BIBLIOTECAS PARNAIBANAS E GABINETE DE LEITURA RANULPHO TORRES RAPOSO
Alcenor Candeira Filho
I.
BIBLIOTECAS
PARNAIBANAS
Apesar de ser uma das cidades do Nordeste brasileiro de grande tradição
cultural, tendo hoje diversas faculdades públicas e privadas (inclusive duas de
medicina), com cerca de treze mil estudantes universitários, - Parnaíba é
dotada de poucas bibliotecas, destacando-se pelo acervo de livros e revistas,
organização, direção e atendimento ao público a do SESC/CAIXEIRAL e a do Campus
Ministro Reis Velloso/Universi - Federal do Piauí.
Na administração de Mirocles de Campos Veras,foi inaugurada em
19.04.1942 a Biblioteca Pública Municipal, que leva o nome desse grande médico
e administrador, organizada e estruturada pelo secretário do município,
professor Benedicto Jonas Correia, que adotou, de acordo com as instruções do
Instituto Nacional do Livro , o Sistema de Classificação Decimal Dewey, então o
mais difundido e conhecido como classificação universal.
Ao longo de 75 anos de existência
a biblioteca pública de Parnaíba mereceu pouca atenção dos gestores municipais,
encontrando-se atualmente em precárias condições de instalação e funcionamento
e com acervo completamente desatualizado e desorganizado, além de pouco
frequentada pela população.
Em qualquer cidade, especialmente nas que possuem poucos espaços
culturais, como ocorre em Parnaíba, a biblioteca pública deveria ser a
instituição cultural mais importante no município.
Pelo acesso fácil e direto, as
bibliotecas concorrem para a formação de leitores e promoção do hábito de
leitura, indispensáveis à informação e à transmissão de conhecimentos.
A missão essencial de centro de difusão cultural de uma cidade só pode ser
cumprida se suas bibliotecas dispuserem de acervo constantemente renovado com
publicações de diversos gêneros artísticos, científicos e filosóficos, bem como
com equipamentos e funcionários suficientes para mantê-las em funcionamento.
A biblioteca moderna necessita não apenas de bom acervo de livros e
revistas, mas também precisa ser informatizada de modo a propiciar aos
frequentadores pesquisas na internet e acesso a CDs e DVDs.
II. A
BIBLIOTECA NO PLANO DECENAL DE CULTURA DE PARNAÍBA
O Plano Decenal de Cultura de Parnaíba – 2015/2020 reconhece a precariedade de nossa biblioteca pública:
“O município de Parnaíba possui diversas bibliotecas municipais, sendo a principal uma localizada no centro histórico, em condições precárias, sem iluminação adequada, estantes quebradas, ausência de climatização apropriada, livros velhos, rasgados, edições desatualizadas, sem ficha catalográfica e sem um sistema de catalogação informatizado.”
No que se refere à Biblioteca Pública Municipal e às de escolas da rede pública, o Plano Decenal de Cultura estabelece como principais
metas:
“- Reformar com a máxima urgência a Biblioteca Pública Municipal de Parnaíba, conforme as normas de segurança, climatização, biblioteconomia, catalogação de livros, informatização de acervos para consultas, empréstimos, devoluções, etc.;
- Ampliar o número de atendimentos através do aumento de unidades pela cidade de bibliotecas, informatizando acervos, ampliando a quantidade de livros e otimizando recursos para revitalizar o acervo clássico de toda a rede de bibliotecas municipais da cidade;
- Desenvolver projetos que dinamizem o espaço das bibliotecas como: espaço de áudio/vídeo, saraus, oficinas e workshops, rodas de leitura e contação de histórias, debates literários, palestras etc., com programação divulgada na agenda cultural da cidade.”
Como esse Plano, aprovado pela Lei nº 3011, de 10.08.2015, terá vigência
até 2025, fica a esperança de que tais
metas sejam alcançadas.
III.
A
BIBLIOTECA NO PLANO NACIONAL DE CULTURA
Segundo o livro AS METAS DO PLANO NACIONAL DE CULTURA (Ministério da
Cultura, outubro de 2013, 3ª edição), “a pesquisa ‘Retratos da leitura no
Brasil’, realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2007, revela que a média anual
de leitura da população brasileira, fora do que é solicitado pela escola, é de
1,3 livros. Esse é um número considerado baixo, em comparação com outros
países. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 2006, a média de leitura fora da
escola era de 5,1 livros por ano. Na França, a média foi de 7 livros lidos, na
Inglaterra 4,9 e na Colômbia 2,4”.
O Plano Nacional de Cultura (Lei
nº 12.343, de 02.12.2010), com duração de 10 anos, apresenta na área de
bibliotecas as seguintes metas a serem
alcançadas até 2020:
“- Média de quatro livros lidos fora do aprendizado formal por ano, por
cada brasileiro;
- 100% dos municípios brasileiros com ao menos uma biblioteca pública em
funcionamento;
- 50% de bibliotecas públicas modernizadas;
- 100% de bibliotecas públicas disponibilizando informações sobre seu
acervo no SNIIC (Sistema Nacional de Informatizações e Indicadores Culturais).”
IV.
GABINETE
DE LEITURA RANULPHO TORRES RAPOSO
Ranulpho Torres Raposo, natural de Miguel Alves-Pi, nasceu em
28.05.1900, passando a residir em Parnaíba com quatro anos de idade, cidade em
que viveu, com pequeno período de ausên- cia, até o falecimento em 23.09.1980.
Casado com Benedita do Rego Torres, com quem teve cinco filhos: Maria
José, Alba, Florice, Ranulpho e Socorro.
Empresário bem sucedido, fundou a empresa de representações, comissões e consignações
Ranulpho Torres Raposo, com filial em Fortaleza.
Ranulpho foi dirigente de diversas entidades: presidente da Associação
Comercial de Parnaíba, fundador e presidente do Rotary Clube de Parnaíba,
presidente da Companhia de Luz e Força de Parnaíba, presidente da Federação do
Comércio Ata-
cadista do Piauí, presidente do
Conselho Regional do SESC no Piauí, tendo sido ainda membro fundador de várias
entidades culturais: Cenáculo Piauiense, Grêmio Literário Dramático Jonas da
Silva e Jornal do Comércio de Parnaíba.
Foi diretor-proprietário do ALMANAQUE DA PARNAÍBA (fundado por Benedicto
dos Santos Lima em 1924, que o manteve até 1941) no período de 1942 a 1982, com
41 edições ininterruptas. Patrono da Cadeira nº 29 da Academia Parnaibana de
Letras-APAL. Publicou: “A Bacia do Parnaíba”, “A Navegabilidade do Rio
Parnaíba” e “Lar Paterno”.
Dedicado à família, aos amigos e ao trabalho, guardo nitidamente na memória,
já que morava bem próximo de seu estabelecimento comercial, na avenida
presidente Vargas, a imagem do senhor elegante, que não dispensava paletó e
gravata, deslocando-se de segunda a sábado de sua residência na rua coronel
José Narciso para o escritório comercial, em passos vagarosos mas firmes. Logo
reconhecido, dificilmente se detinha, mas para todos transmitia um gesto de
simpatia e uma palavra amável. Como
dirigente do SESC no Piauí, poderia dispor facilmente de automóvel e motorista
para o trajeto de casa para o trabalho e deste para casa, mas preferia fazê-lo
a pé.
Teve atuação marcante na construção do Parnaíba Pálace Hotel, do
SESC na av. pres. Vargas e do SESC na
beira rio. Definitivamente, foi um grande cidadão que até hoje não recebeu uma
homenagem à altura de sua trajetória de vida.
Faço essas referências ao senhor
Ranulpho para me reportar a um importante empreendimento a que vem se dedicando seu neto, o professor
Manuel Domingos Neto, com apoio de familiares, no sentido de dotar Parnaíba de
um espaço cultural – o Gabinete de Leitura Ranulpho Torres Raposo.
Historiador, pesquisador, escritor, deputado federal pelo Piauí
(1089/1991), doutor em História pela Universidade de Paris, superintendente da
Fundação CEPRO (Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí),
vice-presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), professor aposentado da Universidade Federal do Ceará e que já
residiu em Parnaíba, Teresina, Fortaleza, Rio de Janeiro, Londres e Paris, -
Manuel Domingos Neto retornou em 2016 à cidade natal, onde coordena cursos de
doutorado na Universidade Estadual do Piauí-UESPI e se dedica à recuperação do
prédio da avenida presidente Vargas em que seu avô mantinha atividade
empresarial, com o propósito de nele instalar
O Gabinete de Leitura Ranulpho Torres
Raposo.
O Gabinete de Leitura, que deverá ser inaugurado no decorrer deste ano,
vai dispor de um acervo de cerca de sete mil livros e será informatizado. A
coleção completa do ALMANAQUE DA PARNAÍBA, com 69 edições, fará parte desse
acervo.
Para uma cidade de 150 mil habitantes e de grande tradição cultural, mas
de poucas bibliotecas, o Gabinete representará importante conquista.
Parabéns, professor Manel Domingos Neto. Você é um grande cidadão que
honra a cidade natal, o país e a tradição familiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário