Igreja matriz de Esperantina Fonte: Google
OS BONS COMBATES DE LADISLAU
Elmar Carvalho
Quando eu caminhava pelas
calçadas da Frei Serafim, perto do HGV, deparei-me com o padre Ladislau João da
Silva, meu conhecido há várias décadas. Assisti à sua ordenação, na vetusta
catedral de N. S. das Graças. Foi ainda no tempo de Dom Paulo Hipólito de Sousa
Libório, que fora professor do Colégio Diocesano, em Teresina, no tempo em que
meu pai ali estudou, nos idos de 1940.
Dom Paulo, com a sua mitra e seu
báculo, dirigiu a ordenação. Lembro-me do momento em que padre Ladislau se
prostrou e se estendeu no solo, como ordena o ritual católico. Pouco depois, no
final de 1979 ou em 1980, foi ser o vigário de Esperantina, onde desenvolveu um
grande trabalho de cunho social, de conscientização política e de estímulo à cidadania, o que terminou
desagradando os poderosos e políticos conservadores do lugar.
Talvez nos últimos meses do
primeiro semestre de 1981, o referido sacerdote foi espancado por um
latifundiário de Esperantina (ou por pessoa a mando deste). O proprietário se
sentia, pelo visto, incomodado com as pregações e com as campanhas de
conscientização política do padre, que inclusive organizara, por ocasião das
comemorações do 7 de Setembro, uma passeata com trabalhadores a carregar seus
instrumentos de trabalho, como foices, enxadas, machados, etc.
Suponho que o latifundiário e
outros graúdos de Esperantina se sentiram irracionalmente ameaçados, daí por
que o vigário sofreu a agressão física, fato que obteve alguma repercussão na
mídia estadual, embora não tanto como merecia. Por essa razão, embora o Jornal
Inovação não dispusesse de estrutura, eu e o Reginaldo Costa resolvemos ir a
Esperantina, bem distante de Parnaíba, para entrevistá-lo.
No auge de nossa juventude e de
nossa saudável boêmia e “irresponsabilidade”, seguimos pela manhã, em minha
motocicleta, parando em quase todos os botecos de beira de estrada para
tomarmos uma “calibrina” e batermos um papo. Chegando à cidade de Batalha, já
nas proximidades de nosso destino, nos demoramos um pouco, em um bar, e
entramos numa inconsequente discussão sobre quem era maior: se Chico Buarque ou
se Ivan Lins. Eu defendia o primeiro, ele, o segundo. Alguns anos atrás, o
Reginaldo terminou me confessando haver revisto a sua opinião musical.
Fizemos uma longa e bela
entrevista, publicada com todo destaque na edição de nº 37, junho/julho de
1981, do Inovação, inclusive como Suplemento Especial, com direito a capa
ilustrada e tudo mais. A viagem em si e a conversa com o entrevistado me
renderam o poema “7 de Setembro”, que lhe dediquei; foi publicado na mesma
edição da entrevista.
Muitos anos depois,
aproximadamente na virada do milênio, encontrei esse sacerdote como
superintendente do INCRA no Piauí, quando estive nessa repartição para fazer
uma consulta sobre questão fundiária. Hoje, padre Ladislau é o coordenador institucional
do Programa Brasil Alfabetizado e EJA-PI.
Àquela época, Esperantista era o centro das atenções. Os grupos religiosos possuíam uma ligação com o corajoso e determinado sacerdote. Esta convergência partia de todo o Piauí. Os encontros se multiplicavam. Eu chegava a ficar a semana por lá. Somos, hoje, o que muito aprendemos com ele.
ResponderExcluirWilton Porto
Fui a Esperantina várias vezes apoiar o trabalho missionário e conscientizador deste padre progressista. Tempo de militância aguerrida! Tempo...tempo..tempo...
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