segunda-feira, 31 de maio de 2021

Cícero de Andrade Veloso



PREFÁCIO

(ao livro Cícero de Andrade Veloso: biografia de um bom homem e um grande maçom)


João Paulo Peixoto Costa

Historiador e Doutor em História Social


Há muitas décadas as/os historiadoras/es mudaram o foco de suas pesquisas. Antes voltada exclusivamente a enaltecer “heróis”, grandes vultos dos meios político, militar ou econômico, a História transformou suas prioridades e se direcionou à vida “dos de baixo”. A humanidade, com suas conquistas e reviravoltas, não se fez apenas pela ação de figuras ilustres, mas principalmente pelas massas de pessoas anônimas, tantas vezes esquecidas, mas que fizeram o mundo caminhar, inclusive no cotidiano e nos momentos aparentemente mais banais. Cícero de Andrade Veloso por certo não era um homem de cabedal ou que se enquadraria nos antigos parâmetros de protagonista de um livro de História. Felizmente, o mundo mudou, e quem o conheceu sabe que sua vida inspiradora deveria continuar a ser contada quando não estivesse mais aqui. Para a tarefa, não havia pessoa mais indicada do que José Ataíde Torres Costa Filho. 

Com memória aguçada, olhar sensível aos acontecimentos e escrita leve, José Ataíde Filho nos embala pela trajetória de Cícero e nos faz querer saber mais ao longo da leitura, desde seus primeiros anos de vida em meio à numerosa família de Valença, passando pelo percurso profissional, suas andanças pelo Piauí, a apaixonada experiência maçônica e a amorosa construção de sua prole. Na condição de genro do personagem principal, a proximidade do autor com seu biografado não se resumia a conexões formais, mas se explicava pela personalidade acolhedora dos dois e pelo caráter honesto, bondoso, humilde e extrovertido de Cícero. Sagaz na escolha do tema e no desenvolvimento narrativo, José Ataide Filho generosamente compartilha conosco um pouco do que conheceu em meio à convivência tão prazerosa e daquilo que presenciou do afeto com seus filhos, netos, bisneto e sua esposa Vilma, amada companheira de tantos anos.

A vida bem vivida de Cícero ultrapassava a casa e se estendia àqueles com quem conviveu no trabalho e na Maçonaria, a que dedicou muitos anos de serviço. Os depoimentos recolhidos em anexo, bem como os diplomas e certificações que acumulou pelo caminho, atestam a pessoa batalhadora, carismática e querida que era. Eu, como sobrinho do autor, compartilhei em algumas confraternizações de família ou em almoços de fim de semana um pouco de sua companhia sempre muito agradável e divertida, e só posso imaginar a sorte das/dos que com ele conviveram. A saudade deixada com sua partida também é prova das coisas boas que disseminou por sua vida. 

Se engana quem vê a rua e a loja maçônica batizadas com seu nome e o imagina como uma poderosa autoridade de alguma elite qualquer. Cícero Veloso apenas viveu sua vida da melhor forma que pôde, e, por isso, é merecedor das melhores lembranças para quem o conheceu. Das maiores conquistas aos hábitos engraçados do dia-dia, sua trajetória tão bem contada por seu genro e amigo José Ataíde Filho é fonte rica para quem quer conhecer a história do Piauí por uma biografia e inspiração para as pessoas a quem tanto queria. No fim das contas, Cícero foi um homem comum: maçom, trabalhador, pai e avô, filho com muitos irmãos, um menino do interior do Piauí. Ao mesmo tempo, uma pessoa extraordinária porque teve uma vida que certamente todas/os nós gostaríamos de construir: trabalhando honestamente, apaixonado pelo que fazia, amando a família que construíra e, enfim, sendo feliz. 


Teresina, 16 de abril de 2021.

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