sexta-feira, 8 de julho de 2016

O PREÇO DA MOCIDADE


O PREÇO DA MOCIDADE

Jacob Fortes

A mocidade é transbordante de entusiasmo, de ânimo, de vontade. É tão vicejante quanto a verdura que recebe a rega. É vaidosa, faceira, radiante, ágil, garrida, eventualmente descuidosa, inquieta; tem charme e é pródiga em fantasias. A mocidade, por vezes cheia de jactância e fatuidade, esgrima fácil, até com um guarda-chuva à mão. Enquanto as luzes intermitentes de uma árvore de natal retratam a inquietação da mocidade a luz melancólica de uma lamparina exprime a quietude da velhice. Porém, o fulgor da juventude não se dá por gratuidade, não constitui brinde do Rei da criação: tem um preço; a ser pago depois do recreio. Os anos, por demais conspirativos, se encarregarão de enviar a fatura. Com sua ação pachorrenta, mas deletéria, vão dissipando a jovialidade e, ao mesmo tempo, cerzindo uma nova roupagem, uma pele cada dia mais gasta, mais surrada.  A nova roupagem, progressivamente esgarçada, em vez de irar é aceita resignadamente. E quando as feições formosas dão lugar à pele engelhada, inicia-se o pagamento da primeira parcela; nem precisa ir ao banco.  A fase desditosa, de sabor acre, diferentemente do gosto doce da mocidade, chegará para todos, num rigoroso encontro de contas. É nessa fase, de fragilidade, de muito reflexionar, que a verdade, irrecusável, do “Camões Brasileiro” já não assusta, não agride:

 “Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, célebres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente..
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás”.

Peço desculpas aos nobres leitores se, eventualmente, os assusto com esta página rugosa, puxada ao cinzento, e que, inclusive, faz pensar ter sido redigida com pena embebida no líquido do desencanto, mas, não, tinteiro mesmo. “Que Deus fecunde no coração e na mente...........a fé e o amor, como forma de transfigurar essa sociedade tão desfigurada pelo ódio e pela violência e tão necessitada de paz, justiça e amor” e que se mantenham todos imunes à onda de marmotas que, por vezes em manadas, surgem de todas as paragens, inclusive do estrangeiro, com o firme propósito de grudar no cangote dos cristãos, preferivelmente naqueles despojados da intrepidez da mocidade.

A ação deletéria do tempo pode até degradar o corpo, mas que prepondere a credibilidade das mentes sem histórico de condutas reprováveis. É que ainda não se descobriu refúgio mais seguro do a mente desabitada de registro reprovativo.    

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