Fazenda Bocaina
Reginaldo Miranda
Ex-Presidente da Academia Piauiense
de Letras
O povoamento das cabeceiras do riacho
Guaribas data de princípio do século XVIII, quando ali fincou a caiçara dos primeiros
currais e apascentou seu rebanho, o coronel Antônio Borges Marim(1680 – 1749).
Oriundo de Portugal, o coronel Borges
Marim era um respeitado militar que serviu no reino e, depois, nas tranqueiras
de Saibana, em Baçaim, hoje Vasai-Virar, porto no extremo sul de uma ilha
localizada a 50km de Bombaim, no noroeste da Índia, onde foi graduado ao posto
de coronel de ordenanças em 23 de novembro de 1701. Nesse mesmo ano foi mandado
para atuar nas vilas de Santo Antônio de Itabaiana, hoje em Sergipe, e Santo
Amaro, na Bahia. Por volta de 1712, com cerca de 32 anos de idade viera em
missão militar, para combater os indígenas do sudeste do Piauí e proteger os
currais que se iam instalando pelos colonizadores lusitanos. Em 1714, segundo
relata o padre e historiador Cláudio Melo, ele meteu de paz e aldeou no lugar
Cajueiro os índios Jaicós. Os indígenas demoraram pouco tempo no aldeamento,
logo mais se rebelando e entrando novamente na mata íngreme.
A sua fazenda se situava entre serras
assemelhadas a uma boca, onde nasce uma das vertentes do referido riacho, por
isso recebendo o nome de Bocaina. Foi nesta localidade que o aludido militar
fixou residência, juntamente com sua esposa Maria de Sousa e parentes que o
acompanhavam nas missões militares, sobretudo alguns sobrinhos, a exemplo de
Félix Borges Leal. Este último, mais tarde se estabeleceria na vizinha fazenda
Curralinho, da mesma ribeira e deixaria enorme descendência. Portanto, é esta a
gênese de Bocaina, hoje cidade de mesmo nome.
Não sabemos ao certo quando faleceu o
coronel Antônio Borges Marim, o velho colonizador, embora haja registros de que
tenha sido no ano de 1749, já velho e doente. Foi ele casado com a senhora
Maria de Sousa, que lhe sobreviveu. Um filho do casal, Antônio Borges Marim, o
moço, nascido em 1746, continuaria a carreira militar do pai e desempenharia
saliente papel na vida pública, tendo sido vereador de Oeiras por diversas
vezes, a cujo termo pertencia a fazenda e membro de uma junta de governo do
Piauí(1791).
Depois da morte do velho militar
português, a viúva Maria de Sousa convolaria novas núpcias com Gonçalo
Rodrigues de Brito, que sucederia o primeiro consorte de sua esposa na
administração da fazenda. Uma relação de todos os possuidores de terras do
Piauí, elaborada em 16 de novembro de 1762, pelo conselheiro Francisco
Marcelino de Gouveia, esclarece esse situação: “Gonçalo Rodrigues de Brito,
possue hua fazenda na mesma ribeyra(do Itaim, em que vão incluídas as de
Guaribas e Riachão), chamada a Bocayna, com três legoas de comprimento e hua de
largura, a qual possuía o coronel Antonio Borges Marim, por morte do qual
pertenceo a sua mulher, que hoje é do atual possuidor”.
Segundo consta no Censo Descritivo do
Piauí, finalizado em 6 de junho de 1765, naquele tempo residia na fazenda da
Bocaina, a viúva Maria de Sousa com o segundo esposo Gonçalo Rodrigues e dois
filhos seus, Antônio Borges Marim, o moço, e Anna Borges, acompanhados de
quatro escravos, cinco escravas, a mulatinha forra Izabel e mais o casal
Quitério Luciano e sua mulher Antônia de Sousa. É a população de então, na
Bocaina.
Com essas notas fica esclarecido que
existiram dois Antônio Borges Marim, pai e filho; que sua esposa casou-se duas
vezes, e ao que parece deixou filhos de ambos os leitos; que o senhor de
Bocaina, que aparece nos registros históricos ao tempo da capitania e dos
primeiros governos, de que tomou parte, é o segundo de mesmo nome. E essas
notas são publicadas para o resgate das origens mais remotas de um promissora
comuna piauiense, a hoje cidade de Bocaina, na região de Picos.
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