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O Rio
Paulo Machado (1956)
preciso urgentemente escrever um
poema!
que os versos sejam vorazes,
lembrando do rio de minha cidade,
comendo as pedras do cais.
mas como escrevê-lo?
como domar o rio de minha cidade
à condição de poema?
o rio de minha cidade não pede
adjetivos,
principalmente recusa os que o
tornam abstrato.
o rio de minha cidade é um rio
migrante,
Por que aprisioná-lo no corpo de
um poema?
o rio de minha cidade guarda em
suas entranhas
o orgulho do homem sozinho.
o rio de minha cidade é água viva
na carne,
água pesada na memória.
o rio de minha cidade é torto
como uma cicatriz
fazê-lo reto seria contradizê-lo
vivê-lo, petrificá-lo nas retinas
esquecê-lo, jamais
preciso urgentemente escrever um
poema!
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