Fonte: Google (foto meramente ilustrativa) |
Herança
Paulo Machado (1956)
à artista
plástica Norma Couto
na senador
pacheco 1193 há um poema
onde os
primos, em volta da mesa, guardam suas ânsias
diante das
pastilhas de hortelã.
e o avô na
sala de espera
sonha com o
voo dos pássaros
buscando as
canaranas.
(às vezes de
sobrecenho, fala da guerra de 14,
da gripe
espanhola)
o tio já não
tosse dentro da noite
arranhando
um estranho silêncio
no fim do
corredor
que muito se
assemelha
ao gesto
acanhado dos meninos
com suas
canecas, à espera das cabras.
no verão, da
mesma forma que no poema,
não há lodo
no muro
e as
lagartixas passeiam ao sol.
da nudez das
pedras e do vermelho
arrebenta um
verso
cicatriz
esquecida.
(nesse poema
o difícil
é não ser
trágico)
no quintal,
a erva cidreira cresce
por entre as
rachaduras das lajes,
sussurrando
boatos de revoltas.
na sala de
jantar, o perigo do naufrágio
nas
tradições de há séculos.
há um poema
que rói o tédio,
na senador
pacheco, 1193.
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