Foto apenas ilustrativa Fonte: Google |
O SONHO DE LAURO: A FERROVIA, O
RIO E O PORTO
Elmar Carvalho
Neste domingo, acompanhado do
Canindé Correia, seu sobrinho, fui visitar o Dr. Lauro Andrade Correia. Neste
Diário já tive ocasião de escrever nota sobre a sua profícua vida de labor e
dedicação aos estudos. Entregou-me um exemplar do Jornal do Advogado, no qual
foi publicado o texto Um Mestre Inesquecível, em que lhe presto sincera
homenagem, e o artigo Pela Grandeza e Beleza de Amarante, da autoria do insigne
mestre.
Falou de suas causas e lutas com
energia e entusiasmo, parecendo um garoto, em seus 86 anos de idade. Ao longo
de algumas décadas, tenho acompanhado a vida laboriosa de Lauro Correia, e o
considero um grande paladino das lutas em prol da preservação do Rio Parnaíba,
da implantação do porto de Luís Correia e da construção da ferrovia Transpiauí,
que se estenderia de Eliseu Martins a Luís Correia, desde os tempos em que ele
presidiu a FIEPI e foi diretor do Campus Ministro Reis Velloso e do SESI-PI.
Defendeu essas causas nos vários encontros e audiências públicas de que
participou e em mais de meia centena de artigos e pequenos ensaios que
escreveu, alguns dos quais enfeixados em plaquetas.
O Piauí parece estar navegando
contra as correntes e os ventos da lógica econômica e administrativa. Essas
duas vias – a fluvial e a ferroviária – que tem numa extremidade os cerrados
piauienses, com a sua avantajada produção de soja e outros grão, e na outra, o
futuro porto marítimo de nosso estado, sem dúvida barateariam o transporte
desses produtos, dando-lhes maior competitividade em relação a outros centros
produtores. O rio Parnaíba, como todo mundo sabe, vem se esvaindo em lenta
agonia. Meu pai, em 1940, no colégio Diocesano, ouviu o acadêmico e professor
de Geografia, Álvaro Ferreira, dizer que se providências não fossem tomadas
esse grande rio morreria em cinquenta anos.
Felizmente, essa triste profecia
ainda não se cumpriu inteiramente, mas as inúmeras coroas de areia, a largura
imensa do Parnaíba em vários pontos e o seu pequeno calado em muitos trechos
são provas de que ele caminha no rumo de um melancólico e indesejável ocaso.
Dr. Lauro Correia, engenheiro e advogado, tem estudado o nosso maior rio, sob
os mais diferentes aspectos, em profundidade, e apontado as soluções. Mas é
quase uma voz clamando no deserto da insensibilidade, descaso e incompreensões,
porquanto entra governo e sai governo e nenhuma medida séria e enérgica foi
tomada até agora para impedir a inexorável degradação desse curso d' água
cantado e louvado por vários poetas, mormente o grande Da Costa e Silva.
Entretanto, com pesar o digo,
medidas sérias estão sendo adotadas, mas para apressar o seu fim: a construção
de cinco barragens, que segundo Lauro Correia e outros estudiosos impedirão a
navegabilidade e contribuirão de forma acentuada para a degradação do rio e do
meio ambiente. Uma das barragens ameaça de forma assustadora a bela, bucólica e
histórica cidade de Amarante, pois inundaria parte dela e atingiria alguns de
seus vetustos e memoriais solares. Segundo Lauro Correia, com a construção das
barragens, o volume d' água vai diminuir, o que trará consequências
catastróficas ao ecossistema.
Além das óbvias, um desses
efeitos danosos seria a salinização do Delta do Parnaíba, pois a força das
marés passaria a exercer maior influência sobre o rio, tornando mais salobras
suas águas, podendo chegar a comprometer o atual sistema de abastecimento de
Parnaíba, hoje localizado em Rosápolis, perto de onde pesquei e banhei diversas
vezes, em minha juventude.
Nada justificaria a construção
dessas barragens; além dos enormes prejuízos que elas causariam ao Parnaíba,
cada uma delas produziria apenas 60 megawatts, que seriam supridos, com
inúmeras vantagens, por usinas eólicas, a serem construídas no litoral
piauiense e no município de Paulistana.
Urge, pois, que essas vozes que
clamam no deserto, e entre elas a de Lauro Correia, esse Quixote, não da
Mancha, mas do Delta Parnaibano, sejam finalmente ouvidas e acatadas, e que as
providências cabíveis e necessárias sejam adotadas, sem titubeios e delongas.
28 de julho de 2010
Excelente matéria Nota; 100.Chico Miguel de Moura
ResponderExcluirMeus sentimentosba familia e amigos do Dr. Lauro, grande estudioso e entuasiasta do desenvolvimento do Piauí, sem afetar o ecossistema! Que descanse em paz!
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