Guernica, de Pablo Picasso Fonte: Google |
Cartaz do filme O Pianista, que mostra muito bem o que uma guerra causa |
Pintura de Socorro Ramalho, baseada em meu poema, enviada por WhatSapp |
GUERNICA
(ou versos extraídos da guerra)
Elmar
Carvalho
Cogumelo de fogo
para o céu
erguido
como um cálice
de lágrimas e
fel.
Dragão de ferro
encouraçado
a cuspir fogo e
bala
pela boca de
morte dos canhões.
Órfãos famélicos
indigentes
de olhos
desvairados e pidões
e mãos esquálidas
estendidas.
Escombros de
argamassa
e de ferros
retorcidos
como expostas
vísceras
dilaceradas
pelas ruas mortas
e abandonadas.
Horda de famintos
revolvendo os
detritos fétidos
dos monturos
espúrios da cidade.
Rajadas e
metralhas
de homens contra
homens
que nunca se
viram,
na impessoalidade
do ódio
imotivado.
Letíferos fogos
de artifício
de macabra
pirotecnia.
Bolas e bólidos
de fogo na noite
de aéreos mísseis
e baterias antiaéreas.
Foguetes de
mortíferas
lágrimas
incandescentes
belas bélicas
indecentes
belicosas pétalas
de rosas
de novas
hiroshimas e nagasakis.
Desolação.
Insolação. Solidão.
Insólita busca da
sombra
de árvores
dilaceradas
de galhos
decepados
de copas
mutiladas.
Sombras que não
dão sombra.
Corpos empilhados
na espera das
aves de rapina
ou da boca
desdentada das covas rasas.
Legiões de
famintos e mutilados:
seios drenados
até a última gota;
olhos de fontes
exauridas;
braços sem mãos,
mãos sem braços;
filhos sem mães,
mães sem filhos;
pernas sem pés,
pés sem pernas;
filhos sem pais,
pais sem filhos.
Tudo sem pé nem
cabeça:
cabeças degoladas
rolam nas estradas.
Guerra: garra,
gárgula, grilhões, gosma, guetos,
genocídio, gritos,
grude, gorja, gonococos,
ganância, gotas
de lágrima, gotas de sangue,
grogue,
gogue/magogue, Gólgota: Guernica.
Desassossego até
de inocentes e indefesos animais.
Guerra: essência
de sandice e ponto final +
Guerra
ResponderExcluirEssência da sandice
A punjança do ordenamento das palavras postas neste poema traduz a dor e o horror da guerra! A brutalidade do cenário está exposto com a veemência verbal do seu talento oratório. Sou capaz de ouvir o metálico estalido das engrenagens das metralhadoras cuspindo balas ao som da sua horripilante música da morte.
ResponderExcluirA intempérie causada pela chuva de bombas esconde em seu negrume a paisagem outrora fascinante. O olor de fogo e fumaça está exalando deste texto como se eu estivesse presente ali. Conseguiu o condão de uma visão tridimensional do contexto.
A pintura de Socorro Ramalho externa com exatidão o meu sentimento!
Sinto, ainda, a dor das personagens!
Sem mais palavras diante da arte descrevendo a morte.
Parabéns!
Muito bom: não há vencedores numa guerra. Parabéns por dispor de seu tempo para a promover a paz. Até breve.
ResponderExcluirPoema contundente, muito oportuno por agora também
ResponderExcluirMeus amigos comentaristas, fico comovido com as palavras amáveis e estimulantes de todos vocês. Muito obrigado.
ResponderExcluir