terça-feira, 14 de abril de 2020

MINHA CASA, MEU MUNDO


Fonte: Google


MINHA CASA, MEU MUNDO

Everardo de Oliveira-Parnaíba-PI
Cel. PM-PI

Nesse período coroniano a vida segue. Acordo cedo, faço as orações de rotina e a primeira refeição do dia; começo com as minhas reflexões e vejo o checklist dos afazeres para deixar a casa em ordem. Abro o WhatsApp e vejo uma mensagem: “Após uma semana de quarentena, esposa acha que o marido é gente boa”, minha nossa, ironia ou não, mas achei como a nossa sociedade estava dispersa, a família não sem encontrava mais em casa, principalmente nos horários das refeições, como faziam nossos ancestrais.

E pensava eu que já tinha visto muitas coisas com meus cinquenta e poucos anos, mas percebi que nada tinha, nunca havia testemunhado tanta caridade, solidariedade e paradoxos nesse velho mundo: logo de início onde moro, avisos nos elevadores em que condôminos se colocam a disposição de vizinhos idosos e/ou com dificuldades de locomoção para fazer algumas compras e outras atividades, que em outros momentos até fingem estarem ao celular para não cumprimentar o vizinho no elevador; a Rússia levando equipamentos de proteção individual para os EUA, quem poderia imaginar uma cena dessa? A entrada da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, sendo higienizadas três vezes por semana; em São Paulo, na favela de Paraisópolis, cestas básicas sendo distribuídas e pessoas sendo cuidadas em domicílio; na França, um dos povos mais civilizados do mundo, no entanto agora brigando por comida em supermercados; em Teresina, os moradores de ruas sendo colocados em abrigos (Verdão) para serem  cuidados, que muitas vezes são tão esquecidos ou até mesmos invisíveis aos nossos olhos; e os ricos sendo atendidos pelo SUS e outros até morrendo por conta desse mal.

Já sabia que a morte era democrática, mas nem tanto assim, um plebeu como eu correr tanto risco com o “corona vírus” quanto à Rainha e Príncipe da Inglaterra, o Papa e o Presidente dos EUA, seria quase impossível isso acontecer...E se o “covid 19” estivesse somente na região pobre do planeta, na América do Sul ou no continente Africano? Oh meu Deus, como seria: os ricos desses países viajando para praias paradisíacas dos EUA, outros visitando a Torre Eiffel em Paris ou até mesmo na Quinta Avenida em New York, para fazer compras; os milionários, com suas lindas famílias, em seus jatinhos rasgando os céus para irem para algum lugar seguro no outro lado do mundo e enviando mensagens para nós mortais aqui nas Terras de Cabral, que estariam lamentando tudo isso. Mas Deus é justo e bom e não quis assim, todos são iguais perante às leis Dele.

E com esses meus vinte e três dias de isolamento social, pelo menos uma mudança já tive, sai de samango para ter as madeixas do Rei Roberto Carlos, transportando-me aos primórdios, deslocando-me das cavernas da Serra da Capivara em São Raimundo Nonato para as cercanias para pegar alimentos no Mercado do Mafuá, como se estivesse caçando como minha velha lança e meu tacape.

Por isso, o mundo não será mais o mesmo depois desse vírus, o orgulho e a vaidade serão carcomidos nessa batalha mundial. Sem dúvidas, os teólogos têm razão, quando dizem que dentro de cada ser há uma centelha divina, basta aquecer para que ela acenda.  Estou como um navegante da Barca de Noé, herói bíblico, e apenas esperando que as águas baixem e um pombo traga um galho seco nos pés como prova que não haja mais riscos para eu voltar para casa. E que, Deus na sua infinita bondade e misericórdia sempre esteja conosco, e que isso não é ainda o fim, concordando com o Poeta Elmar Carvalho, quando ele diz: “Mas essa pandemia, suponho, é apenas um “cascudo” ou cocre, apenas uma forte admoestação. Talvez, caso não aprendamos a lição, uma segunda onda venha com uma letalidade muito maior”.  

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