No Cemitério da Ressurreição
Elmar Carvalho
Tendo lido, em determinado site, que
o sepultamento do juiz de Direito Samuel Mendes seria às 16 horas, cheguei nesse
horário. Contudo, recebi da administração do cemitério o aviso de que a
cerimônia fúnebre seria às 17 horas. Em vista disso resolvi olhar as diversas
sepulturas, para ver se encontrava a de algum amigo, conhecido ou parente.
Em seguida, fui inspecionar o jazigo
que comprei há mais de vinte anos, felizmente ainda virgem, uma vez que minha
mãe pediu para ser sepultada em Campo Maior, perto dos túmulos de seu irmão e
de sua irmã e cunhado. Quando eu estava lendo sua placa indicativa, vi a uns quarenta
metros um homem, que também lia algumas lápides.
Ao aproximar-se de mim, eu lhe disse
que estava olhando minha própria sepultura. Notei que ele teve leve
sobressalto, mas, quando percebeu que eu não era nenhum fantasma, muito menos
alma penada, sorriu e me cumprimentou. Disse-lhe que viera, por equívoco
informativo, muito cedo ao sepultamento do colega Samuel. Respondeu-me que
laborara no mesmo engano.
Quando fiquei sabendo que ele era de
União, onde conhecera o Dr. Samuel, na época em que este fora o titular daquela
Comarca, notei que tinha semelhança fisionômica com o jornalista Fenelon Rocha,
tendo ele me respondido que era seu irmão. Logo percebi que o advogado Dilson Reis
da Rocha tinha profunda consideração, respeito e amizade ao falecido
magistrado, por sua capacidade de trabalho, zelo e correção.
Disse-lhe que quando fui juiz
substituto em Curimatá tomara conhecimento de que ele servira naquela longínqua
Comarca, e que fora um bom e operoso juiz. Quando respondi, por quatro ou cinco
meses, pela Comarca de Inhuma, um servidor, vendo meu esforço em tentar manter
o serviço em dia, me falou que, pelo meu temperamento e trabalho, tinha
semelhança com o Dr. Samuel, que fora, salvo engano, o responsável por sua
instalação. Interpretei as palavras do serventuário como um discreto elogio.
Tive oportunidade de lhe contar esse espontâneo depoimento.
Prometi ao Dr. Dilson Rocha, que
também é procurador da Assembleia Legislativa, que lhe repassaria alguns livros
de minha autoria, principalmente Confissões de um juiz. Nesse livro há um
retrato de Samuel a meu lado. Através de e-mail, ele acusou o recebimento das
obras, e disse que a sua filha, que estava preparando um trabalho acadêmico,
não sei se de mestrado, aproveitaria o meu poema Noturno de Oeiras como citação
ou epígrafe de algum capítulo.
No serviço fúnebre que antecedeu o
enterro, apresentei minhas condolências aos familiares, inclusive sua viúva,
que o pranteava, e a seu irmão Emanuel, que fora meu colega no curso de
Administração de Empresas, no Campus Ministro Reis Velloso, UFPI-Parnaíba. Na
hora melancólica da Ave Maria, em que o Sol tombava na linha do horizonte,
entregamos aos cuidados da mãe terra o corpo do digno magistrado Samuel Mendes
Morais, cuja expressão facial se mostrava serena, como sereno ele fora em sua
vida e no exercício da magistratura.
E sei que a mão de Deus, a mão
direita de Deus, como nos versos de Antero de Quental, o acolheu e o agasalhou
sem ressalva.
Elmar, parabéns pela crônica, bem verdadeira sobre a conduta do dr Samuel, de fácil leitura em virtude da sensibilidade poética do autor. Dilson
ResponderExcluirMuito obrigado, caro Dilson.
ResponderExcluirEstimo que o amigo tenha gostado.
O Dr. Samuel foi um homem bom e um bom magistrado.