quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

A São João dos velhos tempos

Fonte: Google


A São João dos velhos tempos


João Libório


Era bem simples a nossa cidadezinha, porém bem bonitinha. Os quarteirões quadradinhos, e as ruas tão retas que até podíamos ver as duas extremidades.

Eram somente três ruas. A Rua Grande, onde morávamos, era a principal e parecia não ter fim quando com nossas perninhas infantis precisávamos ir ao outro lado, geralmente a mando de algum adulto. No meio dela, se localizava a pracinha, que também servia de divisória entre o lado de cima e o lado de baixo, toda de mosaicos, com passeios sinuosos sempre ladeados por fileiras de boas-noites e bons-dias, e que às tardinhas nós passeávamos animadamente com velocípedes, sempre disputando corridas com outros meninos.

Sempre faltava luz elétrica, pois o velho motor diesel geralmente se encontrava com defeito, e que por isso, tão logo anoitecia, os mais velhos sentavam-se às calçadas para infindáveis conversas com os vizinhos, e nós, os meninos, saíamos à rua, ainda descalça, para nossas brincadeiras típicas de meninos do interior que não tinham outra coisa para fazer senão brincar de esconde-esconde, adivinhações ou contar estórias, enquanto as meninas brincavam, com muita gritaria, de “bola envenenada”, ou cantando em uníssono, bem afinadas, lindas canções de rodas, que devido ao silêncio se ouvia de muito distante.

Também não havia água encanada, mas no nosso quintal havia um poço cacimbão, com água salobra, que supria nossas necessidades e que também serviu para demonstrar mais tarde, que eu estava crescendo, pois já conseguia girar o grande carretel que puxava o balde e ajudar na tarefa de encher os potes e reservatórios de água da casa. Para nossa alegria água para beber íamos buscar em cacimbas no rio, (Beco do Potão) momento que aproveitávamos para tomar banho e passar grande parte do tempo brincando na areia, fazendo castelos, casas e os nossos próprios sonhos.

E assim fomos crescendo, juntamente com nossa pequena cidade, que hoje tem muitas ruas, todas calçadas, muitas praças, muitos carros, muita gente, mas que também, assim como nós, deve sentir saudades do sossego e da paz dos velhos tempos.

Teresina (PI) novembro/01.  

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