Texto: Elmar Carvalho
Charges: Gervásio Castro
9. Xigau
Assim como há
o espírito de porco
o espírito de gato há.
Xigaaaau... Xigaaaaaau...
Não articulava palavras,
apenas miados e miados
e a semiótica linguagem
de seus gestos de gato.
10. Jibóia
Trazia a lembrança viva
de um passado morto e
sepulto
dos Bailes Azuis e do
burburinho dos porcos d’água
e das meretrizes do cais.
Reinava na boite Rio-Chic
e desfilava pelo grande
salão
cheio de espelhos e de
sonhos
e de risadas esparsas
como num reino encantado.
A imagem de Jibóia morta
reproduzia-se pelos quatro
cantos do salão através das
pupilas perplexas dos espelhos.
(As velas do velório
lágrimas de cera choravam,
enquanto as mulheres, entre
soluços,
rezavam contritas.)
11. Hosana
Hosana nas alturas!
Hosana nas alturas
de sua vida sofrida
de pobre e alienada.
Interventora dos gabinetes
(cediam-lhe os pequenos tronos
de burocratas para rirem
o riso fácil e gratuito).
Cobradora de impostos e
taxas
(davam-lhe ínfima moeda em
troca do riso rasgado).
Andava sempre com sua
roupa branca de marinheiro
–
primeira e única almirante:
alma mirante
alma errante
alma navegante.
Sempre de
branco como as nuvens
que alvejavam em sua
cabeça de nefelibata.
12. Boa Idéia
Um dia
ou melhor uma noite
Boa Idéia teve a idéia
de construir um telescópio
para sonhar/sondar aqueles
pontinhos
cheios de pontinhas chamados
estrelas.
Galileu Galilei da Parnaíba
construiu sua luneta
desvendou estrelas e
planetas e cometas
e perscrutou os umbrais do infinito.
Autodidata da astronomia
com seu telescópio passeava
pelos “mares” da lua
dizendo coisa com coisa
que ninguém sabia.
Brincava de bambolê
com os anéis de Saturno.
Jogou bola de gude
com as luas de Júpiter.
Morfeu o levou para ser
centurião de galáxias. Mas
voltará não num rabo de
foguete
mas na caudabundante
flamejante -
mente reluzente do cometa
de Halley.
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