quinta-feira, 16 de março de 2017

No Cemitério da Ressurreição


No Cemitério da Ressurreição

Elmar Carvalho

Tendo lido, em determinado site, que o sepultamento do juiz de Direito Samuel Mendes seria às 16 horas, cheguei nesse horário. Contudo, recebi da administração do cemitério o aviso de que a cerimônia fúnebre seria às 17 horas. Em vista disso resolvi olhar as diversas sepulturas, para ver se encontrava a de algum amigo, conhecido ou parente.

Em seguida, fui inspecionar o jazigo que comprei há mais de vinte anos, felizmente ainda virgem, uma vez que minha mãe pediu para ser sepultada em Campo Maior, perto dos túmulos de seu irmão e de sua irmã e cunhado. Quando eu estava lendo sua placa indicativa, vi a uns quarenta metros um homem, que também lia algumas lápides.

Ao aproximar-se de mim, eu lhe disse que estava olhando minha própria sepultura. Notei que ele teve leve sobressalto, mas, quando percebeu que eu não era nenhum fantasma, muito menos alma penada, sorriu e me cumprimentou. Disse-lhe que viera, por equívoco informativo, muito cedo ao sepultamento do colega Samuel. Respondeu-me que laborara no mesmo engano.

Quando fiquei sabendo que ele era de União, onde conhecera o Dr. Samuel, na época em que este fora o titular daquela Comarca, notei que tinha semelhança fisionômica com o jornalista Fenelon Rocha, tendo ele me respondido que era seu irmão. Logo percebi que o advogado Dilson Reis da Rocha tinha profunda consideração, respeito e amizade ao falecido magistrado, por sua capacidade de trabalho, zelo e correção.

Disse-lhe que quando fui juiz substituto em Curimatá tomara conhecimento de que ele servira naquela longínqua Comarca, e que fora um bom e operoso juiz. Quando respondi, por quatro ou cinco meses, pela Comarca de Inhuma, um servidor, vendo meu esforço em tentar manter o serviço em dia, me falou que, pelo meu temperamento e trabalho, tinha semelhança com o Dr. Samuel, que fora, salvo engano, o responsável por sua instalação. Interpretei as palavras do serventuário como um discreto elogio. Tive oportunidade de lhe contar esse espontâneo depoimento.

Prometi ao Dr. Dilson Rocha, que também é procurador da Assembleia Legislativa, que lhe repassaria alguns livros de minha autoria, principalmente Confissões de um juiz. Nesse livro há um retrato de Samuel a meu lado. Através de e-mail, ele acusou o recebimento das obras, e disse que a sua filha, que estava preparando um trabalho acadêmico, não sei se de mestrado, aproveitaria o meu poema Noturno de Oeiras como citação ou epígrafe de algum capítulo.

No serviço fúnebre que antecedeu o enterro, apresentei minhas condolências aos familiares, inclusive sua viúva, que o pranteava, e a seu irmão Emanuel, que fora meu colega no curso de Administração de Empresas, no Campus Ministro Reis Velloso, UFPI-Parnaíba. Na hora melancólica da Ave Maria, em que o Sol tombava na linha do horizonte, entregamos aos cuidados da mãe terra o corpo do digno magistrado Samuel Mendes Morais, cuja expressão facial se mostrava serena, como sereno ele fora em sua vida e no exercício da magistratura.


E sei que a mão de Deus, a mão direita de Deus, como nos versos de Antero de Quental, o acolheu e o agasalhou sem ressalva.

2 comentários:

  1. Elmar, parabéns pela crônica, bem verdadeira sobre a conduta do dr Samuel, de fácil leitura em virtude da sensibilidade poética do autor. Dilson

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  2. Muito obrigado, caro Dilson.
    Estimo que o amigo tenha gostado.
    O Dr. Samuel foi um homem bom e um bom magistrado.

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