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DA MINHA LENTE
Alcione Pessoa Lima
Para escrever nunca sei qual o tema. Começo com uma palavra. Daí, formo a primeira frase. Descubro um assunto; então, a cachola abre as portas, embora a memória deixe fugir, pela janela, lindas passagens. Desarrumo as prateleiras, converso com o tempo, vasculho o lixo das gavetas, e, sem que me dê conta, começa a viagem. Às vezes, arrasta-se por trilhos danificados, mas segue, com suas cautelas, a linha da vida, reconhecendo lugares e olhares. Por outras, segue caminhos estreitos, vielas perdidas, que findam em abismos; ou, trafego em campos e prados onde tanta abundância de excelsos valores me inibem a fala e me causam espantos, em ali ter chegado.
Confesso que, me sentindo apenas um ponto nesse imenso universo de seres, às vezes, me faço perceber, mesmo feito vagalume, cuja luz persiste em tempo mínimo, necessário ao desfrute, embora marcante no tempo vivido.
Há borboletas sobrevoando pedras; e peçonhentos entre flores, no subterfúgio dos sonhos ou na concretude dos gestos. Algo sedimentado, imposto ou colhido, revela-se, desde o meu caminhar; ou no meu olhar, que se define como porta voz do tempo.
No espaço em que vivo, respiro. Daí, junto-me aos demais viventes, e seguimos juntos: eles me seguem e me oferecem seus cantos; eu, os delicio, mormente, enquanto subo a ladeira, em zigue-zague; de baixo, o grande obstáculo, que o supero, em gesto agradecido ao atingir o topo e aprecio a paisagem do alto; por vezes, límpida; por outras, cinzenta, encobrindo as minhas pegadas.
Citando Thich Nhat Hanh: “Quando ando atentamente sinto de maneira intensa minha ligação profunda com a terra e minha responsabilidade por ela.” Daí, não há como não lamentar a minha destruição, posto que faço parte de um lugar único, que, simplesmente, sob a vontade do homem, está sendo modificado e alterado todo o seu habitat por onde voam meus sonhos e medito sobre as turbulências do mundo.
As diferenças nos desejos, as atitudes ostensivas, as demonstrações, senão de poder, com certeza das vaidades, não medem esforços para se sobreporem, desde que seus desideratos sejam atingidos.
Polemiza-se o “O”, na sua forma circular, o quadrado, por que não é redondo. A razão de cada um, não se discute, embora, a lógica, por outro lado, quase sempre se faça ausente diante da conclusão que se chega: o descontrole humano! É voraz, insano, aniquilador, a ceifar liberdades, escolhas, e a sobrepor privilégios. A natureza é complexa, mas reveladora, incontestável, da existência de um Criador, e responde, embora sofra: o clima é a prova!
Há um silêncio! Ouço, apenas, rangidos de moto serras, betoneiras e a queda de árvores, muitos berçários de pássaros incautos, que reclamam, mas têm somente como defesa, a fuga eterna, até findarem, pois não haverá mais como se procriarem.
São fatos, que não podem ficar somente no meu lamento. Diria, assim, expus a minha indignação!
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