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A COVARDIA DE UM JUIZ
Valério Chaves
Des. Inativo do TJPI
Ao longo da
existência do homem a história da humanidade tem sido palco de muitos regimes
de terror, de infames práticas punitivas e de muitos crimes que pelo rigor de
seu simbolismo, pela importância do réu ou pela coragem ou covardia do juiz
ultrapassam o tempo e dividem a própria História.
Nesse contexto,
poderíamos mencionar como exemplos baseados nos registros históricos, os
assassinatos do imperador romano Júlio Cesar, Abraham Lincoln, Mahatma Gandhi,
John Kennedy, Martin Luther King, John Lennon, Osama Bin Laden e tantos outros.
Neste período
de celebração do Mistério da Liturgia Pascal bem que poderíamos evocar ainda aquele
que é considerado o maior crime da humanidade cujo processo de prisão e
julgamento do réu, culminou na Paixão e Morte de Jesus Cristo pregado na cruz
onde passou para o Pai a vida nova da Ressurreição.
Com efeito, a
condenação de Jesus Cristo, sem fundamentação jurídica e ausência de
culpabilidade, serviu não só para indignar seus discípulos e seguidores
cristãos, mas também para fazer de Pôncio Pilatos um símbolo de juiz covarde e
submisso ao medo de perder o cargo de representante do imperador romano Tibério
Cesar, ao permitir que a sentença condenatória de um Réu inocente fosse ditada
pelos naturais do mundo da Galileia.
A
pusilanimidade fez de Pilatos um histórico patrono dos chamados julgamentos
alternativos do nosso tempo – aqueles que diante de um caso concreto, o juiz
admite a coexistência de duas ordens jurídicas e interpreta a lei como um
parâmetro genérico sem compromisso com as provas dos autos.
Pôncio Pilatos
sabia que o processo criminal contra Cristo estava repleto de nulidades, como o
uso de falsas testemunhas, julgamento noturno, sem direito a recurso e execução
da sentença durante a Páscoa – que na época era proibido pelas leis judaicas. Mesmo não vendo em Jesus crime algum,
e, temendo trair o imperador Tíbério, preferiu lavar as mãos e condenar à morte
de cruz o Cordeiro da Páscoa acusado de blasfêmia, de não pagar impostos a
Cesar, de se proclamar rei, fazer milagres e perturbar a ordem pública.
Os
historiadores relatam que tudo aconteceu por uma questão histórica advinda da
inveja das facções judaicas estimuladas pelos líderes fariseus que dominavam o
Sinédrio, mas acredita-se que se Pilatos tivesse agido com autoridade e fiel à
sua convicção da inocência do Réu, como ele mesmo reconheceu dizendo: “Sou
inocente do sangue deste justo”, o povo não teria arrogado o direito de
praticar o maior crime judiciário da era cristã.
A lição bíblica
diz que “há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos
da morte” (Provérbios, 14:12).
No caso de
Cristo, Pilatos foi um juiz tíbio agindo sob os interesses políticos do império
romano. Para a Justiça de nossos tempos fica a advertência para aqueles que
pretenderem seguir o exemplo de Pilatos. Estes, certamente não estarão salvos
do mesmo ferrete que imolou Jesus, porque como disse Ruy: “Não há salvação para
o juiz covarde”
Ótimo texto. Conciso, profundo, uma aula para os nossos dias.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirO pior, como no soneto do maranhense Vespasiano Ramos, é que agora a situação é mais lamentável:
ResponderExcluirPrometeste voltar, não volte Cristo…
Serás preso de novo às horas mudas
Depois de nobres e divinos atos.
Por que na terra deu-se apenas isto:
Multiplicou-se o número de Judas
E vai crescendo a prole de Pilatos."