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A Pedro Costa
Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Conheci mestre Pedro Costa – era
assim que o chamava – lá por volta de mil, novecentos e oitenta e cinco do
século passado. Frequentava eu uma churrascaria na zona leste, - localizada em
frente ao que hoje é o DNIT, depois de haver sido NOVATERRA e VEMOSA,
revendedoras autorizadas Volkswagen – que, a propósito, servia o melhor
“arrumadinho de carne de sol” da cidade, além de “paçoca” e “picanha” nacional
excelentes.
Naquele período, enquanto
degustávamos quitutes da casa, não raras vezes, na presença, mais que
companhia, do recluso amigo de escola, professor e contista Airton Sampaio,
Pedro Costa circulava de mesa em mesa -
dali e de alhures, certamente - cantando seu repente e vendendo cordéis.
A picanharia mudou de endereço,
deixei de frequentá-la no novo e perdi de vista, por um tempo, Pedro Costa, que
continuou com seu repente, enquanto assumia outros misteres: ator teatral; na
organização de eventos envolvendo a poesia repentista e seus cantadores;
enveredou pelo marketing, unindo-se a humoristas que despontavam no cenário
artístico da capital, fazendo propagandas e tecendo loas. Até que criou, passou
a editar, distribuir e buscar patrocínio para a Revista De Repente; não satisfeito,
meteu-se na constituição da Fundação Nordestina do Cordel (FUNCOR). Com esses
empreendimentos, ganhou diversos prêmios e comendas Brasil afora, que
contribuíram para que se transformassem em importantes monumentos à cultura
popular da cidade, do estado e do país. Passou o poeta a ser requisitado para,
com seu repente, panfletar, disseminar e tornar públicas diversas ações do
poder público, notadamente, nas áreas de educação e saúde.
Adoeceu, ou melhor,
descobriu-se doente, primeiramente, das vias superiores: caro lhe custou,
inclusive, financeiramente, um tratamento ocular, ao qual superou com
desagradáveis consequências. Turrão, tinha – pelo menos foi isso que percebi em
incontáveis conversas que tivemos – verdadeira ojeriza por medicamentos
alopáticos: considerava-os veneno e não antídoto para doenças; certamente,
somente deles se utilizava porque apesar de teimoso e ranzinza tinha grande
amor pela vida que esperava tê-la em tempo bastante para ver concluídos os
projetos em que se envolvia.
Mas eles eram tantos que a
natureza – ou o criador que, também, por vezes chegou a ser objeto de
particular contestação por parte do poeta – resolveu não esperar e o levou no
curso de muitos deles já em fase de execução.
Dizem que ninguém é insubstituível. Tal
premissa terá uma chance de se provar verdadeira, a partir de agora, com a
partida prematura e inesperada de Pedro Costa, em relação aos seus
empreendimentos, sonhos, anseios e desejos. Vamos poder constatar como – ou se
– sobreviverão, sem ele, obras que possuem sua cara, seu modo de ser e de agir,
dentre outras: a Revista de Repente, circulando, ininterruptamente, há mais de
duas décadas; e a própria Fundação Nordestina do Cordel, ancoradouro e porto
seguro de tantos que a ela recorreram. Terão seus “discípulos” ou “seguidores”
força e estômago fortes o suficiente para tocarem em frente tais instituições?
Levando as mesmas bordoadas ouvindo, tantas vezes, os mesmos “nãos” ou os
“sins” dissimulados, já que a pretensão era meramente livrar-se dos pedidos
formulados pelo insistente poeta? Não vai ser fácil: esta é certeza; senão,
verdade absoluta.
Outra verdade inquestionável é
que a cultura popular do estado do Piauí perdeu um esteio, um baluarte, alguém
que dava a cara a tapas e, dificilmente, desistia. Um sujeito batalhador; um
guerreiro, nada quixote.
Pedro Nonato da Costa, imortal
das Academias Brasileira e Piauiense do Cordel, da Academia de Letras do Longá,
presidente da Fundação Nordestina do Cordel; um dos mais bem-sucedidos
criadores, produtores e editores do “cordel” engajado, funcional, porta-voz de
ações de estado, no nordeste brasileiro.
Velho companheiro de bons papos e de
discussões saudáveis, alegres e prazerosas, isso lá era hora de partir? Por que
a pressa, meu camarada?
Mas se teve que ser assim, só
podemos nós, seus amigos que ficaram, esperarmos que sua obra continue viva,
forte, vicejante e viçosa: a cultura popular local e regional precisam disso.
Sua memória estará com e nelas, mestre. Descanse em paz. Aos que ficam, mãos à
obra!
Fonte: portal Entretextos
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