Rio Parnaíba, visto da Toca do Velho Monge, na Várzea do Simão |
SAUDADES DE MINHA INFÂNCIA
Ana Paula Rodrigues de Souza
Especialista e mestranda
Morei toda minha infância e
adolescência no interior chamado Gameleiras 7 km até a Comunidade Várzea do
Simão, Município de Buriti dos Lopes - PI.
Estudar naquela época sempre foi
meu foco, e meu pai sempre fala: “O futuro de quem mora no interior é o
estudo”.
Com os livros colocado em uma
sacola de pano ou de sacos plásticos ia ao encontro de minhas primas e pé na
estrada de barro e poeira, passando por carnaubais e matas de campestres
destino a escola, Unidade Escolar João Simão, escola na qual cursei até 4ª
série do Ensino Fundamental. E para cursar o Ensino Fundamental maior e Ensino
Médio e Faculdade cursei na cidade de Parnaíba. Então, naquela época minha mãe
(Maria do Amparo) minha maior incentivadora, naquela época era professora, além
de outras como Maria dos Remédios a (tia Remédios, minha professora na época) e
Srª Gorete, (falecida). Eu acordava cedinho corria para Lagoa Boa Fé tomava
banho, meu café com leite mugido, Cuscuz e ovos mexido, pegava meu material na
sacolinha e pé na estrada poeirenta.
Naquela época, íamos para a
escola caminhando e não recamávamos, na escola tirava notas azuis e morria de
medo de notas vermelhas no meu boletim. Tinha que ser acima de 7. Tempo em que
não tínhamos Bolsa Família nem auxílio emergencial, o meu fardamento e material
escolar, todos quem comprava era meu pai com muito suor do trabalho forçado.
O calçado era conga, ou havaianas
de cabresto grosso e se quebrasse colocávamos um prego no cabresto e assim
íamos para escola feliz. Mas o meu sonho de consumo era o sapatos All Star
(tive um! ); não tínhamos celular e nem internet. Na minha casa naquela época
tínhamos apenas a luz de lamparina e lampião, eu estudava a luz de lamparina e
era assim que respondia todas as tarefas vindo da escola.
Na escola adorava quando a
professora usava mimeógrafo e aquele cheiro do álcool tomava conta da sala, e
quando íamos estudar a tabuada e fazer a lição, (leitura de texto). As
pesquisas eram feitas em livros velhos guardado na escola, não tínhamos
dinheiro para ter enciclopédias em casa. O trabalho era escrito à mão e na
folha de papel almaço, a capa era feita com papel sulfite. Tinha dever de casa
para fazer, a Educação Física era de verdade, brincávamos na areia na hora do
intervalo de queima, pega bandeira e pula elástico, torcia para o intervalo não
termina. Na hora da chamada tínhamos que responder à chamada da professora
dizendo presente, não podia chegar atrasado e ainda cantávamos o Hino Nacional
no pátio antes de ir para a sala de aula. Mas, as vezes chegamos atrasados
porque quando era inverno tudo alagava e íamos para escola de canoa e lá seguíamos
eu e minhas primas para a escola, então demorava mais até que chegávamos.
Na escola tinha o Gordo; a
Magrela; Quatro Olhos; a Baixinha; Olívia Palito; o Palitão; o Cabelo Bombril,
a branca azeda, a espeto de assar manjuba, o cavalo de zé da Graça, a Burra
pampa, a Dente de burro e por aí vai... Todo mundo era zoado, às vezes até
brigávamos, mas logo estava tudo resolvido e seguia a amizade... Era
brincadeira e ninguém se queixava de bullying. Existia o valentão, a zangadona
e até aquela que chorava de mais. Mas também existia quem defendesse.
O lanche servido na escola era o
melhor de todos, a sopinha de letras ou de número, aquela carne de jabá e até o
mingau de aveia, hummm uma délicia!!!, não tinha quem reclamassem. Na hora do
descanso, era o momento mais lindo todos deitados no chão da sala de aula e lá
mesmo cochilávamos sem se preocupar com nada.
Época em que ser gordinho(a) era
sinal de saúde e se fosse magro, tínhamos que tomar o Biotônico Fontoura e
comer bastante para engordar.
Ao entardecer a palavra já para
casa! suava alto e eu: "peraí mãe " era para ficar mais tempo na
frente de casa brincando de roda ou de pega-pega e não no computador ou no
celular!!!...
Colecionávamos pedrinhas,
elásticos, figurinhas, papéis de carta, etc. Eu tinha vários elásticos e uma
caixinha de dominó que meu pai comprou na época. As brincadeiras eram
saudáveis, brincávamos de bater em figurinhas e não nos colegas e professores,
de jogar pedrinhas, de jogar dominó, etc. Na bolsa de material eu carregava a
cartilha, a tabuada, lápis e borracha, mas não podia faltar as pedrinhas e o
elástico para minhas brincadeiras preferida.
No interior, as brincadeiras era
jogar bola, queimado, pular corda, subir em árvores, pique bandeira, pular
elástico; pique-esconde, polícia e ladrão; andar de bicicleta, tomar banho na
lagoa da Boa Fé ou brincar na casa de forno do vô Domingos Mendes, pai de meu
pai. Muitas vezes com a minha mãe ou a minha tia Claúdia olhando a gente
brincar, elas nunca deixavam nós sozinhos, era uma chatice, mas era o
jeito.!!!. Comia as vezes na casa da vó Raimunda Mendes mãe de meu pai, mas só
quando meu pai sai para cuidar do gado e minha mãe ia trabalhar. Na escola não
importava se meu amigo era negro; branco; pardo; rico; pobre; menino; menina,
todo mundo brincava junto e como era bom. Bom não, era maravilhoso!...
Que saudades desse tempo em que a
chuva tinha cheiro de terra molhada! Em que pisar na poça de lama e depois ir
para escola era divertido. Época em que nossa única dor era quando passava
Merthiolate ou violeta nos machucados. Felizes em comparação com esse mundo de
hoje onde tudo se torna bullying. Nossos pais eram presentes, mesmo trabalhando
fora o dia todo, educação era em casa, até porque, aí da gente se a mãe tivesse
que ir à escola por aprontarmos. Nada de chegar em casa com algo que não era
nosso, desrespeitar alguém mais velho tínhamos que pedir desculpas. Era um
puxão de orelha, ou castigo logo ou só aquele olhar de “vc vai ficar sem
brincar la fora hoje”.
Tínhamos que levantar para os
mais velhos sentarem. Fico me perguntando, quando foi que tudo mudou e os
valores se perderam e se inverteram dessa forma? Meu Deus! Hoje, os filhos não
respeitam mais os pais, filho grita alto com os pais, os pais não tem mais
domínio sobre os filhos. Que geração é essa de hoje? Quanta saudade, quantos
valores, que para esta geração não vale nada! por tudo que vivi e aprendi. Que
saudades da minha infância.
Que maravilha de texto! Quantos ensinamentos e aprendizados. Os tempos são os e textos assim, refrescam a nossa memória. Parabéns!
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