quinta-feira, 8 de outubro de 2020

VÁ TENTAR ENTENDER OS MEANDROS DA POLÍTICA ELEITORAL

 

Fonte: Google/Blog Rabiscos do Antenor


VÁ TENTAR ENTENDER OS MEANDROS DA POLÍTICA ELEITORAL

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                 

          Começarei citando frase, filosoficamente feliz, que estampou primeira folha de um matutino local, dia desses: “o maior castigo para quem deixa de votar não está na lei”. Fato é que, infelizmente, muitas vezes, entre o que a filosofia afirma e o que a realidade confirma, há considerável distância. Ousaria asseverar que, não raro, um dos grandes castigos para quem vota reside ou está no próprio voto dado.

                Quem nunca, pensando que estivesse certo e convicto de tomar a providência ideal, depois de votar segundo sua consciência, pesarosamente ou não, constataria haver votado na pessoa errada? Aquele que prometia a solução para o que você tanto buscava e queria, acabaria ampliando a lista de problemas, criando alguns para situações resolvidas.

                Somos corresponsáveis pelas consequências resultantes dos atos exercidos por aqueles que ajudamos a colocar nos palácios governamentais e parlamentares, se, sabidamente, a partir de sua história, dos princípios defendidos, pública ou, reservadamente, não deixavam margem de que viriam a ser incompatíveis com os cargos pleiteados. Por outro lado, se as ações tomadas pelos cidadãos que elegemos não são compatíveis com o que deles esperávamos, tomando, também por base, sua vida pregressa, suas atitudes cotidianas, enfim, sua história de vida, isso exime de nós alguma culpa; afinal, teriam sido eles que mudaram seu modo de ser e de agir, coisa que, ao longo do tempo de conhecimento ou convívio, não nos haviam dado qualquer indicação ou pista de que poderia acontecer; todavia, infelizmente, isso não nos livra nem isenta de haver, sim, cometido um involuntário erro político, por cujas consequências seríamos, de algum modo, responsáveis.

                Agora, o arrazoado com o qual pretendo encerrar esta fase da arenga: se há que se falar em castigo para o eleitor, ideal que não o apenemos por fatos cujas consequências legais extrapolem o alcance do ato de votar ou não; tampouco, tal castigo pode redundar em descabidas insinuações morais. Votar não é fácil, pois, ao mesmo tempo, significa exercer um direito e cumprir um dever, coercitiva e compulsoriamente exigido por lei; o acerto ou erro cometido no exercício de esse direito-dever é plenamente escusável, porque praticado por seres humanos. Ou seja, tanto erramos de boa-fé, em confiança, quando damos nossos votos a quem nos parece o melhor para cuidar do governo e do parlamento; quanto de má-fé, corrompidos, iludidos ou enganados, ao alçarmos bandidos ou criminosos à condição de governante ou parlamentar. Enfim, diante de realidade política que mais nos aflige do que tranquiliza, como a que vivenciamos, não me parece digressão afirmar que, eleitoralmente, tanto erra quem desobedece a lei e não vota, quanto acerta o que a obedece e vota. Benefícios e malefícios político-eleitorais há, nos dois casos.

                Ainda sobre eleição, processo eleitoral e quizumbas semelhantes. Alguém que nunca teria sido obstado de participar das eleições que quis, mesmo jamais fazendo campanha eleitoral proativa, pois sempre aproveitou o pouco tempo que lhe foi reservado na mídia para espezinhar parlamentar, governante ou candidato tal ou qual; atacar as instituições e as normas eleitorais de tolherem direitos, cortarem oportunidades, dificultarem a disputa, soa, demagogicamente, falacioso. Por que insistir, então, teimosamente, em uma quimera, uma utopia irrealizável? Ora, porque as normas eleitorais permitem-no.

                Fui, até onde julguei conveniente e não localizei, nas normas eleitorais e partidárias visitadas, nenhum óbice legal à mulher, de qualquer cor, credo ou condição financeira, de se filiar a um partido político, disputar as convenções para escolha dos candidatos da legenda e, uma vez selecionada, partir para a batalha de conquista dos votos que a levariam às casas governamentais ou parlamentares. Assim, ainda que se tratando de anteprojeto de lei, parece, mais que demagógico e hipócrita, descabido, um que pleiteia reserva de cinquenta por cento nas cadeiras nos parlamentos às mulheres – e, já segregativamente, separa metade desse percentual para as de cor negra –, além de destinar-lhes o dobro dos recursos financeiros eleitorais atribuídos aos homens. Também não vi, li nem tomei conhecimento de que algo as impedisse de, no caso de serem, legitimamente eleitas, ocuparem todas as vagas disponibilizadas por seus partidos.

                Por fim, quem o tribunal regional eleitoral espera que vá votar nas próximas eleições municipais se, a fim de garantir a lisura do pleito e a segurança total nos locais de votação, convoca representações do exército, polícia federal, rodoviária federal, militar e civil estaduais, guardas municipais e corpo de bombeiro? Eleitores cidadãos ou uma reca de bandidos e arruaceiros? Vá tentar entender os meandros da política eleitoral, e boa sorte.   

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