MANUEL DOMINGOS E OS CORONÉIS DO
PIAUÍ
Elmar Carvalho
Fui ao lançamento do livro “O que
os netos dos vaqueiros me contaram – o domínio oligárquico no Vale do
Parnaíba”, de Manuel Domingos Neto, ocorrido na sexta-feira, no pátio interno
do Arquivo Público do Piauí.
Conheço-o faz alguns anos,
sobretudo quando, na qualidade de editor adjunto, o ajudei a organizar a 60ª
edição (1985) do anuário Almanaque da Parnaíba, fundado por Benedito dos Santos
Lima, o Bembém, em 1924, que passou a ser editado por seu avô, o comerciante
Ranulfo Torres Raposo, de 1942 a 1982; este empresário também presidiu o
sistema FECOMÉRCIO no Piauí.
Devido a essa aproximação,
expus-lhe, na época, a importância de os direitos autorais do periódico
passarem para a Academia Parnaibana de Letras – APAL, que seria a sua editora,
tendo ele concordado. Transmiti sua anuência ao Dr. Lauro Correia, então
presidente da entidade. De lá para cá, o Almanaque da Parnaíba passou a ser
editado como revista da APAL, embora sem a conservação rigorosa da anualidade.
Posteriormente, Manuel Domingos
foi deputado federal constituinte, tendo, portanto, assinado a Carta Magna de
1988. Voltou a Fortaleza, onde passou a lecionar na Universidade Federal do Ceará.
O autor foi decisivo para a implantação, na Fundação CEPRO, do Núcleo de
História Oral, com modernas técnicas de historiografia, que terminou produzindo
importantes entrevistas com figuras notáveis em diferentes campos da atividade
humana.
Eu mesmo sugeri fosse
entrevistado o senhor Antônio Sales, na época com mais de noventa anos, que
fora líder laboral, desportista, funcionário público federal e amigo de figuras
ilustres da política piauiense, cujo entrevistador foi o professor Alcides
Nascimento.
O livro de Manuel Domingos
enfeixa três belas entrevistas com Pedro de Almendra Freitas, comerciante e
ex-governador do Piauí, José da Rocha Furtado, médico e ex-governador, e Luís
Mendes Ribeiro Gonçalves, engenheiro, escritor e responsável pela construção de
várias obras importantes do governo estadual.
Pelas entrevistas, ficamos
sabendo de muitos fatos notáveis da administração pública, de fatos
curiosos e interessantes da biografia
dos entrevistados, de peculiaridades da vida cotidiana e econômica do Piauí,
bem como tomamos conhecimento de como era a vida nas pequenas cidades
interioranas, sobretudo nos aspectos dos costumes, genealogia, cultura e
economia. Passamos a conhecer como se desenvolviam o comércio, a agricultura e
a pecuária.
No entendimento do autor, o
chamado coronelismo no nosso estado não teve as mesmas caraterísticas e
peculiaridades do coronelismo de outras plagas, principalmente sulistas. O
livro deixa entrever que os nossos “coronéis” não merecem, ao menos de forma
intensa, os estigmas que lhes foram impingidos por muitos estudiosos do Brasil.
Vejamos o que comenta, na
“orelha”, a professora Linda M. P. Gondim: “Desde Nunes Leal, estudiosos viram
no 'coronel' um arcaísmo que seria liquidado com a urbanização e modernização.
Mas os políticos estudados neste livro destoam desse estereótipo: aceitaram a
Revolução de 1930 e as transformações promovidas desde então, inclusive pela
ditadura militar, como a institucionalização do planejamento e a criação de
empresas e órgão estatais 'modernos'”.
Ao ler esse livro, o leitor fará um mergulho profundo na história social e política mais recente do Piauí, e conhecerá de forma mais íntima, mais humana, figuras de destaque do proscênio político estadual.
2 de maio de 2010
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