DIÁRIO
Elmar Carvalho
27/03/20 20
Ontem de
manhã recebi um telefonema do amigo Fabrício Amorim Leite. Além de advogado do
Banco do Nordeste, ele é interessado em literatura, e cultiva a crônica e uma
boa leitura. Sem radicalismo e intransigências, é um estudioso da doutrina de
Kardec. Mas, principalmente, é um bom cidadão, amante do bem e da generosidade.
Considero-o como sendo um dos meus
poucos leitores. Temos tido algumas boas conversas, quando caminhamos juntos,
algumas vezes, na Raul Lopes. Ligou-me para me dar uma notícia jurídica, em
assunto de meu particular interesse, mas também para me incutir coragem nesta
quarentena coroniana.
Contou-me que num período em que
esteve licenciado, em tratamento médico exitoso, a oncologista Vanessa Castelo
Branco lhe estimulou a fazer caminhadas dentro de casa, não para que se
tornasse um atleta ou fortão musculoso, mas para ter confiança e bem-estar
psicológico. Disse-lhe que passaria a seguir o conselho de doutora Vanessa, neste
período de isolamento social. Aconselho o leitor a que também o siga.
Quando ele falou na palavra
confiança, lembrei-me de um episódio do final de minha juventude. Estava num
dos mais altos platôs da Serra Azul, ou ainda Serra de Santo Antônio, também
chamada com certo ufanismo de Serra Grande de Campo Maior, quando veio uma
rápida e inesperada chuva. Cessado o aguaceiro, o nosso guia, de forma algo
imprudente, nos incentivou a descermos a encosta até um ressalto que havia.
Ele, o Zé Francisco Marques, eu e meu irmão Antônio José descemos.
Porém, na subida tive medo, ainda
mais porque a terra estava um tanto escorregadia e eu estava calçando apenas
uma chinela havaiana. Uma queda poderia ser fatal. No entanto, o guia, de forma
calma e decidida, disse-me para que me segurasse num tenro arbusto que havia,
e, vendo o receio estampado em meus olhos, acrescentou: “A planta é apenas para
lhe dar coragem”. Talvez em lugar de coragem, tenha dito confiança, já não
recordo com exatidão.
O certo é que adquiri coragem e
confiança em mim mesmo e executei a íngreme escalada. Agora, nesta reclusão da
covid-19, digo a mim mesmo e ao leitor: Tenhamos Fé em Deus, meditemos, façamos
nossos exercícios e caminhadas em casa, e oremos, que tudo vai passar, como de
resto tudo passa.
Contudo, para sempre guardemos as
lições recebidas, e nos esforcemos na busca do autoaperfeiçoamento, nos
tornando um ser humano “revisto e melhorado”.
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