segunda-feira, 17 de outubro de 2016

POLÍTICA PARNAIBANA A PARTIR DE 1950 (Parte III)

Elias Ximenes do Prado

POLÍTICA PARNAIBANA A PARTIR DE 1950 (Parte III)

Alcenor Candeira Filho

III.            A N O S 70 E 80 

•             PRESIDENTES DA REPÚBLICA NO PERÍODO
                            - 15-03-1974: posse de Ernesto Geisel
                            - 15-03-1979: posse de João Figueiredo
                            - 15-03-1985: posse de José Sarney

A)             PREFEITO CARLOS FURTADO DE CARVALHO

          Carlos Carvalho foi empresário por vocação e político por acaso e por pouco tempo.
          Sem nunca ter disputado cargo eletivo, venceu a primeira e única eleição de que participou como candidato, elegendo-se prefeito com o apoio de Alberto e João Silva para um mandato de dois anos: 1971 a 1972. Concorrente: Elias Ximenes do Prado.
          Sua administração voltou-se sobretudo para o     embelezamento da cidade e  para o aprimoramento dos serviços de limpeza pública.
          Uma das obras mais lembradas: recuperação e asfaltamento da estrada para a Pedra do Sal.

B)             PREFEITO ELIAS XIMENES DO PRADO

              Elias Ximenes é um cearense que veio para Parnaíba em 1934, com nove anos de idade.
        Trajetória política vitoriosa: várias vezes vereador e deputado estadual e um mandato de prefeito.
          Participei da campanha eleitoral de 1972 quando iniciava a vida profissional como advogado e professor e apoiei publicamente a candidatura de Elias a prefeito pelo MDB. A ARENA era o outro partido.  Época do bipartidarismo ditatorial. Elias derrotou o deputado estadual Francisco das Chagas Ribeiro Magalhães, que teve o apoio dos governos federal (Garrastazu Médici), estadual (Alberto Silva) e municipal (Carlos Carvalho).
          Dentre os políticos tradicionais Elias foi apoiado, embora discretamente, pelos irmãos Caldas Rodrigues, cassados e perseguidos pelo regime militar.
          No plano federal Elias Ximenes contava com a simpatia e a velha amizade do Ministro João Paulo dos Reis Velloso, que vem dos tempos de militância integralista, ao lado dos professores José Rodrigues, José Nelson de Carvalho Pires e outros.
          Contudo, a participação ativa e vibrante de profissionais liberais em início de carreira em Parnaíba é que foi determinante na vitória do candidato da oposição. Lembro alguns, quase todos médicos: Mão Santa,  Mário Lages Gonçalves, Paulo Lages Gonçalves, Valdir Aragão, Joaquim Narciso de Oliveira Castro, Roberto Broder.
          O apoio do grande advogado Celso Barros Coelho, deputado estadual cassado em 1964 pela Assembleia Legislativa do Estado do Piauí, foi também importantíssimo na campanha, especialmente pelos serviços profissionais que prestou ao candidato do MDB.
          Alguns seguidores de Elias sofreram ameaças de prisão feitas pelo Delegado Geral de Polícia em Parnaíba, o promotor de carreira Genez de Moura Lima.
          O juiz de direito Walter de Carvalho Miranda, que não admitia arbitrariedades, concedeu vários habeas corpus preventivos em favor dos ameaçados.
          Em depoimento transcrito no livro POLÍTICA: TEMPO E MEMÓRIA, de Celso Barros Coelho (Teresina, Academia Piauiense de Letras/Bienal Editora, 2015), desabafa Elias Ximenes do Prado:

                                                    “Durante a apuração, com a contagem nominal das cédulas pelo juiz, o governo usou de todos os meios para alterar o resultado da eleição não conseguindo em razão da corajosa posição do juiz e da defesa assumida prontamente pelo advogado Celso Barros Coelho.
                          A luta não termina. Desesperados o Governador e o candidato iniciaram um processo na Justiça Eleitoral para barrar a diplomação do candidato eleito . Na defesa mais uma vez se alteia aquele advogado, ocupando a tribuna daquele Tribunal para denunciar o embuste, com argumentos assentados na lei e na jurisprudência do Tribunal” (p. 115/116).
          Elias Ximenes administrou a cidade no período de 1973 a 1976, com muitas realizações, destacando-se:
          - implantação do Sistema Popular de Administração, com Gabinete para receber a população
           - Construção da sede do Tiro de Guerra
          -Construção de escolas
          - Implantação do Pronto Socorro Municipal
          - Pavimentação de ruas e avenidas
          - Abertura e pavimentação da avenida São Sebastião a partir da rua Tabajaras até o aeroporto
          - Construção da sede da Prefeitura, na Praça da Graça.     

C)             PREFEITO JOÃO BATISTA FERREIRA DA SILVA

                    Para um mandato de seis anos disputaram a  eleição para prefeito em 1976 o jornalista e servidor público federal João Batista Ferreira da Silva e o médico Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa, que teve o meu apoio.
Batista Silva obteve um leque de apoios inimaginável: José Alexandre e Chagas Rodrigues, Alberto e João Silva, Elias Ximenes, Cândido Athayde, Ribeiro Magalhães, Roberto Broder. O importante era derrotar Mão Santa, nem que fosse necessário unir os que sempre foram desunidos politicamente.
          Dentre as lideranças políticas consolidadas Mão Santa só contou com Lauro Andrade Correia e Antônio José de Moraes Souza. Resultado: vitória expressiva de Batista Silva.
          Na longa administração de Batista Silva houve pontos positivos e negativos.
          Principais pontos positivos:
          - municipalização da Escola Roland Jacob
          - construção e restauração de estradas
          - construção do Terminal Rodoviário
           - construção de mercados
           - incentivo ao turismo
          - construção de escolas.

          O principal ponto negativo foi a destruição e reconstrução da Praça da Graça.
          O ato impensado do prefeito provocou grande revolta na população que na madrugada de 31 de agosto de 1979 ateou fogo nos tapumes que cercavam e escondiam a praça destroçada.
          O professor Benedito Jonas Correia externou sua revolta em artigo publicado em Caderno Especial do INOVAÇÃO, edição de setembro de 1979. Eis parte do artigo:

“É inadmissível a realização de reformas em praças,  parques e jardins, pela simples vaidade de reformar, sem  no entanto, atender ao valor histórico desses logradouros públicos.    O passado grandioso traz reminiscências grandiosas. O patrimônio histórico, quando preservado, nos seus estilos primitivos, são verdadeiras paisagens de amor e de vida para a cultura de   um povo. A sua destruição será, pois, a desolação, a morte do sentimento cívico, a tristeza de recordações imperecíveis.
                              Muitas vezes, o homem do momento, totalmente ignorante, dotado de imbecilidade integral, não pode compreender o vínculo sentimental que une as gerações, no amor à terra natal. É o caso do infeliz demolidor da Praça da Graça, o sr. Batista Silva.
                              O recente episódio da Praça da Graça tem muito que ver com a nossa história. Primeiro, uma simples pergunta:  os bancos, a pérgula, os valiosos postes de iluminação, onde estão?  Tudo isso é história.
                                                      (...)
                              Devemos sentir na manifestação popular de 31 de agosto passado, reflexos sócio-culturais  da gente parnaibana. Não houve vandalismo, houve, sim, um grito de alerta , sentido, vivido, necessário, e que ficará assinalando um acontecimento de real valor na vida de um povo que ama sua história, que honra seus antepassados, que preza seu patrimônio.

                              A destruição da Praça da Graça, isso, sim, foi puro vandalismo, e o responsável é o sr. Batista Silva, prefeito de Parnaíba,  -  verdadeiro inimigo da nossa Praça mais representativa.”

Continua na próxima semana

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