estrangeira, a acessibilidade
de lhe fornecerem a tradução em
português.
Como hoje, 2 de
janeiro, escrevo-lhe a primeira coluna
do meu blog, a Você dedico as minhas observações, os meus
“resmungos” (estou pedindo aqui
emprestado ao poeta Ferreira Gullar o termo que, se não me engano, empregou como título de sua primeira crônica para o jornal Folha de São Paulo, Caderno Ilustração aos domingos.
Leitor, se alguma vez
lhe feri a sensibilidade, lhe fui um pouco rude,
ou lhe contrariei a visão
política, social,
religiosa, filosófica ou de
qualquer campo do conhecimento humano, não foi para
prejudicá-lo. Isso jamais tive a
intenção de fazer. Contudo, quem escreve,
tem suas preferências, seu direito
de externar uma dada cosmovisão, que lhe pertence como substrato
do seu ser pensante, da sua maneira de ver um
dado problema, quer nacional, quer internacional.
O escritor tem que ser livre, livre até para ser fiel
a si mesmo, ou até mesmo
para, com o tempo,
modificar sua visão do
mundo, seus pontos
de vista, posto que nem sempre correspondam
aos do leitor, que, por sua própria condição, tem
igualmente sua maneira de ver o mundo, as pessoas, os
fatos, enfim, as questões que interessam
ao ser humano.
Assim como o colunista
tem o direito de expressão
do seu pensamento, desde que
saiba respeitar o leitor com uma
linguagem adequada ao registro
da mensagem a ser
expressa, assim também tem o
leitor de externar
seus ângulos de visão do mundo,
dos homens e de tudo que
forma essa complexidade e diversidade
que é o
pensamento humano. Entretanto,
seria muito entediante
se o autor de um artigo pensasse
sempre em consonância com
pensamento do leitor, condição praticamente
impossível e imprevisível.
A meu ver, não
é tão acertado assim ler somente
quem partilhe de nossas opiniões.
É preciso que entre o leitor e o autor exista um mínimo de dialética em questões de
discussão de um tema. As ideias divergentes, ao se chocarem entre si, impulsionam o intelecto
a aprofundamentos saudáveis e
estimulantes.
Nosso
"horizonte de expectativa" só tem a lucrar com interlocutores que não professam os mesmos
ideais nos múltiplos campos
do saber universal. O que não
pode ocorrer é que
as divergências descambem para o terreno pessoal,
para um nível de discussão, no
qual só
um julgue ser senhor
das verdades. Neste altura do
embate das ideias, o interlocutor passa ao terreno da
polêmica meramente conduzida
pelo personalismo, pela subjetividade, e assim
ficará cego por não ser capaz de
enxergar as qualidade do
adversário.
Escrevo sob a
assunção de que o leitor há de ter
em mente tanto as
virtudes quanto as fraquezas ou
mesmo erros (os “disparates de
todos nós” de que falou o mordaz Agripino Grieco (1888-1973), do
autor, do colunista, do escritor.
Não existe maior exposição de quem
escreve quando o seu texto torna-se
matéria de análise
ou comentário do leitor.
Toda escrita tem lá seus riscos e percalços.
O ato, contudo, de escrever
implica correr riscos assim como experimentar
deliciosas sensações e
enternecimentos ou mesmo suposições de que alguém que Você não conhece nem talvez nunca conhecerá, por alguns momentos do tempo
da leitura, vivenciou juízos convergentes e compreendeu que vale a pena
o compartilhamento das ideias e
dos sentimentos de alguém para alguém, mesmo se levarmos em conta o indeterminado background
cultural entre os que escrevem
e os que leem.
Este é o pacto,
leitor, que desejo
muito estabelecer com Você.
De um lado e de outro, somos
livres, livres para acompanhar o pensamento
do autor, ou para dele discordar.
Naturalmente, que o nosso pacto seja o da liberdade de
comigo permanecer, ou mesmo afastar-se ou finalmente - é o que
aguardo com ansiedade -
voltar a mim com o
coração aberto e a alegria de saber que
não escrevo só para mim, o que seria
egoísmo, mas para externar as minha ideias e minha posições
sobre temas e questões tendo sempre
em conta a dignidade e a honestidade de exercer
esse fabuloso meio de
comunicação, que é a escrita, comentando, analisando, e
interpretando o que os acontecimentos do mundo nos
provocam e, na medida do possível,
nos instigam a dar-lhes
respostas dentro de nossas possibilidades de visão e compreensão.
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