Sobre “Capoeira de
Espinhos”
Fabrício Carvalho Amorim
Leite
Contista e cronista
Sou um simples leitor, ou
um leitor simples. E, não, por isso, ousarei
trazei minhas pequenas impressões a respeito das ideias da profunda obra
Capoeira de Espinhos, do Professor Dílson Lages.
Já tinha lido e gostado do
Morro da Casa-Grande. Uma obra de densa investigação histórica e que me marcou,
nomeadamente, a respeito dos acontecimentos ligados a antiga Igreja Matriz de
Barras, Piauí.
Admito, era ignorante a
respeito da profundez do cotidiano subterrâneo na histórica cidade.
Pois bem, através da “Capoeira
de Espinhos”, notei a intricada teia. E, como um vaqueiro usa o gibão,
preparei-me para leitura.
Há livros e livros, os que
tiram o fôlego e que nos transportam ao centro do inconsciente. “Capoeira de
Espinhos” se enquadra na segunda. Sobretudo, porque passei grande parte da
minha vida numa Aldeia Viva.
A minha percepção foi provocada
e instigada ao ponto de questionar a ordem estabelecida, também, da minha
Aldeia Viva. E o caráter social é bem abordado.
Percebi que, ao invés de
guiar o leitor por caminhos já traçados, essa obra nos faz lembrar Teseu, mas saindo do labirinto literário
e seus mistérios por conta própria, e encontrar o seu próprio caminho.
Bem que o novelo, como no
labirinto do Minotauro, consistiu em
meus pensamentos no silêncio de minha casa.
Ou Adiadne, da mitologia, ajudou-me?
E, quando criança, fiz isso
muitas vezes: uma estratégia imaginária em um labirinto de um parque próximo à
minha casa....
Na pena do experiente e
dedicado autor barrense, do qual considero, de sua geração, um dos maiores
escritores no Piauí, caminhei a passos curtos por uma capoeira no qual intuí o
labirinto em que o leitor vislumbrará.
Trata-se de um labirinto
ou capoeira daquelas em que precisamos voltar ao começo algumas vezes, devido
aos profundos temas tratados, como o poder, a política e a relação com pessoas
simples das cidades pequenas.
O que ele quis dizer com
Capoeira de Espinhos? Possivelmente, um terreno cujo mato foi roçado e usado
várias vezes. E está abandonado, pobre. Como muitas cidadezinhas do país.
Desafiador.
E que o “poder é uma
vacaria”? Quem sabe porque os currais de eleitores existam pela pobreza.
Talvez.
Por outro lado, isso não
significa que a capoeira de espinhos da chapada do semiárido seja intransponível:
- existe o gibão para a proteção dos espinhos, a sabedoria e a reflexão do
homem simples, há a observação dos hábitos dos animais (urubus) e dos conselhos
dos mais velhos -.
Mas é porque o autor
mostra, através da arte das palavras, por que o sertão nordestino e suas cidadezinhas
são como são: ainda brutas, limitadas, contraditórias e fruto de centenas de
anos sob o domínio imperioso de poucos sobre muitos. O poder e sua mordaz sedução.
Vejamos:
“Os mais ricos daqui,
metidos em política, morreram pobres, pobres. Uns gastaram o suor da família,
as heranças, terra, gado, as últimas moedas que sobravam; outros enricaram na
política, mas andam pedindo benção...”
Contraditoriamente, é uma
capoeira árida, mas domável, ao menos, pelas palavras. E abundante de histórias,
personagens e cultura. Além disso, o autor traz visibilidade a personagens
cotidianos como o aposentando, o pedreiro, o vigia e outros.
No fim, a
impressão que tive foi que, apesar da dura realidade, sátiras bem fundamentadas
e contradições retratadas no pequeno grande livro, resta-nos, como a flor do
mandacaru, renascer linda e resistentes da aridez da capoeira de espinhos.
Ótima leitura.
Ótimo comentário, nada mais a salutar do que compará-lo à obra em questão, Capoeira de Espinhos,
ResponderExcluirdo amigo escritor barrense Dilson Lages.