TERESINA NÃO NEBLINA MAIS
José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Dois jornalistas da TV Clube,
extasiados, exibiam e comentavam imagens da neblina que cobria Teresina, logo
ao amanhecer: “Maravilha, altos prédios mergulhados na densa massa úmida...
prenúncio de chuva!”
Explica-se tamanha emoção, em se
tratando de dois jovens profissionais da comunicação. Raro fenômeno quase não
ocorre mais em Teresina, comum décadas atrás.
Neste final de inverno, o
Nordeste experimenta clima e paisagem primaveris. Vão-se as chuvas, deixando o
verde e flores em abundância. Temperatura agradável, mistura-se o calor do dia
às camadas frias e úmidas da noite. Raramente chove, mas, na aurora, imenso
manto de neblina cobre as matas e campos por curto tempo. Quem não entende o
belo fenômeno conclui que vem chuva por aí. E não é. Ao contrário, um recado de
que se aproxima tempo quente, ensolarado, para desgosto de agricultores.
Na minha infância, Teresina enchia-se
de neblina. Eu estudava o antigo Primário no Colégio Domingos Jorge Velho.
Manhãzinha, saía a pé, da Piçarra, chegava à escola com os cabelos úmidos e
mãozinhas geladas, magricela, tremendo. Dona Teresinha, minha professora,
passava as mãos sobre os seus cabelos: “Olha, gente, a neblina quase me deixa
molhada, quando atravesso a avenida Frei Serafim, a pé!”
Noites de fogueira junina. Acordava-me
cedo, aquecia-me em redor das brasas que restaram. Na minha modesta casa, na
rua Odilon Araújo, Piçarra, dormíamos sem ventilador, e fazia frio. Seis
irmãos, o afeto caloroso de Martinho
Dedé.
Teresina, exuberante Cidade Verde!
Monte Castelo, e Catarina (hoje, Conjunto Emílio Falcão, Cristo Rei e adjacências)
vestiam-se de floresta densa, dominada por macacos barulhentos. A garotada
fartava-se de frutas silvestres e captura de pássaros. A floresta dominava o
cinturão da cidade. São João, antigo Macacal, devido à gritaria dos símios. Que
tal voltar a Macacal, em vez de São João?
Na região leste, as florestas emanavam
temperatura a menos de 18 graus, à noite. Sítios de abastados abundavam na
região, devido ao clima. Do Aeroporto ao Encontro do Poti com o Parnaíba, quase
tudo era verde e ocupado por humildes residências. Explica-se Teresina tão
molhadinha de neblina ao amanhecer, como criança envolta em cueiros.
Hoje, tadinha da minha Cidade Verde,
nem tão verde, nem tão criança, porém morna que só adolescente acesa de
paixões. Raro frescor, só descendo a Ladeira do Uruguai, seguindo a BR-343
coberta de neblina. Conjuntos habitacionais, porém, já começam a avançar rumo a
Altos, arrastando o santuário verde.
Teresina trocou os encantos da neblina
pelo infernal calor do asfalto, lâmpadas encandecentes, concretos armados,
combustão de veículos, fogões a gás, queimadas irresponsáveis, enfim, inferno
da modernidade. Juntando tudo, uma gigantesca fogueira subiria aos céus da
capital. Há três décadas, as escolas de Teresina não dispunham de ar
refrigerado, nem as mais ricas, só nos cursinhos, raros hospitais e prédios da
administração pública. Talvez, em breve, tenhamos a Teresina que se despiu da
neblina, para mergulhar no caldeirão de B-R-O-BRÓ. Ano inteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário