segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Um paraíso

Fonte: Google

 

UM PARAÍSO


Alcione Pessoa Lima

Poeta e escritor


A gente vive à procura de um acolhimento sincero, da simplicidade, da honestidade dos gestos, de um carinho gratuito, sem a pressa da vida, mas, sentindo a vida correr, lentamente, como água de ribeirão, como nuvens sem propósito, como um rio que desse em seu leito sem a preocupação de que um dia suas águas chegarão ao mar.

Uma busca latente, um desejo profundo de conhecer suas raízes, de saudar os caminhos, os olhares, a vegetação, por vezes seca, em outras, sentido a verdejante natureza que renasce, que provém a colheita; um cheiro de mato, que a vida campesina é capaz de oferecer. 

E seguindo a trilha do desejo, em busca de abraços, de sentir um colo acolhedor de entes divinos, capazes da superação diária ou de anos, desde que fincados em seu chão, sejam felizes.

É desse manancial que precisamos, e, se muitas vezes distante, o tornamos remoto, impossível de alcançá-lo, ficamos em nossos casulos a resmungar a solidão dos dias. 

Mas, quando tudo está escrito, perseguimos na busca desse paraíso, como se o corpo e espírito necessitassem dessa dose cavalar de um amor verdadeiro, sem limites, a nos abraçar como se fôssemos a peça faltante, que o destino tão precocemente subtraiu.

A trilha sagrada, o beco que leva ao rancho, ladeado por cercas, sob olhares da vacada ou galinhas caipiras, d’angolas, satisfeitas em seu terreiro, sem qualquer moção por voar.

E ao aproximar-se daquela casa amarela, sob olhares de seus protetores, latidos e espreitas anunciam a chegada do antes estranho. Não sabiam eles que o tempo levou como o vento a uma folha sementes que germinaram em outro chão, mas o cordão umbilical ainda se encontra cravado no coração dos que ficaram.

E lá estão, de braços abertos, a oferecerem um aconchego terno, uma alegria contagiante, como a reconhecer os aromas de sangue, misturados aos da vegetação (velame, fedegoso, muçambê), abrindo caminho sob tapete de flores de um ipê. 

A beleza de um encontro e posteriores reencontros, pois, segundo Exupérry, somos eternamente responsáveis pelo o que cativamos, é que fortalece um laço, o abraço fraterno solidificando um elo perdido, porém, nunca esquecido. O ciclo se fecha. 

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