O PREÇO DA MOCIDADE
Jacob Fortes
A mocidade é transbordante de
entusiasmo, de ânimo, de vontade. É tão vicejante quanto a verdura que recebe a
rega. É vaidosa, faceira, radiante, ágil, garrida, eventualmente descuidosa,
inquieta; tem charme e é pródiga em fantasias. A mocidade, por vezes cheia de
jactância e fatuidade, esgrima fácil, até com um guarda-chuva à mão. Enquanto
as luzes intermitentes de uma árvore de natal retratam a inquietação da
mocidade a luz melancólica de uma lamparina exprime a quietude da velhice.
Porém, o fulgor da juventude não se dá por gratuidade, não constitui brinde do
Rei da criação: tem um preço; a ser pago depois do recreio. Os anos, por demais
conspirativos, se encarregarão de enviar a fatura. Com sua ação pachorrenta,
mas deletéria, vão dissipando a jovialidade e, ao mesmo tempo, cerzindo uma
nova roupagem, uma pele cada dia mais gasta, mais surrada. A nova roupagem, progressivamente esgarçada,
em vez de irar é aceita resignadamente. E quando as feições formosas dão lugar
à pele engelhada, inicia-se o pagamento da primeira parcela; nem precisa ir ao
banco. A fase desditosa, de sabor acre,
diferentemente do gosto doce da mocidade, chegará para todos, num rigoroso
encontro de contas. É nessa fase, de fragilidade, de muito reflexionar, que a
verdade, irrecusável, do “Camões Brasileiro” já não assusta, não agride:
“Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à
frente,
E vão ficando atrás os
desenganos.
Rindo e cantando, célebres,
ufanos,
Vamos marchando descuidosamente..
Eis que chega a velhice, de
repente,
Desfazendo ilusões, matando
enganos.
Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e
falaz,
E vemos que sucede, exatamente,
O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à
frente,
E as esperanças vão ficando
atrás”.
Peço desculpas aos nobres
leitores se, eventualmente, os assusto com esta página rugosa, puxada ao
cinzento, e que, inclusive, faz pensar ter sido redigida com pena embebida no
líquido do desencanto, mas, não, tinteiro mesmo. “Que Deus fecunde no coração e
na mente...........a fé e o amor, como forma de transfigurar essa sociedade tão
desfigurada pelo ódio e pela violência e tão necessitada de paz, justiça e
amor” e que se mantenham todos imunes à onda de marmotas que, por vezes em
manadas, surgem de todas as paragens, inclusive do estrangeiro, com o firme
propósito de grudar no cangote dos cristãos, preferivelmente naqueles
despojados da intrepidez da mocidade.
A ação deletéria do tempo pode
até degradar o corpo, mas que prepondere a credibilidade das mentes sem
histórico de condutas reprováveis. É que ainda não se descobriu refúgio mais
seguro do a mente desabitada de registro reprovativo.
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