Julguei oportuno publicar o e-mail abaixo, na verdade uma verdadeira crônica memorialística, que me foi enviado pelo Dr. Orlando Martins Pinheiro, digno magistrado, hoje inativo, maçom da melhor cepa, e escritor e jornalista, assim como seu saudoso pai, Hermes Pinheiro:
Caro amigo Elmar.
Aqui estou para dizer que atendi
a sua recomendação.
Na qualidade de leitor assíduo do
seu blog, apressei-me em abrir o link - A Banca do Louro - que me transportou
para Parnaíba de outrora quando era Caixeiro Viajante. Além da banca, onde
adquiria algumas revistas da minha predileção, a sua crônica me levou à
nostalgia daqueles bons tempos. Não sei se era o Bar do Augusto que eu
frequentava de vez em quando. Mas vislumbrei, mentalmente, as agências do Banco
do Nordeste e Banco do Brasil, onde fazia a transferência das importâncias
recebidas; da Farmácia Bacelar, de propriedade do probo e saudoso Raul Furtado
Bacelar, parece-me que hoje transformada por sua família em um memorial,
plenamente merecido e justificado; a Loja Rosemary, do Grupo Marc Jacob; a
Igreja Matriz, onde fazia, sempre que possível, as minhas orações: o Cine Éden
onde assisti alguns bons filmes; a própria praça bem cuidada onde passeava e
flertava à noite, enlevado pela brisa que vinha do mar.
Hospedava-me no Palace Hotel,
gerenciado pelo simpático espanhol Fernando Esposito, coadjuvado pelos
recepcionistas Farias e Chico. Lá saboreei a melhor casquinha de caranguejo.
Até hoje não comi nenhuma, pelo menos parecida. Ficava situado logo atrás da
Praça da Graça, mais precisamente na Avenida Getúlio Vargas, bonita de se ver,
com aqueles prédios antigos e bem
conservados, testemunho eloquente da nossa própria história através de
Simplício Dias que encabeçou a Independência do Piauí. Lembro-me da Casa
Inglesa, do grupo James Frederick Clark. Dos estabelecimentos Casa Morais e
Morais Importação, Ranulfo Torres Raposo e a Farmácia Parnaibana, do honrado e
simpático farmacêutico José de Arimateia Basto Rebelo que dizia que o lema de
seu estabelecimento era: "Farmácia Parnaibana, pobre porém
honrada".
Lembrei-me, igualmente, dos
farmacêuticos e comerciantes Themístocles Frederico da Ponte, Francisco de
Assis Cajubá de Brito, Adauto Sampaio e Vicente de Paula. Vislumbrei
mentalmente a Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba onde prestavam serviços os
médicos Armando Cajubá de Brito, José Mendes Cerqueira, Raimunda Nonata,
Equililérico Nogueira, João de Deus Silva, Mariano Lucas de Sousa, Cândido de
Almeida Athayde e Carlos Araken. Tinha em seus quadros de colaboradores as
piedosas freiras que prestavam seus valiosos serviços gratuitamente e um
simpático administrador que, infelizmente, mão me recordo o nome, era, também
contador que, naquela época era chamado de Guarda Livros, da firma de Ranulfo
Torres Raposo. Podia-se sentir o cheiro de limpeza ao passar nas imediações da
Santa Casa. Tinha, ainda, a Casa de Saúde e Maternidade Dr. Manoel de Brito e o
Hospital e Maternidade Dr. Marques Basto, de propriedade dos médicos Mirocles
de Campos Veras e Edgar dos Santos Veras, pai e filho, respectivamente.
Eu era muito jovem e adquiri
muita experiência na época, seja pelo exemplo dos meus colegas mais antigos no
ramo, seja pela maneira fidalga e educada que era recebido, tanto por
farmacêuticos quanto pela classe médica.
Vislumbrei a zona do meretrício,
donde se destacava a Boite Cinelândia e a Boite da Alzira, Creio que existiam
outras "casas de diversões",
mas o tempo varreu os nomes da minha memória. O tempo que traz gratas
recordações, embota muitas delas corroídas pelos longos anos vividos que me
afastam daquela fase da minha vida Tenho certeza que estou sendo injusto em não
me lembrar dos nomes de diversas outras pessoas, dignas e merecedoras de
elogios. Pode ser que, em tempo oportuno, a cortina se abra para maiores e
sentimentais devaneios.
Com o afetuoso abraço do seu
amigo e admirador.
Orlando Martins Pinheiro
Teresina, 29 de julho de 2016
Depois desta, dizer mais o quê, meu amigo?
ResponderExcluirUm belo relato sobre a velha Parnaíba de outrora. Fiquei encantado com texto, lavrado com ótimo poder de síntese.
Como diria um pernóstico, porém veraz: o doutor Orlando se houve com invulgar maestria.
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