sexta-feira, 27 de agosto de 2021

UM DESESTRESSANTE ATO DE VANDALISMO

Fonte: Google

 

UM DESESTRESSANTE ATO DE VANDALISMO


Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

 

                Já à vontade, Sandoval me falou sobre os episódios com os quais interagiu, no trânsito teresinense, em uma tranquila tarde de sábado, entre dezesseis e dezoito horas, quando saía de casa para assistir à tradicional peladinha sabática de velhos amigos – atualmente, sem resenha, cassada, temporariamente, pela pandemia -, e no retorno, logo depois do joguinho.

                Seguia na via, no sentido leste oeste quando o primeiro semáforo do percurso se abrira para ele. A quem vinha em sentido contrário, naquele sinal, não era permitido entrar para a esquerda. Quer dizer, a algumas pessoas, porque para motoqueiro, como aquele, a regra não valia. A propósito, é possível que existam, dentre os que trabalham com aplicativo, quem obedeça à sinalização de trânsito; confessou-me Sandoval, porém, que, enquanto e, por onde tem transitado, não encontrou um só que fizesse isso; até parece que são instruídos a arrepiá-la. O sujeito querendo cruzar a via, perpendicularmente, a fim de entrar na outra avenida, cometeu o acinte de sinalizar querendo avisá-lo de que sua intenção era cometer a irregular conversão antes que Sandoval ultrapassasse, corretamente, o sinal. Como não estava disposto a contribuir com tão irresponsável ato, piscou, alertando-o de que não iria permitir que fizesse o que estava imaginando: ele iria, como fez, completar seu deslocamento aproveitando o sinal aberto; do mesmo modo que o motoqueiro, também estava com pressa. Por que o bonito não procurava o primeiro retorno que lhe permitisse voltar e fazer a conversão correta? Após cruzar o semáforo, viu que o teimoso, esquivando-se de um ou outro veículo, ziguezagueando, fumaçando, correndo o risco de provocar perigoso acidente, conseguiu seu intento: furou o sinal, invadiu as pistas contrárias e migrou para a via na qual desejava prosseguir, sem nem olhar para trás. Afirmar-me-ia Sandoval que até torcera para que a figura levasse um bom tombo e se arranhasse um bocado; como o desejo não foi tão sincero, pelo menos naquele instante a queda não aconteceu.

                No retorno para casa, um movimento executado também por um motoqueiro – para ele, motociclista é o que costuma transitar obedecendo regras de trânsito válidas para todos -, e de aplicativo – será que não são multados, já que não se preocupam em avançar sinal vermelho, passar sobre canteiro ou meio-fio, circular entre veículos com seus bagageiros riscando as latarias de alguns? -, apenas um pouco diferente do primeiro, mas não menos irresponsável, deixou-o deveras irritado. Aos que pretendiam continuar na via ou convergir, perpendicularmente, como era o caso de Sandoval, para a outra, na qual circulava o sujeito, o sinal estava aberto; ainda que fechado para ele, assim mesmo o apressadinho queria seguir em frente, de modo que, sem parar, ficou se equilibrando na motocicleta, até que meu velho amigo fez a conversão desejada; ato contínuo, o indivíduo, em meio a buzinaços e palavrões, tanto dos que gostariam de fazer o mesmo que Sandoval, quanto dos que pretendiam continuar na primeira transitando, invadiu o sinal, cruzou as pistas contrárias, e se mandou com os produtos, certamente, quentes os que precisavam estar frios, e frios os que deveria entregar quentes, ou não haveria motivo para tanta pressa. Cria que, também dito motoqueiro, não fora vítima, na ocasião, de uma educativa e merecida queda. Mas como diz aquele ditado: quem procura, termina achando; portanto, melhor não abusar da sorte: vai que praga rogada pegue.

                Como a tarde se mostrasse repleta de péssimos exemplos no trânsito, a mais um Sandoval assistiu; só que, desse, finda sua paciência, participou, ativamente. Estava a uns três quilômetros de sua residência; em certo momento, decidiu mudar da pista direita em que circulavam, muito lentamente, alguns veículos, para a esquerda, na qual deveria permanecer alguns segundos, tempo suficiente para ultrapassar os modorrentos companheiros de banda de rodagem, e, talvez, à mesma retornar. Na pista esquerda, entretanto, um veículo ainda mais lento que os do seu lado, não lhe permitiu, de imediato, realizar o movimento desejado; tentou avisá-lo do intento, a princípio, piscando; como não obtivesse sucesso, sutilmente, buzinou, pedindo passagem. Diante da buzina, a lesma que conduzia o veículo bloqueador, colocando o braço esquerdo para fora, sugeriu que ele o ultrapassasse pelo lado errado, o direito, ou continuasse atrás dos colegas tartarugas; o que parecia impensável àquele cidadão era abandonar sua aconchegante pista. Fez a bobagem, conseguiu espaço à frente dos velhos companheiros e cruzou o condutor turrão pela direita; mas, como não tivesse ficado satisfeito com a atitude daquele sujeito, segundos depois, retornou à pista esquerda, postou-se atrás dele, piscou várias vezes, buzinou outras tantas, e o cara resistindo; não desistiu, ligou o farol de luz alta, e como seu veículo era mais alto que o dele, o facho refletiu intensamente nos seus retrovisores, encandeando-o. O vingativo ato de vandalismo surtiu efeito e ele sucumbiu: não demorou, mudou para a pista direita, e Sandoval seguiu adiante, não sem antes colocar o braço esquerdo para fora e fazer um irônico sinal de positivo com o polegar. Poucos metros depois, convergia para o logradouro onde residia; naquele momento, já inteiramente desestressado.

                Chegou em casa mal havia começado o clássico da rodada do campeonato brasileiro. Não era seu time que jogava, mas o, pelo qual decidiu torcer, ganhou de lavagem do adversário. A resenha que não havia feito, fê-la com a patroa, a quem, alegremente, contou suas aventuras – e da qual levaria as devidas broncas - enquanto dividiam um bom tinto português.    

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