EXAMES COMPLEMENTARES
José Expedito Rêgo
Eu sou muito velho. Comecei a clinicar, em Oeiras, antes da criação do INPS. Atendia os “não-pagantes” no Posto de Higiene do Estado e grande parte, também, no meu consultório. Ganhei algum dinheiro de clientes particulares, construí uma casa, comprei o primeiro carro, um jeep de segunda mão. Depois a coisa melhorou, cheguei a possuir um Aero-Willis de quatro portas.
Não quero, entretanto, falar de mim. Desejo apenas mostrar as preferências, no ponto de vista dos doentes, que bem caracterizam as inconstâncias de espírito humano. Naquela época, os serviços laboratoriais eram pagos. A Previdência não estava aberta à saúde. Sendo pedidos exames complementares, o freguês chiava, considerava incapaz o facultativo. Bom era o profissional que interrogava o enfermo minuciosamente, examinava-o com todo cuidado e, em seguida, passava a receita. Nada de testes subsidiários. Citavam o Dr. Isaías Coelho, de Simplício Mendes, velho esculápio experiente, bastava colocar o aparelho no peito do paciente e dizia logo se estava tuberculoso ou com mal de Chagas, seus raios-x eram os ouvidos.
Agora que tudo é por conta do SUS, ninguém mais fica zangado quando são solicitadas pesquisas auxiliares. Muito pelo contrário. Mal o médico termina a inspeção preliminar, vão logo pedindo: – Dr., eu quero fazer todos os exames. Todos os exames são o sumário de urina, parasitologia de fezes e o hemograma, este para ver se estão com “nemia”. Algumas gestantes que fazem o pré-natal na Fundação SESP vão logo dizendo, antes de qualquer pergunta: – Dr., eu só vim aqui para o senhor me dar pedido de “sonografia”. Ainda bem que o SUS limita o número de ultrassonografia, mensalmente. Tendo que esperar mais de um mês para o atendimento, alguns desistem do exame, muitas vezes desnecessário.
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