segunda-feira, 11 de novembro de 2019

A Zona Planetária - Netuno

Fonte: Google


NETUNO

Elmar Carvalho

Poema épico moderno, inspirado no meretrício Zona Planetária, de Campo Maior, em que procurei mesclar a mitologia greco-romana, a astronomia e a sociologia dos cabarés. Na Zona Planetária cada um dos lupanares ostentava na fachada o nome e a imagem de seu planeta correspondente, entre os quais Saturno e seus anéis. Irei, no blog, publicando cada uma das dez unidades desse relativamente longo poema. 

Nas profundezas do mar Egeu
Netuno subjuga e cria seus indomáveis corcéis
e emerge do oceano em seu
carro – concha puxada pelos hipocampos
a campear o rebanho
das verdes ondas do mar.
As Náiades, ninfas das águas doces,
dos doces amores tediosos,
nas embocaduras dos rios observam
as Nereidas a cavalgarem
seus cavalos-marinhos
pelas águas salgadas
dos turbulentos amores de ardentias e procelas.
Netuno, com seus cabelos crespos,
revoltos, de algas marinhas,
busca a ninfa Anfitrite,
filha de Nereu, o deus-mar Egeu,
e a toma por esposa.
Cavalos-marinhos alçam a cabeça
e rincham e relincham no
furor da busca desenfreada.
O tridente de Netuno agita
as ondas e a terra
no ardente chamado do desejo.
Uma Nereida dá o seio
a um leão marinho
que lhe devassa o resguardo
da concha recôndita do prazer.
Tritão em sua órbita retrógrada
apazigua o sexo dos ardentes
e as ondas marinhas se aplacam.
Outro satélite, Nereida,
com sua alongada órbita,
em busca das paixões tangenciadas,
apascenta seu desejo.
Ceres em sua arte/manha de fêmea
    – querendo mas negaceando –
em égua se transmuda:
Netuno em cavalo se transforma
e a possui em furiosas e poderosas estocadas.
O triste ciclope Polifemo
contempla o triunfo da Galatéia,
em sua concha arrastada pelos Delfins,
escoltada pelos Tritões e pelos Amores,
e sobre o rochedo soluça em sua flauta
magoadas elegias.
Os Tritões e as Tritônidas
com seus suntuosos rabos de peixes
reciprocamente se enrabam.
Netuno, com seu cortejo de Delfins,
manda soar a concha espiralada,
trombeta de som ondulante,
que se desdobra pelas ondas do sem fim
a repercutir nos labirintos dos ouvidos
nos meandros dos átrios e ventrículos
dos corações sem couraças. 

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