quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

3 poetas (na) Entrelivros



3 poetas (na) Entrelivros


Elmar Carvalho


Recebi convite do poeta Walter Lima para me encontrar com ele na Livraria Entrelivros, ontem, às 15:30 horas, a pretexto de tomarmos um cafezinho e de que tinha um livro para me dar. Quando cheguei, no horário combinado, lá já se encontrava o poeta Adriano Lobão Aragão.

Walter Lima é altoense, mas o conheci em Teresina, onde era radicado. Alguns anos atrás foi morar em Rio Preto – SP, onde exerce a sua profissão de contador. É um poeta talentoso, muitas vezes experimentalista, a jogar com as palavras de maneira criativa, com o uso de novas formas, fôrmas e fórmulas.

Quando se compromete a revisar um trabalho literário, o faz com competência, rigor e olhos de lince. Detalhista, descobre erros que dificilmente outra pessoa descobriria. Contudo, claro, sabe distinguir muito bem uma licença poética ou literária, cometida propositadamente pelo autor, do que realmente seria um erro gramatical, seja de concordância ou de sintaxe. É também um grande leitor, arguto, observador e constante no vício salutar da leitura.

Costuma garimpar raridades e preciosidade em sebos de São Paulo. E foi justamente um desses livros que ele me entregou na Entrelivros, com amável dedicatória. Fez uma observação sobre algum possível simbolismo ou cabalismo da data: 21.12.21. A obra é Primaveras, de Casimiro de Abreu, editada por Livraria Exposição do Livro, sem data, infelizmente.

Sem termos pretensão a peritos ou detetives, eu e o poeta Adriano Lobão, pela tipologia, pelo tipo de papel e pela ortografia, atribuímos que seja anterior aos anos 60. Os textos preambulares são antigos, da lavra do próprio Casimiro, e datados, tanto a apresentação como o poema/dedicatória, do ano de 1859. Seu poema inicial é Canção do Exílio, de suave, singelo e belo lirismo, que é uma marca do grande poeta do Romantismo Brasileiro.

Com relação ao poeta Adriano Lobão Aragão posso dizer que o considero um dos melhores poetas de sua geração. Muitos anos atrás, ao fazer parte de um júri de concurso literário, atribuí as melhores notas aos seus versos. Não havia identificação dos autores, mas quando vi os poemas publicados, recordei que lhes destinei alta pontuação. Contudo, só o conhecia através de leitura e de vista, posto que nunca fomos formalmente apresentados, nem nunca estivemos numa mesma roda de conversa. Mas sempre lhe admirei a discrição e o talento poético. Disse discrição, porque ele não é um poeta/pavão, nem tampouco poeta/ostentação. Segue seu caminho sem trombetas e sem forçar barras, como se dizia outrora.

Nesse encontro, lhe ofertei meu romance Histórias de Évora, e ele me retribuiu com seu livro “destinerário”, com excelente projeto gráfico dele próprio. As fotografias e os desenhos são também de sua autoria. Os poemas e as fotografias se referem a diversas cidades do Piauí, mas também a algumas paragens/paisagens do Ceará, Maranhão, Tocantins, Minas Gerais, Alagoas e Sergipe.

O livro, pelo formato e projeto gráfico, pelas suas fotografias e imagens, termina sendo um objeto de arte em si mesmo, e o guardarei entre meus livros/álbuns, que fogem aos padrões vulgares. As fotografias são flagrantes de logradouros e paisagens, e os poemas se referem a essa temática, mas não são meramente descritivos.

Aliás, quase sempre não são descrições, porém alusões líricas, impressões, sentimentos, estados de alma que a contemplação dessas paragens/miragens provocaram no poeta. São, à falta de melhores palavras, uma espécie de pintura poética, de feição abstrata, concreta e impressionista ao mesmo tempo, tudo impregnado em versos concisos, líricos e de forte carga metafórica.  

Foi, portanto, uma boa tarde o nosso encontro, o encontro desses 3 poetas, em que só faltou mesmo o cafezinho, que terminamos esquecendo.

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