BOB, o palhaço - um artista de rua
José Luiz de Carvalho
Escritor e Presidente da APAL
Estou finalizando, para publicação
ainda este ano, um livro denominado “Hilários – Contos e Causos” que reúne
várias estórias engraçadas as quais venho escrevendo ao longo de várias décadas
e nesse trabalho resolvi fazer uma homenagem ao palhaço Bob, um artista que eu
conheço há mais de 30 anos. Ele morava
em uma pequena favela, o “Inferninho” onde havia várias construções
abandonadas, localizada entre a Avenida São Sebastião e o Mercado de Fátima,
naquela época, aparentemente ele tinha já uns 50 anos. Sempre gentil, atencioso
e principalmente muito falante. Todas as vezes que nos encontrávamos, contava
um pouco da sua história. Mesmo sem ter muito tempo para conversar, pois como
sempre ando muito apressado, cuidando das muitas coisas que gosto de me
envolver. Além dos mais, eu tinha acabado de assumir a chefia do Grupamento da
TASA no aeroporto de Parnaíba.
Em 1986, aquele aeroporto
apresentava pouco movimento de aeronaves e não tinha uma equipe completa de
profissionais especializados. Muitas vezes eu tinha que trabalhar no expediente
e depois concorrer na escala de serviço, operando a estação aeronáutica. Mesmo
assim, nas minhas poucas folgas estive muitas vezes ali na praça da Graça
ouvindo-o, contar suas piadas ou mesmo cantar, imitando cantores conhecidos,
principalmente: Valdick Soriano, Caubir Peixoto e Nelson Gonçalves, dentre
outros. Bom que se diga, sempre teve uma bela voz e interpretava muito bem.
Bob dizia que era oriundo da
Paraíba, nascido na cidade de Catolé do Rocha de onde muito jovem foi embora
para São Paulo, tentar arranjar algum emprego, e acabou morando pelas ruas e
trabalhando de cara pintada e vestido de palhaço. Também se tornou cantor, se
apresentando nas freiras e praças. Afirmava que já tinha participado de
importantes programas na Rádio Piratininga.
Nos anos 50, costumava abrir os shows dos cantores Agostinho dos Santos
e de Nelson Gonçalves e que participou de programas com Silvio Santos, na
época, o “Peru que Fala”, na Rádio Nacional.
Também garantia que tinha se apresentado nos programas do Silvio Santos,
Hebe Camargo, Raul Gil e também no canal 5 da TV Globo em São Paulo, da qual
fez a propaganda e participou de sua inauguração no ano de 1960. Ele relembrava o seu sucesso com orgulho,
falava das suas apresentações em espetáculos de grandes circos nas cidades do
Rio de Janeiro e São Paulo, nessas capitais e também nas cidades
interioranas. Ele me contou que decidiu
retornar para o Nordeste, na caravana do cantor Mauricio Reis, que era também
paraibano.
Na verdade, nada se pode garantir
sobre a veracidade ou não de suas histórias. Valdemar Costa, é esse o seu nome
de batismo, porém ele prefere ser chamado pelo nome do seu personagem, o
Palhaço Bob. Longe dos holofotes e dos picadeiros,
imaginários ou não! Ele viveu as últimas décadas aqui em Parnaíba, na região
central da cidade, interpretando o palhaço e cantor que sempre foi.
Hoje, o idoso cidadão, Valdemar
vive no abrigo São José, no bairro de Fátima, ainda alegrando com a sua arte
aos seus pares; pessoas muitas vezes sem parentes e nem aderentes, ali
recolhidos e protegidos pelo Estado do Piaui.
“No dia do Circo, apresento a
minha singela homenagem a este grande artista, o Bob”.
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