quinta-feira, 5 de março de 2020

O INOCENTE E A INOCÊNCIA



O INOCENTE E A INOCÊNCIA

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                        Assunto que já saturou, deu o que tinha de dar, passou da conta: esse bate-boca do administrador municipal com pressupostos adversários ou críticos a respeito de quem seria o candidato por ele indicado como seu sucessor, ou rebatendo insinuações e justificativas, daqueles, sobre o motivo que o teria levado a não fazer tal indicação: a falta de um bom nome. Faz parte da liturgia do cargo prestar esse tipo de informação a quem quer que seja? Por que não se fingir de surdo-mudo, dar ouvidos de mercador, bancar o inocente, não comprar briga com quem, tudo indica, tem adotado por diversão tentar enervá-lo, desestabilizá-lo? Deixar as picuinhas de fofoqueiro para lá, pois já estão enchendo o saco até de quem está fora de esse círculo. Cuide de sua administração, que ela ainda não terminou. Se julgar conveniente, aceite, e até agradeça sugestões de pré-candidatos ou de seus staffs, que acham a cidade malgovernada; logo, logo verá esses conselhos sumirem; afinal, aqueles que gostariam de ocupar seu cargo, terão que se mostrar substitutos, não à sua altura – haja vista que, para eles, o senhor não é bom -, mas bem melhores; a propósito, evolução –  ainda que, na política que se pratica, ela inexista - é algo que se espera de quem, sem demagogia, também se propõe a servir ao povo, na condição de seu representante governamental ou parlamentar.

                O tempo, o momento de dar nome a seus escolhidos, deve ser decidido por você e seus aliados, não pelos adversários; antes ou, até quando quiser, se lhe faltar a paciência, em vez de discutir, agredir ou se desgastar, blefe; assim, ou os que se julgam capacitados a vencer qualquer concorrente cuidam de sua campanha e trabalham para atingirem seus objetivos, ou desistem, se também eles estiverem blefando. Chegada a hora – alea jacta est -, aponte seus indicados ou apoie nomes propostos por aliados. E trabalhe para que os escolhidos possam superar os adversários; se não der, fazer o quê? Aceitar o resultado das urnas, pois ele espelha a vontade do povo.

                Outro fato que já cansa até os mais céticos ou ignorantes é essa loa de que o ex-presidente da república, atualmente, ex-presidiário, é tão inocente quanto o ex-juiz, hoje, ministro da justiça e segurança pública, é bandido; uma vez que, dizem, contra o ex-governante, indivíduo de ilibada e irrefutável conduta, tudo o que fez foi fruto de perseguição política.

                Ora, se, verdadeiramente, mesmo tendo dado ouvidos de mercador, voz e vez a espertalhões, e se feito de cego perante bandidos, muitos dos que se refestelaram dos cofres públicos, presos ou sob ameaça de sê-lo, ainda assim, devolveram fábulas de recursos obtidos em operações nada republicanas, ou seja, criminosas, desavergonhadas, travestidas em atos de corrupção inquestionáveis; e quando diversos daqueles corruptos, amedrontados e encurralados, decidiram, enquanto pessoas físicas, fazer acordos de delação, e/ou, representando organizações empresariais, de leniência? Há como negar que vários daqueles crimes foram planejados/cometidos em gabinetes contíguos do ex-presidente condenado? Ou seja, inocente a figura não é, pois também comete o crime quem com ele é conivente. Seria um bobo, um tolo de boa cepa, um anjo, pois, não somente não participou, como nem desconfiou das maracutaias que falsos aliados tramavam às suas costas?

                Seguramente, não foi por conta do catatau de condenações e prisões a que instâncias da Justiça brasileira, com o auxílio do congresso nacional, submeteram o ex-governante, que o atual chefe do governo, segundo disseram, sugeriu que a população se insurgisse contra o parlamento e, mesmo parte do poder judiciário: deve ter visto ou sonhado com outros desvios de função. Porém, partindo do ponto de vista daqueles que não viram qualquer crime sendo cometido pelo ex-presidente, mas, sim por seu algoz ministro, enquanto juiz; se, de fato, aquelas instituições, acataram e concordaram com acusações ou denúncias feitas contra inocentes, não há como dizer que não tiveram sua cota de responsabilidade, ou de irresponsabilidade, quando permitiram que alguém, a quem seus defensores e camaradas consideram a materialização da inocência, fosse julgado e condenado. Logo, se nelas existem homens que não se preocupam em bem servir aos interesses do país, como aqueles, cujo número da conta corrente e os grandes bolsos são seu cartão de visita, suas principais credenciais, talvez seja hora, não de radicalizar, invadindo ou fechando as Casas em que “trabalham”, mas de buscar maneiras de trazer de volta os que se afastaram dos caminhos da legalidade, ordem e da justiça.

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