Belo Horizonte, 24 de agosto de
2022.
Meu querido amigo, Poeta ELMAR
CARVALHO,
Recebi há uma duas semanas o seu
opúsculo, OEIRAS NA ALMA E NO CORÇÃO.
Nem preciso dizer-lhe, Poeta, que
fiquei (fiquei, não, estou) muito feliz com o presente, um régio presente.
Oeiras, minha velha e amada
Oeiras, deve-lhe muito. E é uma dívida gigante, impagável, dessas que nenhuma
moeda, de prata ou mesmo ouro, pode abater. Mas, se o vil metal (será mesmo
vil, poeta?) não pode reduzi-la, um único sentimento, aninhado bem fundo em
nossos corações oeirenses, pode fazê-lo
ou, pelo menos, tentar: a gratidão.
Nessa linha de tentar mostrar-lhe
um mínimo desse sentimento de gratidão, não lhe fez nenhum favor a Câmara
Municipal em outorgar-lhe o Título de
Cidadão Honorário de Oeiras. Poeta, minha cidade, Oeiras, por maiores que sejam
seus méritos e por mais notáveis que sejam sua história, suas conquistas, seu
passado de glórias, suas lendas e seu presente de realizações, com tudo isso,
Poeta, e tudo isso é verdade verdadeira, Oeiras não o honra com essa comenda,
com esse título, mas é você que acrescenta, que a honra, que a enobrece.
Eu, confesso-lhe sinceramente,
gostaria de integrar a Câmara Municipal de Oeiras, gostaria de ser um desses
cidadãos oeirenses ilustres e iluminados que, endossando a oportuna e justa
iniciativa do vereador Neander Francisco da Silva Moura, apoiaram a concessão
do título a você.
Mas, fique certo, Poeta, que, não
obstante afastado fisicamente de minha terra, emocionalmente eu sou, antes de
tudo, oeirense, por nada neste mundo
renuncio a esse privilégio e como oeirense, eu estava presente à sessão
que o distinguiu com título e o assinei também, transbordando de orgulhoso e
inebriado, como os outros Colegas, da mais sincera gratidão a você.
De agora em diante poderei,
legitimamente, me gabar que nasci numa cidade que escolheu um homem e cidadão
do seu porte intelectual e ético para ser um de seus filhos. Veja bem, Poeta,
eu sou oeirense, e obrigatoriamente teria de sê-lo, por ter nascido lá; ao
contrário, você, sem ter nascido em Oeiras, e unicamente por suas avultadas
qualidades e por tanto amor dedicado a ela, foi intimado a ser também filho de
minha cidade. Isso é pra poucos!
Agora, ambos somos oeirenses: eu,
obrigatoriamente, por ter nascido do ventre de Oeiras; você, não, você foi
convidado a ser filho da antiga Vila o Mocha, do que faz toda a diferença.
Acho que, em correspondência
anterior, citei o grande poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade, filho de
Itabira, cidadezinha próxima de BH: Itabira é apenas um retrato na parede, mas
como dói. Eu diria que Oeiras, apropriando-me de palavras suas, “é também um
retrato, não só na parede, mas também na
alma e o coração”.
E no coração estão grandes amigos
de minha infância, citados por você: Ferrer, grande intelectual, cronista de
mão cheia, um dos melhores e maiores amigos meus, costumava chamá-lo de Farroz;
seus irmãos, Luiz Toscano, Afonsina, Benedito...Seus pais, Lilásia e João
Burane, eram grandes amigos dos meus; Luiz Ronaldo, Luiz de Xé, meu primo
(falecido); Jose Ribamar de Matos, poeta e
tantos outros.
Como esquecer de Gerson Campo,
poeta bissexto, talvez, mas com poemas lindos. Nogueira Tapety: cresci em
Oeiras ouvindo falar da sensibilidade e talento do grande poeta que ele fora.
Um dos seus sonetos mais conhecidos e recitados – Senhora da Bondade – andava
na boca do povo e na minha. Grande Poeta...!
Você certamente conhece a obra de
Nogueira Tapety e eu guardo na memória o belíssimo “Senhora de Bondade”:
Não te quero por tua formosura
De Rainha da Graça entre as
mulheres;
Quero-te, porque és boa, porque
és pura
E, inda mais, porque sei que tu
me queres.
A beleza exterior nem sempre
dura,
E a d’alma, esteja tu onde
estiveres,
Ungirá de virtude e de doçura
Tudo em que a bênção deste olhar puseres.
Eu sou artista – encanta-me a
beleza.
Em ti, porém, abstraio-a
inteiramente,
E penso amar-te, assim, com mais nobreza,
Pois se te esqueço a forma e a
mocidade,
É para amar em ti unicamente
A Encarnação Suprema da Bondade.
Outros sonetos belíssimos como
“Camoniano”. “Holocausto”, “Restos” “Ad eterno”, “Adoração” Enfim, vale a pena
ser lida e relida toda a produção
poética do grande vate Nogueira Tapety .
Minha infância em Oeiras, ah se
me lembro...! Eu formava, com meus dois
irmãos mais próximos (Luiz, falecido, e Paulo de Tarso) um trio da pesada: toda
travessura, tudo que não de tão bom acontecia na cidade, era imediatamente
atribuído ”aos moleques de doutor Tarso”, nosso pai, médico. Vida mansa, não
Elmar?
Bem, estimado Poeta, já escrevi
mais do que devia e certamente seu tempo, além de curto, é precioso.
Anatália,
minha irmã, tem muita e sincera amizade
e admiração por você.
Fico-me por aqui, Poeta, com o
afetuoso abraço do amigo,
Elisabeto
Enviei a seguinte carta eletrônica
ao prezado amigo:
Caro amigo Dr. Elisabeto,
Fiquei muito feliz e comovido com
suas belas palavras.
Sei que não as mereço na íntegra,
mas mesmo assim fiquei lisonjeado em tê-las lido.
Acabei há pouco, na reunião da
APL, de comentar sua carta virtual e virtuosa, ao confrade e amigo Moisés Reis,
que lhe teceu justos elogios.
Seu texto tem as mesmas virtudes
e sabor das antológicas missivas dos grandes escritores de outrora.
Eu gostaria de saber se posso
publicá-la em meu blog e outras redes sociais?
Muito obrigado, caro amigo, por
suas lindas e bondosas palavras.
Forte abraço.
Elmar Carvalho
O nobre Dr. Elisabeto Ribeiro
Gonçalves, um dos maiores oftalmologistas do Brasil, me respondeu da seguinte
forma, em outra missiva paradigmática, verdadeira obra-prima:
Belo Horizonte, 29 de agosto de
2022.
Meu estimado Poeta e amigo ELMAR
CARVALHO,
Acabei de ler o que você me
escreveu a propósito da carta que lhe enviei, via e-mail, há poucos dias.
Terminei a leitura com a firme convicção de que houvera um engano e que eu não
seria o destinatário de sua correspondência. Pois não mereço os elogios nem
seus nem os do Moisés Reis, cidadão, como eu, de Oeiras e filho de um dos
maiores intelectuais oeirense, Hipólito Reis, muito amigo dos meus pais.
O Moisés é mais novo que eu, mas
vivemos praticamente os bons tempos de meninice descuidada na primeira capital
piauiense, a Vila do Mocha, depois Oeiras. Nessa época, Elmar, a meninada, até
os 15 anos, usava calças curtas. E o trocar as curtas pelas compridas
consistia num verdadeiro ritual de
passagem, com as quais conquistávamos o direito à doce atividade do flerte, da
conquista, do namoro. Regulando com a
minha idade estava o irmão do Moisés, Pedro, um dos grandes e bons amigos de
minha vida de total e plena irresponsabilidade em Oeiras. Irresponsável,
descuidada, feliz e generosa a minha e a vida dos amigos, entre eles
Pedro. Família de intelectuais, a
começar pelo pai, Hipólito. O mais velho dos irmãos (Antônio Epifânio) é
intelectual de mão cheia, cedo mudou-se para São Paulo, onde acredito viver até
hoje.
Eram tempos de assalto às quintas
oeirenses em busca das saborosas mangas (rosa, principalmente), dos suculentos
umbus, goiabas e araçás. Moisés também deve ter participado dessas molecagens,
desses “pulares” de cerca das quintas do meu avô, Cel. Orlando, do “seu” Mário
Freitas, do “seu” Tibério Siqueira, do “seu” Doca Nunes e dona Clarice Reis.
Eu sempre me pergunto se o
passado existe e minha resposta é não. O passado, como o entendemos, é invenção
puramente humana, dessa mania que temos de dividir o tempo para que ele
funcione como uma espécie de quarto de despejos onde jogamos tudo o que não nos
serve mais, ou que já perdeu a importância ou, pelo menos, parte dela. Mas nada
deixa e existir, nada perde sua importância. O menino que fomos continua em
nós, somos os mesmos moleques de anos atrás, e foi esse menino e essa menina,
esses moleques irreverentes com as normas dos adultos, dos mais velhos, que
inventaram e pariram as mulheres e homens que hoje somos.
Alguém já disse que o menino é o
pai do homem. Se o homem, o adulto são o presente, não há como abrigar, lado a
lado, a noção de passado e presente, mas de futuro, sim, essa mata fechada que
tanto nos assusta, nos assombra quanto seduz. Mas, o que podemos fazer?
Enfrentá-lo e incorporá-lo ao nosso presente.
Já me alonguei demais e a culpa é
de sua generosidade. Não sei se vale a pena, mas você tem autorização para dar
a minha carta a publicidade que achar conveniente. Mas não sei mesmo, repito,
se vale a pena!
Não, não tenho palavras bondosas
para você, mas, sim, palavras e sentimentos verdadeiros, sinceros. Anatália, minha querida irmã, é minha
cúmplice nessa admiração e carinho por você, pois, por seu intermédio, pudemos
nos corresponder e estreitar a amizade. E isso me deixa muito feliz: finalmente
não é todo o dia que temos a grata oportunidade de ter um Poeta na relação de
amigos.
Abraços afetuosos do amigo que o
estima e admira muito,
Elisabeto
Acabei de lhe encaminhar o
seguinte bilhete em resposta:
Caro amigo Dr. Elisabeto,
O amigo, com essa nova carta,
acaba de provar que a minha resposta era mesmo para o seu destinatário, nela
nomeado.
Essa carta, que ora estou a
responder, se reveste das qualidades da anterior, o que demonstra, por a mais
b, que o amigo é mesmo um extraordinário missivista, tanto pelo estilo, quanto
pelo conteúdo.
Vou fazer a publicação
solicitada.
Forte abraço.
Elmar Carvalho
Parabéns pelo apreço!
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