MEMÓRIAS E “CAUSOS” DO DES. VALÉRIO
CHAVES
Elmar Carvalho
Na semana passada, ao caminhar no
calçadão da Raul Lopes, em companhia dos magistrados Raimundo Lima, Carlos
Barbosa, Antônio Lopes, des. Boson Paes e o funcionário da Justiça estadual Luís
Américo Campelo, encontrei o des. inativo Valério Chaves, que nos convidou a
acompanhá-lo até seu carro, estacionado do outro lado da avenida.
Recebemos então, devidamente
autografado, seu mais recente livro, titulado Casos de Justiça e outras
histórias que a vida conta. Ao que tudo indica, o desembargador, em sua
humildade e certa timidez, não fez estardalhaço de sua obra e não a lançou em
solenidade festiva. Simplesmente a editou e a está distribuindo a pessoas de
sua estima e consideração, além de parentes e amigos.
Sem óculos no momento, não pude, de
imediato, ler a simpática e amável dedicatória que ele me havia feito, o que só
fiz ao chegar em casa. O livro, de 173 páginas, bem impresso, contém suas
memórias, sobretudo as de sua meninice, adolescência e parte da juventude, e um
conjunto alentado de “causos” jocosos, sérios ou interessantes, dos quais ele foi
protagonista, coadjuvante ou observador, muitas vezes em decorrência de sua
função judicante.
O des. Valério Chaves é uma das
figuras paradigmáticas do Poder Judiciário Piauiense, pela sua notória honradez
e probidade, e por sua humildade; humildade de quem nunca procurou ser honrado
pelas vestes talares que envergou, mas de quem procurou honrar a toga que
vestiu. Exerceu a magistratura, tanto no primeiro como no segundo grau, com
inteligência emocional e sabedoria de vida, creio que hauridas e aperfeiçoadas
ao longo de sua vida.
Nasceu no povoado Cocal, então
município de Guadalupe, em 28 de abril de 1941, filho de Fernando Pereira Pinto
e Dorcas Ferreira Pinto, que lhe ensinou as primeiras letras. Na cidade de Nova
Iorque (MA), em 1957, concluiu o primário. Dois anos depois seguiu para
Teresina, onde prestou o serviço militar.
Como podemos perceber da leitura de
seu livro, mormente em suas memórias, estampadas na parte introdutória, mas
também em várias crônicas de caráter memorialístico, em que narra episódios
interessantes e algumas vezes pungentes de sua trajetória, foi um menino e um
adolescente pobre, que muito cedo teve de trabalhar, no amanho da terra e no
pastoreio das poucas “criações” de seu pai.
Contou esses episódios com
sobriedade, sem dramaticidade, sem se atribuir status de herói. Mas de fato ele
foi um herói do cotidiano, da luta renhida pela sobrevivência e para obter as
suas conquistas. Sua escalada foi lenta e gradual, sem atropelos e açodamentos,
porque desprovido de ganância e infenso a querer subir a qualquer preço. Por
isso mesmo encerrou sua carreira como um magistrado digno e respeitado.
Casos de Justiça e outras histórias
que a vida conta nos dão exemplos de vida, nas diferentes etapas da trajetória
de seu autor, desde a infância modesta, em que foi chamado, para honra sua, de
menino lenhador, de adolescente aguerrido no trabalho e no estudo, até o final
da juventude em que, com muito esforço e obstinação, foi amealhando as suas
conquistas, especialmente no jornalismo, no radialismo e na magistratura
piauiense.
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