Fotos Antigas (*)
Elmar Carvalho
Onde estão aquelas pessoas
que assistiam ao comício na velha praça,
que já não existe, exceto na foto desbotada
e carcomida pelas traças implacáveis?
Muitas já estão dormindo,
dormindo profundamente
(como no poema de Bandeira),
no Cemitério da Igualdade
ou em outro campo santo qualquer.
A própria praça já não existe
na sua sedutora arquitetura
de então.
Por causa da usura, dos metais e do tempo,
alguns casarões foram demolidos,
dando lugar a modernosas formas,
sem história, sem lembranças.
Outros permanecem, com os aleijões das “reformas”.
O homem que passava
para sempre ficou
congelado na foto,
em inconclusa passada.
Para onde se foi, com a sua pressa,
com as suas preocupações e planos,
e as suas momentâneas contingências?
Decerto, deserto de tudo,
hoje já não tem pressa,
nem preocupações,
nem dúvidas e dores,
para sempre imoto em sua cova.
A moça bonita, eternamente
moça e bonita na fotografia,
terá morrido moça e bonita
ou terá sentido na pele e na alma
o desmoronar lento do tempo?
A águia metálica
voou do cais do porto
para outro logradouro, de onde,
pousada no poleiro monumental,
assiste o desfilar frenético dos carros,
entre movimentadas avenidas.
Ela, contudo, permanece imóvel,
embora com as longas asas distendidas,
hierática, sem pressa e sem medo.
A maria fumaça que passava
soltando fumaça e apitando
não mais passará, não mais passará,
com as suas negras engrenagens,
nem mesmo travestida
em locomotiva a diesel.
Até os trilhos e dormentes
lhe foram arrancados, e as trilhas, apagadas.
Os namorados que se amavam
e se afagavam, à sombra
da velha pérgola ou do caramanchão
de outrora, ainda se amam, ainda se afagam?
São tantos os sonhos desfeitos...
Um dia, os retratos estarão apagados,
e este poema, esquecido.
E não restará sequer uma tabuleta
ou um bilhete esmaecido
em (esconsa) gaveta.
(*) Após vários anos sem escrever nenhum poema, fiz hoje (22.11.17) este texto, que espero mereça essa classificação ou rótulo.
(*) Após vários anos sem escrever nenhum poema, fiz hoje (22.11.17) este texto, que espero mereça essa classificação ou rótulo.
O Poeta voltou para a alegria de seus leitores. Parabéns, Dr. Elmar. Um abraço.
ResponderExcluirO retorno acredito será precário, como a chamada "visita da saúde" aos doentes terminais.
ResponderExcluirAbraço,
Elmar
"Fotos antigas", se não é a retomada do poesia ded Elmar Carvalho, deve ser entendida como um lampejo feliz de umtemperamento pético visceral independente se o autor volta um e noutro caso, pouco importa. O que se deve assinalar -e que o poema em apreço não diminui os poemas já escitos, publicados e muito analisados. Foram esses poemas já escritos que o tornaram um dos poetas mais conhecidos e admirados la lírica piauiense contemporânea.
ResponderExcluirTrazendo a público este poema após alguns anos de abstinência, o nível de qualidade não caiu absolutamente. Escolheu o tema do "ubi sunt?" que em Elmar é algo recorrente, sobretudo agora que vive a plena maturidade do poeta tem algo em comum, que o distingue
Uma vez, afimei que todo bom poeta possui algo em comum: ser bom poeta e ser diferente um do outro.
"Fotos antigas" me emociona como leitor e como analista de literatura. Os versos lhe terem vindo naturais, espontâneos, plenos de dentimentos nostálgics, de imagens de um passado aida vivo na memória que não deseja o esquecimento, visto que é matéria armazenada lá no fundo do coração do poeta . Elmar é um poeta que elegeu como um dos temas preferidos a reconstrução da paisagem antiga, das pessoas , dos objetos e construções que ou mudaram nos tempos atuais, ou desapareceram na voragem do tempo.
Sua lírica lamenta a perda das imagens diversas que aom o seu espírto nos tempos apressados dorasileiro. Ao mesmo tempo que d cotidiano lhe povoaram e povovam no tempo presente. No fundo da saudade ezes, elegíaca, o poeta ,dialogando com outros poetas de gerações diferentes, não deixa escapar uma dolorida crítica à modernidade. Talvez nesse aspecto haja algo nele que se aproxime da saudade dacostiana: o fundo romântico do qual nuncase livrou nem um nem outro.
Gostaria muit de me estender mais sobre o poema agora vindo a publico. Porém, deixo registrado , nessa primeira leitura, o quanto me fez a leitura do poema, um convite ao mundo admiravel da saudade e sem pieguismo fáceis.
Cunha eSilva Filho
Elmar, como cometi erros nadigitação do mei comentároo, lhe vou envair, por e-mail,,S.F. o comentário corrigido.
ResponderExcluirAbç. do
C
Caro amigo Cunha,
ResponderExcluirO seu comentário me fez um bem enorme.
É que, sem falsa modéstia, eu publiquei o meu poema temporão um tanto contrafeito, com certa insegurança, pois achava que ele estava bem abaixo da possível qualidade, que acredito possa haver alcançado em minhas realizações mais felizes.
Quando o amigo me enviar seu texto, pretendo publicá-lo como uma matéria independente.
Muito obrigado e que Deus lhe pague pelo bem que me fez e pelo ânimo que me incutiu.
Você é um erudito, um crítico sério, arguto, preparado, e que nunca cultivou o sentimento subalterno da inveja.
Ao contrário, você sempre proclamou bem alto e bem forte os méritos alheios, conquanto possa ser vítima de certo silêncio, que pode ser "primo" desse triste sentimento menor.
Abraço,
Elmar Carvalho
Aguarde um poco o meu comentário porque estou com o meu conputador com problema.Lhe escro neste momento pelo meu celular, no que não sou tão hábil.
ResponderExcluirAbç.
Cunh
Sempre soube, Poeta, que o Vate não tem controle sobre a sua própria inspiração. Quando afirmavas achar que as suas musas haviam se recolhido ao templo de Museion, que a inspiração havia lhe abandonado com o tempo, nunca acreditei muito. Porque, assim como os bons ventos, elas um dia voltam a mostrar o ar da sua graça. E a prova foi registrada por você mesmo ao escrever tão belo poema. Parafraseando o autor de A volta do Boêmio, como você bem gosta de fazer, eu diria que "Ele voltou. O Poeta voltou novamente!" Mas não te pergunto porque queres voltar! Satisfaço-me com a boa nova de teres percorrido o caminho de volta.
ResponderExcluirCaro amigo JP Araújo,
ResponderExcluirBem gostaria que você tivesse razão em seu comentário acima.
Mas a verdade é que Fotos Antigas talvez seja o meu "canto de cisne" no reino encantado da poesia.
A poesia me foi sempre uma musa arisca e caprichosa, que só me procura quando ela bem deseja.
Creio mesmo que ela, masoquistamente, nega só pelo prazer de negar ou de ser má madrasta e mulher.
Adoro fotos antigas, escritos antigos, adoro história,que é um disciplina que ainda tenho desejo de cursar, não sei se porque eu tive uma infância feliz, mas sou bem nostálgico, e como "toque" tenho a mania de sempre falar e perguntar por datas, sempre quando conto algum fato eu digo a data, ou quando eles me contam eu pergunto pela mesma, até meus amigos e minha irmã já sabem disso, agora quando eu conto alguma història do passado eles mesmos já colocam a data, sendo ela certa ou não.
ResponderExcluirJoão Miguel,
ExcluirVou dar um "toque": talvez você deva diminuir esse TOC pela exatidão das datas.
Creio que para você o melhor seria fazer um mestrado em História, já que você é portador de curso superior, mas você é quem melhor sabe o que lhe é mais interessante. É apenas uma sugestão.
O Dagoberto Carvalho Jr., da APL, que é médico, optou por fazer mestrado em História, e já escreveu importantes livros nessa seara.
Abraço,
Elmar
Se tiver essa possibilidade, melhor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir2303.01
ResponderExcluirÉ fevereiro, seis, onde
Par e pares se encontram.
Junção sem tamanho, sem cheiro,
Cor, distinção, julgamentos,
Sei apenas que forma a fôrma.
Cheguei, chegaste... Na oposição do poeta
Não vínhamos fatigados nem tristes
E paramos nessa estrada
Que segue dia a dia caminhante
E se fortalece das nossas
Pegadas diárias.
. . .
É fevereiro, seis, onde
Par e pares se encontram.
. . .
w.lima_.
23/03/2017.
2109.01
ResponderExcluirnem duque nem duquesa
como arlequim
da caixa saída
mas se o duque saiu
a duquesa louca ficou
e a princesa chegou
da fonte mais nobre
comamos da padaria
pão quentinho
levar outros no embrulho de papel
laço com pobre barbante
ah, dessa fonte Beber!
w.lima._
RP, SP, 21.09.2013.
2101.01
ResponderExcluir“se procurar bem, você acaba encontrando...”
Dois homens lado a lado espiam
Poeta inerte no esquife.
Discutem ambos
Como viver a vida sem poesia.
No centenário texto bíblico
Antigos compravam seu próprio túmulo
“não a explicação (duvidosa) da vida, ...”
Não entrava na cabeça do morto
(por isso, poetas incompreensíveis)
Que nossa morte problema dos outros.
“mas a poesia (inexplicável) da vida”.
w. lima_-.
RP, SP, 22/01/2017.
Caro Walter,
ResponderExcluirFarei, com relação a seu poema, três citações de memória (portanto, sem muita exatidão):
Não vos preocupeis com o dia de amanhã; cada dia tem a sua própria preocupação.
Deixem que os mortos enterrem seus mortos.
Carpe diem (aproveite o dia).
Em resumo: curtamos o dia de hoje, sem antecipar preocupações pelos dias que ainda virão.
Abraço,
Elmar