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QUEM DISSE QUE PARA SER BOM
PRECISA SER HONESTO?
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
(afcsousa01@hotmail.com)
Há quem diga que ser justo e bom,
é ser perfeito. A princípio, entendi que ele parecia criticá-lo quando dizia
que, desde que assumira seu emprego, no mesmo local e da mesma forma que o
dele, por indicação política em atendimento a pedido de apadrinhado, jamais o
vira apresentar-se em seu posto de trabalho. Por outro lado, complementava, sempre
que ameaçavam atrasar ou deixar de pagar-lhe o salário, independentemente do
motivo alegado, valia-se, antes, do telefone fixo, depois e-mail, celular,
senão de amigos, parceiros ou cupinchas, para cobrar justiça, questionar ou
exigir explicação do responsável pela elaboração da folha de pagamentos acerca
da atitude, no mínimo, desrespeitosa que estivera prestes a ser cometida contra
ele: deixá-lo sem a santa sinecura; aproveitava-se, não raro, nessas ocasiões,
para examinar, informar-se ou confirmar se conversas ou buchichos relacionados
a possíveis reajustes em seus vencimentos teriam fundamento.
Sabiam,
pelo menos, gente de sua repartição – então, eu também -, que o sujeito seria
um bem-sucedido empresário do ramo de entretenimento e da gastronomia, um homem
da noite, dono de casas de eventos, pubs, bares. Ou seja, seu vultoso salário
naquela repartição pública à qual nunca comparecia, sequer para visitar os que,
por lá, davam sua cota de suor e “sacrifício”, prebenda percebida por conta de
gratificação referente a cargo de confiança que não exercia, mas que, só para
não variar, era bancado pelo contribuinte. A despeito de perceber um ordenado
ao qual não fazia jus, pelos já explicitados motivos, aos olhos de
pseudotoleirões, indivíduos, do mesmo modo tão canalhas quanto ele, o moço
posava de bom sujeito e gozava de alto conceito: era tido como religioso
convicto, um inveterado carola, um beato de igreja, nas quais, a depender do
evento de que participasse, ou ficava nas filas de bancos próximos às portas de
entrada dos fiéis, a fim de ser mais visto ou reconhecido, ou dividia cadeiras
com as “autoridades”, durante as diversas eucaristias a que acompanhava.
Percebi,
depois, que não era crítica o que aquele companheiro fazia a seu colega
fantasma: na verdade, demonstrava uma espécie de admiração explícita, uma
homenagem à esperteza e sagacidade do indivíduo, coisa que, talvez ele não
tivesse. Quisera fosse ironia dele admitir tal salafrário como bom sujeito. Que
é isso? Não saberia dizer, para quem ousasse querer ver ações como essas
defensáveis, em que momento o pulha estaria sendo mais desonesto: se em sua
hipocrisia religiosa, ou em continuar recebendo recursos públicos, desviado na
forma de vencimentos, por uma função que não desempenhava. Possivelmente, o
gostinho por estar passando para trás que não tinha costas largas, tanto quanto
sua contribuição na dilapidação da grana do estado, levassem-no à obtenção de
um prazer quase orgástico.
Não,
propriamente em defesa do irresponsável e falso servidor público, mas na forma
de velada crítica à maneira como encaro esse tipo de patifaria, já me disseram
que eu, provavelmente, estaria sendo demagogo, haja vista, certamente, saber
que tantos fazem a mesma coisa. Será que não quereria parecer honesto demais? Cutucam-me.
Não apenas ante essa ocorrência, em tantas outras ocasiões tenho perdido a
paciência com tão compreensíveis cidadãos para com os malfeitos de esses
coitadinhos. Irritado, repetidas vezes, chego a dizer-lhes estar me
transformando naquele tipo de sujeito, irascível, para quem as pessoas ou são
honestas ou desonestas; parecer uma coisa ou outra, significa ser a pior delas;
e, especificamente, em relação ao elemento em comento, nenhuma eiva de
honestidade se lhe permeava, pelo contrário, quem age como a figura, dando-se
ao luxo de exigir benefício ou vantagem que não merece, o mínimo que lhe
poderia acontecer seria ter que devolver até o último centavo tudo que solapou
do erário por conta de serviços não prestados, trabalhos não realizados. Atribuir
algum tipo de proporcionalidade entre essas condições dualistas – honestidade e
desonestidade -, vejo como inaceitável do ponto de vista moral e ético;
tampouco teria qualquer relevância impor pesos diferentes visando diferenciar
situações mais, ou menos graves. Aqueles que, de modo recorrente, contumaz,
incorrem na prática de atitudes desonestas, quando, vez ou outra, metem-se a
praticar atos honestos, dificilmente, quem os conhece não vá perceber segundas
ou escusas intenções nestas beatitudes; a não ser os que admitem como algo
banal e desprezível criticar ou condenar alguém por um crime, contravenção ou
infração - negados por eles como tal -, postos à disposição de quem quer que
fosse/seja para cometê-los ou os praticar.
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