FLAGRANTES
Elmar Carvalho
no céu azul
um urubu
sob o negror
do guarda-sol
o pelotão azul
de teus olhos
da sombra
me fuzilou
MINHA VOZ
Clóvis Moura
Minha mãe deu-me um cravo
cristalino
quando nasci. Guardei-o na
garganta.
Por isto a minha voz parece o eco
de todo sofrimento que não canta.
Com isto a minha voz se fez
desejo
dos surdos-mudos, das mulheres
mancas.
É o plenilúnio dos abortos
tristes
e o gira-sol dos cegos que não
andam.
Minha garganta já sentiu o travo
da palavra guardada e não ditada
por causa dos fonemas mutilados.
Há na voz desse cravo que não
toca
um desfilar de mortos e de
enterros
e gritos por silêncios
soterrados.
ORAÇÃO PARA INVOCAR AS QUE NÃO
VIERAM
H. Dobal
Venham a mim todas as que não me
quiseram,
todas as que deixaram de
conhecer, no sentido bíblico,
um homem competente não só na
palavra amor
mas também nos carinhos mais
fundos.
Venham todas:
as que morreram,
as que engordaram,
as que se enterraram
na rotina dos casamentos.
Venham todas as que o destino não
quis.
O HOMEM QUE VOLTA
Da Costa e Silva
Quando fui, com o meu sonho
ingênuo e lindo,
Pelas estradas amplas, luminosas,
Vinham as Graças desfolhando
rosas.
Ergui os olhos para os céus,
sorrindo,
A beleza da vida pressentindo...
Quando vim, com o meu tédio
miserando,
Pelos estreitos e áridos
caminhos,
Iam as Parcas espalhando
espinhos...
Baixei os olhos para o chão,
chorando,
E fiquei para sempre meditando.
Poemas extraídos de LB – Revista da Literatura Brasileira, nº 6
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