COISAS SÓ DE OEIRAS
(*) Ferrer Freitas
No prefácio do “Noturno de
Oeiras”, de autoria do poeta campomaiorense
Elmar Carvalho, impresso em
opúsculo de 1994, outro bardo, só que oeirense, Gutemberg Rocha, diz logo
no primeiro parágrafo que “...existe um grande mistério em Oeiras (...)
alguma coisa de sobrenatural, que foge à
razão, que fala diretamente à emoção, à sensibilidade...” Disse tudo em poucas palavras. Queiram ou
não (agora digo eu), a velha urbe de Possidônio Queiroz difere em parte de
outras tantas por coisas que só lá se vê ou acontecem. Evidentemente que aqui talvez vá um pouco de exagero de minha parte. Para dirimir qualquer dúvida, consultei um grande oeirense, Adelino de Sá
Rocha, ex-prefeito, que tem uma memória prodigiosa.
Pois Bem. Os “Beneditos”, em
sua maioria, são tratados por “B.”, acrescido de sobrenome, a exemplo de B.
Diogo, B. Reis, B. Barros, B. Moreira, B. Filho, todos, lamentavelmente, já falecidos. Dois outros, para alegria dos muitos amigos que têm, entre os quais me incluo, merecem ser citados, o caríssimo B. Sá,
ex-prefeito, companheiro de bons tempos no Rio de Janeiro nos anos setenta, e o
famoso B. Maroca. Outra coisa que causa espécie é o fato
de “alguém ser sempre de alguém”, pai ou mãe, a exemplo de José de Helena, José de Tibúrcio, Pedro de
Ernesto, Geraldo de Leomisa, Luís de Burane, Antônio de Gerson, Bastim (Sebastião) de
Gerson, Expedito de Manoel Leite, Ângelo
de Natu (Nataniel), Ângelo de Maria
Raimunda, Raimundo de Zefinha, também falecidos. Apraz-me
citar outros, todos vivos, ainda bem: Antônio de Selemérico, Luís de
Ana, Chico de Maria de Cota (Maria, sua mãe, já era de Cota), Antônio de
Aderson e por aí vai.
No centro histórico,
algumas ruas, estreitas é bom frisar, além de chamadas por
becos, são mais conhecidas pelo nome do morador de uma das esquinas ou de algo
que as marquem, a exemplo de
Beco de Antônio Gentil, Beco
de Francisquinho Barbosa, Beco de
Ovídia, Beco de Maria Camarço, Beco de Hipólito, Beco do Sérgio, Beco do
Cemitério, Beco do Sobrado, Beco do
Mocha, Beco do Quartel e por aí vai.
Este último, que tem seu inicio na Praça das Vitórias, entre a Pousada do Cônego e a agência dos
Correios, tem esse nome, Beco do
Quartel, pelo fato do prédio anterior ao
que hoje sedia a ECT
ter sido o quartel da Brigada.
Esta via termina no Passo de Lindoca, esquina da rua Coronel Luiz Rêgo, amplamente conhecida por rua do
Fogo. Nessa direção contrária já é mais conhecido por Beco de dona Iazinha
Ferraz, cuja casa é geminada ao Passo.
Neste último aspecto a velha
terra das margens do Mocha tem muito a ver com cidades históricas, sobretudo as
de Minas. Isso de beco lembra muito
Diamantina que inspirou Milton
Nascimento e Fernando Brant, em 1969, a comporem uma canção belíssima que leva o nome de “Beco do Mota”, cujos três
últimos versos da letra dizem: “Diamantina é o Beco do Mota/Minas é o Beco do Mota/Brasil é o Beco do Mota/Viva meu país!”. Talvez seja ainda oportuno transcrever os versos finais do Noturno, o
que faço com prazer: “Oeiras navega na noite/de um tempo que não termina./De um
tempo fugitivo de ampulhetas e relógios."
(*) Ferrer Freitas é do Instituto Histórico de Oeiras
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