Fonte: Google/Portal AZ |
Herculano – O nome
e o homem
Gutemberg Rocha
(Membro do Instituto Histórico de Oeiras)
Todo aquele que tenha frequentado
a Casa de Lucídio Freitas, sede da Academia Piauiense de Letras, em Teresina,
nas últimas décadas, certamente terá se deparado com o escritor Herculano
Moraes pelos cômodos daquele templo da cultura piauiense. Presente em praticamente
todos os eventos da Casa, muitas vezes no papel de cerimonialista, ele era, até
onde pude perceber, o mais assíduo dos imortais no dia a dia da Academia. Nas
palavras do acadêmico Celso Barros Coelho, Herculano era “um amigo e um
intelectual brilhante”. Com o seu falecimento, em 17 de maio de 2018, aos 73
anos de idade, abriu-se uma lacuna, e sua falta será sentida não apenas pelos
seus pares, mas por todos que costumam visitar aquela Casa.
Não sei até que ponto o nome de
alguém pode determinar ou influenciar a sua história, mas, no caso de Herculano
Moraes, parece haver uma associação profunda entre o nome e o homem. Como é
claro e evidente, “Herculano” provém de “Hércules”, personagem da mitologia
greco-romana, que notabilizou-se por ter
executado, com sucesso, doze tarefas extremamente difíceis, conhecidas como “Os
Doze Trabalhos de Hércules”; depois, de acordo com o Dicionário de Nomes
Próprios, ao qual recorri através do Google, o nome Herculano “indica uma
pessoa que encontra nos livros uma fonte para enriquecer sua visão do mundo”.
Herculano Moraes encontrou nos
livros mais que uma fonte de enriquecimento para sua visão: ele utilizou o
livro como meio de clarear a nossa visão e enriquecer o mundo. Poeta, cronista,
contista, romancista, ensaísta, revisor, crítico literário e jornalista,
produziu proficuamente, deixando-nos uma obra de reconhecido valor. A coleção
“Visão Histórica da Literatura Piauiense”, em três volumes e na quarta edição,
tem sido de grande utilidade para minhas pesquisas pessoais e representa apenas
uma pequena fatia do seu legado. Há mais, muito mais! Quem o conhece sabe.
Na comparação com o herói
mitológico, se pararmos para analisar com rigor, creio até que Herculano supera
Hércules na quantidade de façanhas, já que na sua trajetória não lhe faltaram
desafios, e cada um ele o enfrentava com galhardia e competência. Quem há de
negar que seja trabalho hercúleo, por exemplo, produzir uma bibliografia
extensa e valiosa? Ou assumir os cargos
que ele assumiu na administração pública, inclusive a direção do Teatro 4 de
Setembro e da Casa Anísio Brito? Ou ser um digno vereador de Teresina? Ou
percorrer o Piauí a construir academias literárias? Ou, ainda, lutar pela
inclusão da Literatura Piauiense no currículo das escolas estaduais do Piauí?
Natural de São Raimundo Nonato,
Herculano Moraes contribuiu substancialmente para a cultura do nosso Estado e
para um mundo melhor. Incentivou jovens escritores, valorizou a
intelectualidade local, procurou democratizar o conhecimento. Foi um dos
fundadores do Círculo Literário Piauiense (CLIP), pertenceu à União Brasileira
de Escritores (UBE/PI) e participou de inúmeros movimentos e entidades
culturais. Não era um deus ou semideus, mas estava acima do homem comum. Por
mérito próprio, conquistou um lugar entre os imortais. No entanto, acolhia a
todos que adentravam a Casa de Lucídio Freitas como se fora mero mortal, com
respeito, cortesia e humildade, fazendo-nos sentir à vontade naquele ambiente
de natureza austera e erudita. Ele, que sempre foi um autêntico paladino da
Academia Piauiense de Letras, está agora onde poderá encontrar a verdadeira
imortalidade. Que Deus o tenha!
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