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UM PESCADOR E SEUS AMORES
Elmar Carvalho
No sábado passado, tivemos uma bela festa cultural na APL, em
comemoração ao Dia das Mulheres. O presidente Reginaldo Miranda passou o
comando da solenidade à acadêmica Nerina Castelo Branco, decana da entidade,
que proferiu belas e emocionantes palavras em memória de três mulheres, que
foram ligadas à cultura, à educação e à Academia.
Foram elas: Lourdinha Brandão, professora, que muito se
empenhou na construção do auditório da entidade, na gestão de seu marido, o
deputado estadual e professor Wilson Andrade Brandão, cuja família estava
representada pelo filho da homenageada, o também deputado Wilson Nunes Brandão;
Maria Helena, esposa do acadêmico Jônathas Nunes, cuja beleza espiritual e
física, especialmente de seus olhos azuis, foi reconhecida por Nerina; e
Magnólia Santana, cuja bondade e espiritualidade foram enaltecidas pela oradora.
Magnólia era casada com o confrade Raimundo Nonato Monteiro
de Santana, que, embora seja eminentemente um prosador, leu um belo e comovente
soneto, que fez em sua homenagem. Mesmo já idosa, quando vim a conhecê-la,
ostentava uma clássica e serena beleza. O poeta Altevir Alencar, célebre
declamador de estilo clássico e sóbrio, recitou poemas em homenagens às
mulheres.
Como parte integrante da homenagem solene, foi lançado o
romance Pedra do Sal – Um Pescador e seus Amores, da autoria da escritora Rita
de Cássia Amorim Andrade. Fui por ela escolhido para ser o apresentador.
Obviamente, não discorri sobre a narrativa, posto que isso seria semelhante a
contar a história de um filme a quem iria assisti-lo. Falei de seu estilo
claro, objetivo, escorreito, sem presumidos hermetismos dos que se dizem da
vanguarda.
Assinalei os seus diálogos verossímeis, condizentes com a
personagem, com a sua cultura e perfil psicológico, mas sem abusos caricaturais
de supostos regionalismos e quase dialetos. A narrativa foi quase sempre
conduzida em discurso indireto, com o narrador onisciente a perscrutar os
pensamentos mais secretos e as intimidades mais recônditas das personagens.
Embora a própria autora tenha afirmado que adotou a narrativa linear, observo
que ela, em alguns momentos, cometeu o recurso de flashback, quando o narrador interrompia o momento presente e se
voltava para fase do passado da personagem.
O romance é ambientado no litoral piauiense, sobretudo em
Pedra do Sal e sua colônia de pescadores, mas com incursões à bela cidade de
Parnaíba. Em certas descrições, verdadeiras passagens de prosa poética, a gente
fica com a impressão de estar ouvindo o marulho das ondas, de sentir as narinas
impregnadas de maresia e como que sentimos o vento a nos acariciar a pele. Seu
livro foi como um búzio, que colocássemos no ouvido, para ouvir o simulacro do
ruído marítimo. O romance tem como protagonista um pescador de poucas letras,
com a sua cultura machista, com as suas contradições e recalques, que se
apaixonou, em períodos sucessivos, por duas mulheres elegantes, de nível
cultural e social mais elevado, e oriundas de um meio diferente.
Trata desses encontros e desencontros, de paixão e ódio, de
amor e desamor. De forma discreta, como é o correto, por ser uma obra de arte,
e não um mero panfleto, denuncia as mazelas ambientais. Acolhe as lendas, o
lado mítico do lugar, que ainda estão no imaginário das pessoas simples, tanto
em relação aos índios Tremembés, que outrora perlongaram o litoral piauiense,
como no tocante aos Fenícios, que supostamente teriam estabelecido uma estação
portuária em Pedra do Sal, cujos indícios seriam as pedras que dão nome ao
lugar.
Até há quem acredite que existiria um túnel a ligar o
encantamento de Pedra do Sal ao misticismo de Sete Cidades, que também teriam
sido reduto desses célebres navegadores da antiguidade. Foi uma festa notável, tanto na celebração da
mulher piauiense, como por ter sido um grande encontro cultural.
19 de março de 2010
Caro amigo, hoje, 06 de maio de 2022, doze anos após o evento que produziu esse artigo, senti-me provocada e desejei estar presente nesse lançamento. Na mesma medida, despertou-me também a vontade de ler a obra, o que farei brevemente. Obrigada pela dica de leitura.
ResponderExcluirPedra do Sal seus mistérios e seus amores, referenciais em nossa infância e uma bela juventude dourada até o pôr do sol.
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