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A segunda morte de São João foi na Parnaíba
*
Pádua Marques.
Agora
que junho está no fim e o São João da Parnaíba está morto e enterrado, digo
como o finado colega meu, “do alto dessas sinagogas que ninguém há de abalar e
nenhum acontecido há de fazer tremer”, fico olhando a que ponto nós chegamos
com o mês mais alegre do ano depois do Natal.
Assim brincando esse pessoal que está aí acabou acabando com o São João
da Parnaíba.
É
que desde o ano passado o prefeito Mão Santa resolveu desprezar toda a estrutura
do Quadrilhódromo e as quadrilhas e o bumba-meu-boi agora passaram a se exibir
nos bairros. É uma decisão que vai contra todos os princípios de quem entende
de festas populares e sua relação com o turismo. Pra quem deseja atrelar o
folclore à atividade produtiva e assim formar capital ele está conseguindo
fazer o contrário.
O
São João da Parnaíba, que a muito custo alcançou relevo e projeção fora do
Piauí, agora está fadado ao fim com as apresentações em escolas e meio de rua
na periferia, lá no Deus me livre, pra lá do caixa-pregos, para ele Mão Santa,
alguns poucos assessores e menos ainda uns poucos moradores que não gostam de
novela. Nada contra quem mora em bairros afastados.
Mas
até agora ninguém sabe ao certo se essa morte anunciada do São João da Parnaíba
foi coisa dele Mão Santa ou se saída da cabeça de bagre de algum assessor,
desses de conveniência, sem opinião própria e que ajudariam e muito se
permanecessem calados ou estudassem mais, viajassem mais e vissem como se
produz riqueza com a cultura quando se juntam o folclore e o turismo.
Assessores
pagos pra balançar a cabeça. Esse pessoal esquece que o São João da Parnaíba só
é o que é hoje, devido à persistência, muito suor derramado, dinheiro, tempo,
amor e audácia de gente igual o Gerivaldo Benício, o Batista do Catanduvas, o
Liberato e tantos outros que fizeram, levaram anos e mais anos e muito e tudo
pra que esta festa chegasse ao nível que chegou.
Em
outro tempo nossas quadrilhas ganharam prémios dentro e fora do Piauí, divulgaram
nossas potencialidades turísticas, históricas, gastronômicas e outras riquezas
nossas. Agora o São João da Parnaíba, disperso, assistido por poucos,
escondendo a cabeça, feito cachorro com medo de foguete, está correndo o risco
de dentro em pouco acabar de vez. Mas eu acho que a ideia desse pessoal, a
intenção principal seja essa mesmo. Eles têm consciência de que estão fazendo a
coisa errada, mas continuam fazendo!
Dá
pra imaginar o prefeito do Rio, Marcelo Crivela, depois de tudo o que o
carnaval representa pro Brasil, na visibilidade e geração de riquezas, decidir
que os desfiles sejam realizados nos bairros, tipo Cascadura, Meier,
Bonsucesso, Ramos, Madureira, Nova Iguaçu, Japeri, Queimados? Qual é o turista
que vai se atrever a ir à periferia, andando feito besta pra ver as escolas de
samba? É preciso que estes assessores de Mão Santa entendam e digam pra ele uma
coisa: certas coisas não podem ser mudadas de lugar porque se acabam.
* Pádua Marques, jornalista, membro da
Academia Parnaibana de Letras, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico
de Parnaíba, da Academia de Letras da Região de Sete Cidades, entre outras
entidades culturais.
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