DIÁRIO
Elmar Carvalho
25/03/2020
Não sendo um
teólogo e nem um religioso, mas tendo a minha religiosidade cristã, e aproveitando
este período de quarentena a que quase todos estamos submetidos, fiz algumas
reflexões sobre o impacto do novo coronavírus na humanidade.
De início,
acredito que essa covid-19 aconteceu porque Deus permitiu, como de resto creio
que nada acontece por acaso, até porque, de fato, não existe o que chamamos
acaso; não existe uma entidade, física ou espiritual, com esse nome, que tenha
o condão de fazer acontecer ou não acontecer o que quer que seja, e que tenha
uma existência concreta, real.
O que existe
é uma sincronização infinita de causas e efeitos. Quando não temos uma
explicação para determinado fato ou acontecimento, dizemos que foi por acaso ou
que houve uma coincidência. Aliás, dizem que o acaso é o nome que se dá aos
momentos em que Deus passeia incógnito.
Na mecânica
quântica, em que tudo parece estar interconectado, há fatos e acontecimentos
estranhos e surpreendentes, inclusive o princípio da incerteza. Será se essas
estranhezas e incertezas, inacessíveis ao atual conhecimento humano, à falta de
outro nome, não seria o “espaço” que Deus reservou para fazer as suas sutis
intervenções ou milagres, que de tão discretos quase ninguém percebe, ou mesmo
deseja perceber?
Observo que
nas últimas décadas, a ciência e a tecnologia têm feito muitas descobertas,
invenções e aperfeiçoamentos tecnológicos. Mas, em contrapartida, o homem em
sua ganância, egoísmo, consumismo e hedonismo tem feito muita loucura,
inclusive comprometendo o equilíbrio ecológico e o chamado desenvolvimento
sustentável.
Com isso, muitos recursos naturais
entram em colapso, desastres naturais já se esboçam e o efeito estufa é uma
lamentável realidade, que já provoca modificações e catástrofes climáticas.
Muitos crimes, cometidos por causa do egoísmo e da ganância, tais como
estupros, assaltos, mortes por encomenda, latrocínios tomam proporções nunca dantes
vistas.
As pessoas “convivem” mais com os
aparelhos eletrônicos (som, celulares, tv, computadores, jogos etc.), do que
com o seu semelhante. Esses aparelhos são ligados a partir do momento em que o
dono mal acorda. Não existe tempo para o silêncio, para a reflexão, para a
leitura ou para uma simples conversa. Mesmo num restaurante poucos conversam. Muitos
preferem curtir mais uma rede social do que uma rede de verdade. E muitos só
adormecem se o aparelho de som estiver ligado.
O ser humano andava numa aceleração
constante, cada vez em busca de maior velocidade, em constante situação de
estresse e ansiedade. Agora, foi compelido a pisar no freio.
Tivemos duas guerras mundiais e uma
infinidade de outras guerras ao longo de milênios. Temos e tivemos guerras e
guerrilhas por motivos étnicos, religiosos, econômicos e ideológicos. Mas a meu
ver nada justifica uma guerra, exceto a defesa. Para mim uma guerra não tem
nenhum sentido, tais os malefícios e sofrimentos que provoca nas partes em luta
e mesmo no seio da sociedade civil.
Contudo, qualquer guerra é iniciada
pelo homem e pode ser paralisada pelo homem; porém, o mesmo não se pode dizer
da covid-19. Os bunkers e as casamatas protegem as altas autoridades e os
generais, todavia, o novo coronavírus não respeita autoridades, generais,
valentões, tamanho, cor de pele e nem idade. Todos estamos no mesmo barco, e o
mesmo barco se chama planeta Terra. E todos seremos afetados, de uma forma ou
de outra, através do confinamento e do medo, ou da infecção de um parente ou
amigo, por um pedacinho de molécula invisível e tão diminuto. Dependemos uns
dos outros, e estamos todos interconectados, em permanente interação,
influenciando e sendo influenciados.
Acho oportuno transcrever o que disse
John Donne, velho poeta inglês: "Nenhum homem é uma ilha, isolado em si
mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de
terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se
fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a
morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por
isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."
Creio que, como o homem não aprendeu
as lições da História e das guerras, e não escutou as advertências e pregação
de Cristo, veio agora essa praga para nos sacudir em nossa zona de conforto,
para nos afastar do egoísmo e de todas as formas de egolatria. Veio para nos
desacelerar, para nos fazer refletir, para que nos voltemos mais para Deus, e
não para o hedonismo, futilidades, “espertezas” e culto ao corpo, que de resto
é frágil, vulnerável e mortal. Mas essa pandemia, suponho, é apenas um “cascudo” ou cocre,
apenas uma forte admoestação. Talvez, caso não aprendamos a lição, uma segunda
onda venha com uma letalidade muito maior. Mas não sou profeta, muito menos do
apocalipse; sou apenas um observador dos sinais. E os sinais estão no ar.
Menos casamata, mais “casamáter”,
mais hospitais, mais saúde, mais amor e mais fraternidade e caridade. Oremos e vigiemos,
como disse Jesus. Tenhamos Esperança e Fé. Afinal, Deus é o construtor e piloto
desta nave Terra, e ela há de seguir a sua rota perfeita, consoante a Sua
vontade.
Que o homem se humanize, se aperfeiçoando,
e se torne realmente humano.
Meu amigo e colega Dr. Elmar.
ResponderExcluirÉ como Deus estivesse dizendo: Ei turma aí da terra, eu existo. Esqueceram de mim, né?
Você escreveu: “... porque Deus permitiu”. Sim, permitiu, sim. Permitiu, permite e permitirá que flagelos, pestilências e males se processem para que a humanidade se advirta de que este mundo tem dono e é o proprio Deus que diz em Levítico quem é o seu dono: “Porque a terra é minha e vós estais em minha casa como estrangeiros ou hóspedes”. (Lv. 25, 23)
Ora, qual a reação de quem se vê agredido em seu patrimônio moral e/ou moral e físico?
O Deus das escrituras (Velho Testamento) falou ao homem pelos profetas, mas hoje ele fala por Jesus Cristo (Novo Testamento) bem como pelos acontecimentos. Eu existo turminha daí da terra.
Ao longo da história da humanidade (não se sabe ao certo o tempo desta história), Deus sempre provou seu amor infinito (“Eu te amo, Israel, com amor eterno) por ela, e os homens têm sido cruéis com Ele. Ele é misericordioso, mas também é justo.
É que o homem, meu caríssimo Dr. Elmar, o homem se endeusou. Dizendo-se criador de mil e um avanços científicos, batendo palma para si mesmo entronando-se como o inventor, sentindo-se bem em ignorar o que diz em Eclesiastes 1, 9: “Nada de novo sobre a terra”. Deus é que deu ao homem a capacidade para em penetrando nos seus arcanos divinos fizesse descobertas, nunca inventos. (Aliás, Pedro Alvares Cabral descobriu e não inventou o Brasil).
Você foi deveras grandiloquente quando disse: “Talvez, caso não aprendamos a lição uma segunda onda venha com uma letalidade ainda maior”. E coroa: “Mas não sou profeta, muito menos do apocalipse, sou apenas um observador dos sinais. E os sinais estão no ar”.
Sobre isto: Deus, na sua vontade permissiva facultou a primeira grande guerra que ceifou 20.000.000. Mas as suas lições não foram decoradas. Tanto é verdade que a mesma vontade permissiva de Deus veio a se manifestar numa segunda com 85.000.000. “...caso não aprendamos a lição ....”.
Sei que você “não é profeta muito menos do apocalipse”, apenas um “observador dos sinais”, mas sua visão crítica se engata e se afina no contexto da atmosfera da Covid – 19.
O dedo de Deus pode está aí, convocando a nós homens por um rearmamento moral e religioso.
Os homens, nós devemos reconhecer Deus como o Senhor da vida e do mundo, que tudo move e é em torno do seu nome que acontece e gira.
Humildade é palavra de ordem. Sem jamais esquecer: “Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris”. (Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te transformarás).
Um grande abraço do colega e amigo que o preza e admira
Um super abraço.
Batista Rios.
Que belo e elucidativo comentário!
ResponderExcluirMuito obrigado, caro Batista Rios.
Um "quebra costela" reforçado, como dizia o Des. Magalhães da Costa.
Nesse momento de total clausura, deparo-me com textos como este que nos leva à reflexão, joga sobre nós uma ducha d'água sobre o nosso ego inflado e nos conduz de volta ao rés do chão, de onde nunca deveríamos ter saído. Um simples vírus como este nos reduz ao tamanho real que temos, nos coloca no lugar que merecemos ocupar. Nem mesmos "bunkers e as casamatas protegem as altas autoridades", como bem disseste, e nada pode nos livrar da ação nefasta desse bichinho. Os donos do mundo estão em polvorosa, tão amedrontados que esqueceram dos mísseis e até mesmo da tal bomba de hidrogênio. É, pelo que parece, ninguém está totalmente imune ao poderio do diminuto bichinho!
ResponderExcluirAmigo José Pedro,
ResponderExcluirVocê analisou muito bem.
Espero que tenhamos um "choque de humildade", e nos voltemos mais para Deus, e procuremos nos tornar uma pessoa melhor.
Bom dia meu caro vizinho! Aproveitei esta manhã de domingo para ler o texto que você gentilmente ontem comentou. Reflexões como esta são bastante oportunas, principalmente em um momento em que o senso comum se encontra perdido pela falta de referências que legitimem, com mais propriedade, as consequências dos nossos atos diários. Temos concorrido para apresentarmos resultados para um mercado consumista ao invés de resultados para a alma.O Covid-19 que, diretamente pode estar associado à morte, leva as pessoas a pensarem em seu futuro e, pela falta de reflexão voltada para o espírito, gera somente medo e incerteza. O seu texto acaba por oferecer pontos bastante interessantes quando convida o homem para olhar para aquilo que realmente tem importância: o ser humano "ser humano". Como nos relata o texto bíblico de Eclesiastes 4:4: "Então, vi que todo o trabalho e toda destreza em obras provém da inveja do homem contra o seu próximo. Também isto é vaidade e correr atrás do vento". Paremos de "correr atrás do vento" e nos voltemos para um relacionamento com Deus, alimentando o nosso ser espiritual.
ResponderExcluirAbraço fraterno a você e D. Fátima!
Valdinar e Cruz Leão.
Caro vizinho Valdinar,
ResponderExcluirMuito obrigado por suas belas palavras, ainda mais que você é um leitor costumeiro e qualificado da Bíblia.
Abraço,
Elmar e Fátima