MEU PERCURSO DE DEZ
Nathan Sousa
Escritor e poeta
Há 10 anos eu escrevia o que viria a ser o primeiro poema do meu primeiro livro: COMBATE. Oito meses depois, entre tentativas de abortar o projeto e a escrita de um poema e outro, os originais do livro caíram na mesa de uma gráfica. Era o ano de 2011. Mais precisamente, março de 2011. De lá para cá, sinto-me como se eu estivesse vivido outra vida, quase excludente da primeira. Com 37 anos, retomando um curso superior, depois de ter abandonado vários, trabalhando como revisor de textos de maneira autônoma, solteiro e solitário, sem filhos, tentando superar o vazio deixado com a partida de meu pai, eu perambulava pelas ruas de Teresina como quem não sabia para onde ir, mas sabia que tinha que seguir.
E lá se vão 10 anos. Troquei uma cidade de 01 milhão de habitantes por uma de 05 mil, encarei a partida de minha mãe como quem olha para o vazio das próprias mãos em meio ao fogo cruzado da guerra, dei de cara com alguns dos meus fantasmas mais carniceiros e algumas das melhores pessoas que conheci, pelas ruas de São Gonçalo do Piauí, e aqui estou, dez anos depois.
Vejo o semblante sereno de minha irmã e recebo uma mensagem sorridente de minha filha de quatro anos, me pedindo para passar o sábado comigo. Respiro fundo, dou uma rodada em minha cadeira de trabalho, passo em revista, com um pequeno esforço de memória, os 14 livros que publiquei, os 53 prêmios que eu ganhei, a indicação ao Prêmio Jabuti e ao I Prémio Internacional de Poesia Antonio Salvado, as duas centenas de antologias às quais eu faço parte, as 04 academias às quais eu pertenço, e pego, do meu lado, um exemplar de O PERCURSO DAS HORAS.
Rezo um Pai-Nosso baixinho, quase silencioso, e vejo, no espelho do quarto, o reflexo da palavra “Litterae” tatuada em meu braço direito. Abro novamente as mãos e, com uma coragem que só aos loucos e aos devotos sabe se revelar, dou ordens à poesia: PODE VIR!!
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