sábado, 30 de julho de 2016

Ainda sobre a Banca do Louro

Sobre esta charge, em meu blog, postei o seguinte comentário:
Prezado amigo Fernando,

Pedi para você fazer uma charge do Louro, mas não um Louro tão platinado e atlético, e ainda fazendo uma operação plástica nele, ao ponto de fazê-lo transportar um container de Buriti dos Lopes a Parnaíba, como se fora um Maciste dos velhos filmes de outrora.
Era melhor tê-lo colocado como um herói das Olimpíadas!
Obrigado, grande Mestre, por mim, e principalmente pelo Louro, por você tê-lo "ajeitado".
Abraço,
Elmar


Julguei oportuno publicar o e-mail abaixo, na verdade uma verdadeira crônica memorialística, que me foi enviado pelo Dr. Orlando Martins Pinheiro, digno magistrado, hoje inativo, maçom da melhor cepa, e escritor e jornalista, assim como seu saudoso pai, Hermes Pinheiro:

Caro amigo Elmar.

Aqui estou para dizer que atendi a sua recomendação.

Na qualidade de leitor assíduo do seu blog, apressei-me em abrir o link - A Banca do Louro - que me transportou para Parnaíba de outrora quando era Caixeiro Viajante. Além da banca, onde adquiria algumas revistas da minha predileção, a sua crônica me levou à nostalgia daqueles bons tempos. Não sei se era o Bar do Augusto que eu frequentava de vez em quando. Mas vislumbrei, mentalmente, as agências do Banco do Nordeste e Banco do Brasil, onde fazia a transferência das importâncias recebidas; da Farmácia Bacelar, de propriedade do probo e saudoso Raul Furtado Bacelar, parece-me que hoje transformada por sua família em um memorial, plenamente merecido e justificado; a Loja Rosemary, do Grupo Marc Jacob; a Igreja Matriz, onde fazia, sempre que possível, as minhas orações: o Cine Éden onde assisti alguns bons filmes; a própria praça bem cuidada onde passeava e flertava à noite, enlevado pela brisa que vinha do mar.

Hospedava-me no Palace Hotel, gerenciado pelo simpático espanhol Fernando Esposito, coadjuvado pelos recepcionistas Farias e Chico. Lá saboreei a melhor casquinha de caranguejo. Até hoje não comi nenhuma, pelo menos parecida. Ficava situado logo atrás da Praça da Graça, mais precisamente na Avenida Getúlio Vargas, bonita de se ver, com  aqueles prédios antigos e bem conservados, testemunho eloquente da nossa própria história através de Simplício Dias que encabeçou a Independência do Piauí. Lembro-me da Casa Inglesa, do grupo James Frederick Clark. Dos estabelecimentos Casa Morais e Morais Importação, Ranulfo Torres Raposo e a Farmácia Parnaibana, do honrado e simpático farmacêutico José de Arimateia Basto Rebelo que dizia que o lema de seu estabelecimento era: "Farmácia Parnaibana, pobre porém honrada".  

Lembrei-me, igualmente, dos farmacêuticos e comerciantes Themístocles Frederico da Ponte, Francisco de Assis Cajubá de Brito, Adauto Sampaio e Vicente de Paula. Vislumbrei mentalmente a Santa Casa de Misericórdia de Parnaíba onde prestavam serviços os médicos Armando Cajubá de Brito, José Mendes Cerqueira, Raimunda Nonata, Equililérico Nogueira, João de Deus Silva, Mariano Lucas de Sousa, Cândido de Almeida Athayde e Carlos Araken. Tinha em seus quadros de colaboradores as piedosas freiras que prestavam seus valiosos serviços gratuitamente e um simpático administrador que, infelizmente, mão me recordo o nome, era, também contador que, naquela época era chamado de Guarda Livros, da firma de Ranulfo Torres Raposo. Podia-se sentir o cheiro de limpeza ao passar nas imediações da Santa Casa. Tinha, ainda, a Casa de Saúde e Maternidade Dr. Manoel de Brito e o Hospital e Maternidade Dr. Marques Basto, de propriedade dos médicos Mirocles de Campos Veras e Edgar dos Santos Veras, pai e filho, respectivamente.

Eu era muito jovem e adquiri muita experiência na época, seja pelo exemplo dos meus colegas mais antigos no ramo, seja pela maneira fidalga e educada que era recebido, tanto por farmacêuticos quanto pela classe médica.

Vislumbrei a zona do meretrício, donde se destacava a Boite Cinelândia e a Boite da Alzira, Creio que existiam outras "casas  de diversões", mas o tempo varreu os nomes da minha memória. O tempo que traz gratas recordações, embota muitas delas corroídas pelos longos anos vividos que me afastam daquela fase da minha vida Tenho certeza que estou sendo injusto em não me lembrar dos nomes de diversas outras pessoas, dignas e merecedoras de elogios. Pode ser que, em tempo oportuno, a cortina se abra para maiores e sentimentais devaneios.

Com o afetuoso abraço do seu amigo e admirador.

Orlando Martins Pinheiro


Teresina, 29 de julho de 2016

2 comentários:

  1. Depois desta, dizer mais o quê, meu amigo?
    Um belo relato sobre a velha Parnaíba de outrora. Fiquei encantado com texto, lavrado com ótimo poder de síntese.

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  2. Como diria um pernóstico, porém veraz: o doutor Orlando se houve com invulgar maestria.

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