Antenor Rêgo e seu dicionário de
“Piauiês”
Elmar Carvalho
Logo no início de seu prefácio, o
escritor Ribamar Garcia consigna: “Há uma lei estadual, de iniciativa da
ex-deputada Margarete Coelho, que instituiu o ‘Piauiês’ como Patrimônio
Cultural Imaterial do Estado do Piauí. E o define como sendo a pronúncia
característica do falar do piauiense, ‘bem como as palavras e expressões
típicas do estado’”. A obra em comento é uma maneira de preservar e difundir
esse patrimônio. A autora da lei foi minha colega no curso de Direito (UFPI) e
é a atual vice-governadora de nosso estado.
Antenor Rêgo Filho é autor de vários
e importantes livros. Foi um dos fundadores da Academia de Letras do Vale do
Longá – ALVAL, da qual foi presidente em mais de um mandato. Numa de suas
gestões a entidade obteve a sua sede própria, em cuja inauguração festiva
estive presente. Já tive o ensejo de me pronunciar sobre “Barras – histórias e
saudades”, notável obra de sua autoria sobre a história barrense, suas
“coisas”, seus prédios, logradouros e seus costumes.
Em seu Dicionário do Piauí – a língua
piauiense, de 160 páginas, estão catalogados em forma de verbetes, conforme
consta na capa, o linguajar, as expressões, as sabenças, os falares, os
costumes e as curiosidades de nosso povo. Segundo ele próprio me informou,
passou vários anos à cata desses vocábulos, expressões e ditados regionalistas,
notadamente de nosso estado. Quando em conversa com amigos e diferentes pessoas,
anotava as palavras e expressões que lhe interessavam. De outras ia à procura,
em livros e em indagações pessoais.
Muitas são bem conhecidas, mas algumas
são quase inauditas, mesmo para um leitor atento e curioso como eu. Nos
verbetes, quando é o caso, ele indica os seus sinônimos ou o seu significado,
muitas vezes exemplificando com frases entre aspas, que facilitam a exata
compreensão. Em outros casos, explica a origem da expressão que se tornou
popular. Termina contando fatos interessantes e pitorescos de forma sucinta,
como convém a um dicionário.
Não raras vezes somos surpreendidos
pela explicação ou interpretação de certos ditados, que, vez ou outra, diferem
de nossa própria interpretação ou conhecimento. Mesmo quando isso acontece,
aceitamos a explanação, porque ela segue uma lógica, e, sem dúvida, não se
afasta do que é razoável, crível ou pelo menos verossímil. Não significa dizer
que a nossa interpretação também não fosse razoável ou pautada por um
raciocínio aguçado. É que o dicionarista perquiriu a etimologia do regionalismo
ou o que deu origem à expressão ou ditado, de que muitas vezes não temos
conhecimento.
Algumas expressões, embora tenham
sido muito usadas no passado, hoje estão quase em desuso, e por isso são pouco
conhecidas. Soam como um estranho ou exótico anacronismo que nos remete ao
passado. E por isso aviventam as lembranças e as saudades, trazendo-nos emoções
dos tempos de outrora, que pensávamos esquecidas. Umas têm um fundo moralista,
no bom sentido da palavra, ou podem nos servir de advertência; outras, têm algo
de humor ou de evidente jocosidade.
É um livro de grande importância, não
só para os filólogos e os doutos, mas para todos que amam o Piauí, a sua
cultura, o seu linguajar e costumes, e lhe seguem os usos e fusos, pois, como
sabemos, “cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”.
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