IDEIAS SÁBIAS E INSPIRADORAS PRECISAM SER
IMPLEMENTADAS
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Ou seja, se você não vai a todas as lojas do
shopping, não deveria pagar o valor integral da taxa de estacionamento que lhe
é cobrada, mas um percentual, uma fração, cujo numerador seria a tarifa integral,
e o denominador o resultado da divisão obtida entre o número de
estabelecimentos visitados e o montante do de empresas que o centro comercial
dispõe.
Como não, se aquele edil quer que frequentadores das
salas de cinema dos shoppings, após o fechamento das demais lojas, fiquem
isentos da taxa de estacionamento? Quer dizer, a partir do momento de
fechamento daquelas, o que era privado, passaria a ser público, e gratuito.
Ora, ora. Seria isso atividade parlamentar, ou intromissão descabida?
Imiscuir-se em assunto atinente à iniciativa privada, e não só isso, de caráter
excepcional? Certamente, o shopping deve recolher o imposto sobre serviços tendo
como base o faturamento referente a todas as vagas disponibilizadas ocupadas,
conforme registro do ingresso no estabelecimento. Que as salas de cinema,
então, arquem com o valor dispensado, assumindo a tarifa de estacionamento de
seus usuários, após fechado o shopping; ou será que existe vaga específica para
tal ou qual loja/empresa?
O mesmo prolífico parlamentar teria outro inusitado
projeto de cunho econômico-social a oferecer: eximir, isentar da taxa de
iluminação pública os deficientes visuais, uma vez que, segundo ele, esses não
usufruem da energia elétrica que ilumina as vias públicas. Por que não estender
a isenção quanto à eletricidade consumida pelas lâmpadas da residência,
comércio ou local de trabalho dos mesmos cidadãos? Se, também nesses, não veem
o que elas iluminam, deveriam ser responsáveis financeiros tão somente pelo
consumo de energia elétrica relativa a outras fontes: condicionadores de ar,
splits, ventiladores, ferros de passar, liquidificadores, geladeiras, fogões;
lâmpadas, não.
Logo, logo vai propor, caso encontre um par
legislativo ou alguém com inteligência tão privilegiada, que os vegetarianos ou
veganos não deveriam pagar, recolher tributos sobre as refeições com base em
carne animal, que os restaurantes ou similares oferecem ao público em geral.
Por motivo de justiça, talvez propor isenção aos carnívoros, em relação às
frutas, legumes e hortaliças que, ainda que ofertadas a todos, não usufruíssem
ou não consumissem. Ou não?
Papo assim, tão anacoluto quanto o do nobre e “inocente”
parlamentar, somente o daquele boquirroto ministro governamental que, não de
todo satisfeito com as asnices tantas vezes ditas, inopinada e,
intempestivamente, como aquela de chamar os funcionários públicos de parasitas,
acrescentaria outra mais ofensiva, idiota e desnecessária que as anteriormente veiculadas:
que dólar bom é dólar alto, valorizado, porque, assim, evita que trabalhadores,
como os domésticos, possam viajar à Disney, fazendo uma festa danada. O tosco
auxiliar presidencial nem esperou que a verdade lhe fosse apresentada: mais de
três centenas de milhares dos nossos sagrados empregados domésticos, por conta,
também, de outros coices disparados por governos e parlamentos intransigentes,
perderam seus empregos no último semestre, e muitos ainda vão perder, porque –
como diria o Eclesiastes: oh vaidade das vaidades! diríamos: oh pobreza das
pobrezas! -, mesmo as contribuições previdenciárias e patronais que seus
empregadores em nome deles recolhiam, até o ano de dois mil e dezoito, e que poderiam
deduzir no momento da apuração de seu imposto de renda, não mais poderão
fazê-lo em relação ao ano dois mil e dezenove. É provável – seria isso que
estariam almejando ou desejando os ilustres pensadores da economia brasileira?
– que a informalidade volte a ser o repositório de tantos deles, e de outros
profissionais expurgados da formalidade.
Ou seja, parece que estamos muito bem servidos de
cabeças pensantes, tanto paroquial, quanto, nacionalmente. Querer mais o quê? Talvez,
repor nossos palácios governamentais e povoar os parlamentos com gente abnegada,
sensível e preocupada com o bolso e o emprego dos cidadãos, como tantas que,
ora, lá estão; desse modo, ideias tão sábias quanto inspiradoras, como as acima
citadas não correriam o risco de esvair-se, esfumar-se em meio à realidade
cotidiana.
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