quinta-feira, 23 de março de 2017

Antenor Rêgo e seu dicionário de “Piauiês”


Antenor Rêgo e seu dicionário de “Piauiês”

Elmar Carvalho

Logo no início de seu prefácio, o escritor Ribamar Garcia consigna: “Há uma lei estadual, de iniciativa da ex-deputada Margarete Coelho, que instituiu o ‘Piauiês’ como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Piauí. E o define como sendo a pronúncia característica do falar do piauiense, ‘bem como as palavras e expressões típicas do estado’”. A obra em comento é uma maneira de preservar e difundir esse patrimônio. A autora da lei foi minha colega no curso de Direito (UFPI) e é a atual vice-governadora de nosso estado.

Antenor Rêgo Filho é autor de vários e importantes livros. Foi um dos fundadores da Academia de Letras do Vale do Longá – ALVAL, da qual foi presidente em mais de um mandato. Numa de suas gestões a entidade obteve a sua sede própria, em cuja inauguração festiva estive presente. Já tive o ensejo de me pronunciar sobre “Barras – histórias e saudades”, notável obra de sua autoria sobre a história barrense, suas “coisas”, seus prédios, logradouros e seus costumes.

Em seu Dicionário do Piauí – a língua piauiense, de 160 páginas, estão catalogados em forma de verbetes, conforme consta na capa, o linguajar, as expressões, as sabenças, os falares, os costumes e as curiosidades de nosso povo. Segundo ele próprio me informou, passou vários anos à cata desses vocábulos, expressões e ditados regionalistas, notadamente de nosso estado. Quando em conversa com amigos e diferentes pessoas, anotava as palavras e expressões que lhe interessavam. De outras ia à procura, em livros e em indagações pessoais.

Muitas são bem conhecidas, mas algumas são quase inauditas, mesmo para um leitor atento e curioso como eu. Nos verbetes, quando é o caso, ele indica os seus sinônimos ou o seu significado, muitas vezes exemplificando com frases entre aspas, que facilitam a exata compreensão. Em outros casos, explica a origem da expressão que se tornou popular. Termina contando fatos interessantes e pitorescos de forma sucinta, como convém a um dicionário.

Não raras vezes somos surpreendidos pela explicação ou interpretação de certos ditados, que, vez ou outra, diferem de nossa própria interpretação ou conhecimento. Mesmo quando isso acontece, aceitamos a explanação, porque ela segue uma lógica, e, sem dúvida, não se afasta do que é razoável, crível ou pelo menos verossímil. Não significa dizer que a nossa interpretação também não fosse razoável ou pautada por um raciocínio aguçado. É que o dicionarista perquiriu a etimologia do regionalismo ou o que deu origem à expressão ou ditado, de que muitas vezes não temos conhecimento.

Algumas expressões, embora tenham sido muito usadas no passado, hoje estão quase em desuso, e por isso são pouco conhecidas. Soam como um estranho ou exótico anacronismo que nos remete ao passado. E por isso aviventam as lembranças e as saudades, trazendo-nos emoções dos tempos de outrora, que pensávamos esquecidas. Umas têm um fundo moralista, no bom sentido da palavra, ou podem nos servir de advertência; outras, têm algo de humor ou de evidente jocosidade.


É um livro de grande importância, não só para os filólogos e os doutos, mas para todos que amam o Piauí, a sua cultura, o seu linguajar e costumes, e lhe seguem os usos e fusos, pois, como sabemos, “cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso”.

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