sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O NEUROLOGISTA SILVA NETO




O NEUROLOGISTA SILVA NETO


Wilton Porto 


NA DÉCADA DE 80, integrantes de movimento popular e dos grupos ativos da igreja católica, principalmente de todo o Piauí, acorriam para Esperantina-PI, onde Pe. Ladislau João da Silva, filho da cidade de  Pedro II, atuava como Pároco daquela região. 


Seguindo os passos  do Concílio Vaticano II, na Colômbia, e Puebla, no México, que fizeram com que a Igreja Católica Apostólica Romana assumisse a preferência pelos pobres, Pe. Ladislau, com o seu trabalho libertador, tornou-se um dos ícones da igreja,  no Norte do estado, com irradiação para além dos batentes do Piauí. Esperantina recebia gente de várias cidades e de outros países, que comungavam das mesmas ideias. 


Eu era ativo na Igreja. E ia com frequência a Esperantina. Ficava lá a semana toda. Porque, eu fazia muitas palestras, cumpria missão em várias partes do Piauí e Maranhão.

Foram nessas idas e estadas em Esperantina, na década de 80, que conheci, o hoje Neurologista Raimundo Pereira da Silva Neto. Mais conhecido na atualidade como Neurologista Silva Neto.


Silva Neto, como muitos jovens de Esperantina, não ficou alheio às ações e comentários sobre Pe. Ladislau. Acompanhou de perto o desenrolar da história e, fez mais: foi parte ativa dessa história. 


Eu iniciei nas letras muito jovem. E Silva Neto também. Esta sintonia de sensibilidade aprouxinou-nos com maior integração. Silva Neto mostrou-me seus poemas e aproveitei para publicar em coluna que tinha em Parnaíba.

Segundo, o próprio Neurologista, o pai dele tinha uma carroça de fretes, e como menino de sonhos elevados, ele ajudava o pai nessa tarefa. Além disso, o jovem completava as suas ações de contribuir em casa, vendendo dindin e frutas.

Na foto de 1983, período em que nos conhecemos, diz Silva Neto: "O cenário era de extrema pobreza!" 


A pobreza foi razão sublimar para impulsionar muitas crianças e adolescentes e jovens a não se intimidarem com as adversidades. A não se deixarem colher nos braços da incompreensão e se atolarem nos vícios. 

Pe. Ladislau mostrava um Cristo Crucificado, que se importava com os decaidos,  desprezados, excluídos... E Silva Neto estava atento àquelas homilias. Nos encontros, o Evangelho era lido nas linhas e entrelinhas. E, se agia conforme falava.

Como à época dos primeiros cristãos, todos se ajuntavam e se ajudavam. 

Eu próprio fui em missão no interior e ajudei na construção de casa, à base do mutirão. 

"Terminei o ensino médio em Esperantina, aos 16 anos de idade, sem nunca tirar uma nota diferente de 10. Apesar de ter estudado sempre em escola pública, passei no vestibular para Medicina, na UFPI", afirmou o Neurologista. 

Esta determinação, tenho visto em muitos  que são tocados pelo Espírito Santo desde ternra idade. Vi essa Força agir em mim, quando eu ainda não sabia direito a importância do Pai-nosso e nem a riqueza do Sinal-da-Cruz. Compreendia a necessidade de ser arrimo de  família aos oito anos de idade, contudo, era-me inexplicável o destino pregar-nos tal peça. Não devo entrar no mérito de tal trajetória. 


Silva Neto também foi lapidado com um esmeril de mente elevada. Uma Força Maior do que a dele agia com sapiência na  mente e no destino dele desde sempre.

Embora, a situação de pobreza, ele se destacava na escola. A sua mente não é tão nova. A bagagem que esse Neurologista possui, os enfrentamentos que encontrou na sua trajetória de caminhada, o que esse rapaz já conquistou e o destaque que vem alcançando, falam por si só. 

Se o brilho que irradia da fronte desse esperatinense, tivesse a receptividade no Brasil, como o tem em outros países, a neurologia brasileira, acima de tudo no tocante à cefaleia, que deixa tanto com muitas faltas no trabalho, poderiam olhar de frente este nordestino, que usando de uma metáfora, é sol escondido nas nuvens da incompreensão, que gera o estufado ego, na medicina dos elevados cifrões. 


O jovenzinho que muitas vezes prometeu a si próprio, nos dias de Sol a pino, que seria um nome escrito com os raios do Sol piauiense, cumpriu a sua meta, superou todos os obstáculos, com sete livros publicados incontáveis artigos publicados em revistas internacionais,  prêmios de alto valor, disse-me com o ar de tristeza, ele que nasceu numa cidade de batalhas tantas e cores inúmeras, que hoje a sua integração em grupo é só da igreja, "a política muito me decepcionou!" 


"Sou membro da International Headache Society(Sociedade Internacional de Cefaleia), em Londres.

Reviso artigos científicos para as principais revistas da Europa e EUA.

Ganhei o prêmio do Melhor Artigo, publicado na América Latina.

Alguns meses antes da pandemia, recebi um convite para estágio de Pós-Doutoral, em Cambridge, na Universidade de Harvard(sonho adiado pela pandemia).

Há alguns meses, convite da Editora Springer para escrever um livro sobre cefaleia.  Esta Editora distribui os seus livros em todos os Continentes. Aceitei o convite e o livro está na fase de correção. Terei como coautora a Dra. Dagny Holle-Lee, uma renomada Neurologista da Universidade de Essen, na Alemanha", disse-me. 


Ele também trabalha na Universidade do Delta do Parnaíba, como Professor, Doutor Adjunto de Neurologia, na graduação em medicina, atuando no ensino, pesquisa e extensão; Professor Doutor Permanente na Pós-Graduação em Ciências Biomédicas, como orientador do curso de mestrado. Médico Neurologista Especialista em Cefaleia (Cefaliatra), na Clínica Neurocefaleia,  em Teresina, a primeira clínica do Norte e Nordeste do Brasil, especializada no diagnóstico e tratamento das cefaleias. 


Para um jovem que ajudava o pai, como carroceiro, e completava a renda da família, vendendo dindin e frutas, que em 08 de abril 1989 enviou-me uma poesia, em que versava sobre um amor platônico, quanto crescimento! Quantas vitórias!

Ele merece um olhar, que não lhe leve a um furtivo sorriso platônico.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário