terça-feira, 6 de junho de 2023

ENTREVISTA COM AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA

Fonte: Google

  

ENTREVISTA COM AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA

 

Entrevista com Affonso Romano de Sant’Anna, publicada no Jornal O ESTADO – Teresina, nos dias 27/2/1978 e 5/3/1978, concedida aos professores Carlos Evandro Martins Eulálio, José Reis Pereira e à Jornalista Glória Sandes, no Departamento de Letras da Universidade Federal do Piauí, em 22 de fevereiro de 1978. 

CARLOS EVANDROO que se passou mesmo com a poesia brasileira a partir de 1950?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: A meu ver foi o seguinte: de 1956 a 1958, as coisas estão muito definidas: Concretismo em 1956, Neoconcretismo em 1958, tinha o Grupo Tendência de Minas em 1957, tinha Praxis em 1962, Violão de Rua, o Poema Processo em 1967 e, em 1968, o Tropicalismo. Eram grupos que vieram se revezando. Mas houve um fenômeno: como o Concretismo dissolveu a palavra e transformou a palavra em sílabas, começou a valorizar a letra, começou a valorizar o poema cartaz, no aspecto visual, e, depois, mais tarde, o poema processo acabou com a palavra e passou a fazer arte semiótica pura. A poesia chegou a um impasse, um beco sem saída, primeiro com a exaustão estética. E chegou a um ponto que os concretos nos manifestos davam por encerrado o ciclo histórico do verso. Eles acabaram com o verso. Veio o poema-processo e acabou com a palavra. De repente, a poesia ficou num beco sem saída. E aconteceu que o silêncio que a poesia se impôs se confundiu com silêncio imposto ao País e, em 1965, surgiu, com uma violência bastante notável, a música popular, que recuperou o silêncio que se havia imposto à palavra, através de Chico, do Caetano, de Vandré, e toda essa geração. A palavra deles passou a preencher o vazio que a poesia não estava preenchendo, inclusive de vanguarda, por ser uma poesia muito de elite, e havia a carência do povo brasileiro por palavra, porque não havia mais o discurso do político. A música popular passou a ser um grande discurso nacional, daí uma série de festivais de canções. Em qualquer sindicato, escolinha, tinha festival da canção, entre 1965 e 1968, por aí. A poesia brasileira entrou numa espécie de recesso e a música ocupou um espaço que era o próprio espaço da poesia literária, razão pela qual o Chico, Caetano, o pessoal todo passou a ser estudado dentro dos colégios e faculdades como autores. Primeiro, o texto deles dizia alguma coisa, segundo é que eles estavam fazendo um texto mais sofisticado. O Caetano foi aprender com os Concretistas poesia de vanguarda; o Chico é filho de um modernista de 1922, que é Sergio Buarque, que fez uns textos mais sofisticados, e assim por diante. Esse período da música popular, a meu ver, durou até 1973. Em 1973, as coisas mudaram. Há dois sintomas para isso dos quais eu participei. Houve uma exposição na PUC, no Rio, chamado Expoesia, que significava exposição de poesia (...) nessa exposição participaram 600 poetas e tinham uns 3 mil poemas mais ou menos, e aceitei que se inscrevessem todas as pessoas que chegassem com uma coisa lá que se chamasse de poesia. Não se estava discutindo mais o conceito de poesia, porque o Concretismo tinha dito que poesia era uma coisa, Práxis outra, Violão de Rua dizia que era outra. Todo mundo sabia o que era poesia e ninguém chegava a um acordo. Então resolvi fazer uma exposição onde todo mundo chegasse lá e expusesse o que achava que era poesia. Houve, inclusive, uma sala reservada para o Neoconcretismo, para Práxis, todo movimento tinha uma sala, porque era uma espécie de retrospectiva. Só não participou o grupo concreto de São Paulo. Mandei uma carta e eles responderam que não participavam de reunião eclético-caritativa. Eu estava dando oportunidade aos outros grupos de se manifestarem e eles eram contra isso, e ainda afirmaram, na carta, que poesia era, ou não era, quer dizer era Concreta ou não era. Mas a exposição Concreta foi substituída por uma exposição de poesia concreta alemã que estava sendo exibida no Rio, na ocasião – magnífica exposição, com trabalhos de primeira qualidade. Ao lado desses movimentos tradicionais, apareceram dezenas de grupos totalmente desconhecidos, e os poetas que depois se chamariam marginais, dessa antologia de Heloísa Buarque de Holanda, “26 Poetas Hoje”. Então, o que essa Expoesia mostrou, e também foi mostrado no Jornal de Poesias, que eu editei em 1973, no Jornal do Brasil (...) é que era hora da abertura e isso inclusive em termos políticos (...). Eu também achei que o poeta estilisticamente tinha que requerer liberdade primeiro dentro da própria literatura, ao invés de falar liberdade lá fora e ficar sob pressão de um grupo determinado, sob opressão de uma estética. E, de lá pra cá, houve uma liberação, uma volta à palavra que tinha “acabado”. Foi reachada a obra, descobriu-se o encanto da palavra de uma maneira até caótica, muitas vezes, meio passadista, neorromântica, mas não tem importância: o universo deve ser refeito sempre com a força que as pessoas têm,

JOSÉ REIS: O brasileiro consome poesia?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: - O que é publicado hoje em poesia vende. Tem um livrário de poesia incrível no Brasil. No Rio e São Paulo têm dezenas de revistinhas e livrinhos mal feitos, porque o poeta descobriu um outro veículo fora do convencional. Ao invés de procurar o editor e sofrer humilhação com editora e tal, ele prefere editar a coisa batida à máquina em papel pobre, e as pessoas passaram a comprar o livro e dar de presente. O livro passou a circular para três, quatro ou cinco pessoas. Eu já me encontrei com diversos poetas que estão vivendo de poesias. O sujeito já vendeu 10 mil exemplares do livro dele porque, como fez uma edição mais barata, pode vender a 10,00. Se fosse fazer uma edição editorial teria que pagar o livreiro, o editor e o distribuidor. Você sabe que o distribuidor ganha 50%, livreiro 20% e o editor 10%. O autor ganha 10%, só. Então, se você edita e vende, recupera seu dinheiro.

GLÓRIA SANDES: Os poetas não-vanguardistas, ou melhor, os tradicionais teriam alguma contribuição a dar à poesia? 

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: A minha visão de literatura é muito democrática, eu acho que tudo cabe dentro da história da literatura. Uns dos meus problemas com a vanguarda é que ela sugere uma história da literatura onde só entram vanguardistas. Não, todo mundo faz parte da história, inclusive as pessoas que não querem fazem parte contra a vontade. O poeta que está fazendo trova, cordel, soneto, pertence à Literatura (...). Num ensaio que publiquei nesse livro, que se chama “Por um conceito de literatura Brasileira”, quero exatamente chamar a atenção para isto, de que é necessário estudar a literatura de massa. No Rio, tem um poeta chamado Neimar de Barros, que publicou um livro chamado “O Deus Negro”. Sabe quantos livros ele já vendeu? 700 mil exemplares. Tem um problema aí que eu acho que é de ordem sociológica, mas é também de ordem estética, considerando que, dentro da dialética, a quantidade e a qualidade estão relacionadas. O estudante e o escritor não podem não tomar conhecimento de que tem um poeta que está vendendo 700 mil exemplares. Tem que prestar atenção nisso, saber porque ele está vendendo e eu não estou vendendo.

GLÓRIA SANDES: - Não é o problema do “esquemão”?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Tem um mistério nisso. Eu sou a favor de um ensino de literatura onde estes problemas sejam considerados.

JOSÉ REIS: - Como você vê o piauiense Mário Faustino, o que ele deixou como poeta e como crítico, qual sua influência?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: A influência dele foi muito grande, na década de 1950 para 1960, tanto como crítico no Jornal do Brasil. Aliás mais como crítico do que como poeta. A poesia dele eu acho uma poesia boa, mas um pouco conservadora ainda. Ele, talvez, por ter morrido cedo, não desenvolveu a poesia mais pessoal. Quer dizer, vejo muito, ainda, Ezra Pound atrás da poesia dele. Vejo muito a leitura que ele fazia de poesia atrás dessa poesia. Uma poesia que inclusive não é vanguardista no sentido das vanguardas da época. Ele queria ser um crítico de vanguarda, mas a poesia dele não era vanguardista: era discursiva, metafórica, palavrosa etc. Acho que a contribuição histórica dele é importante. Ele tinha uns “insights” algumas dicas que ele dava que eram muito importantes.

JOSÉ REIS: Em um dos livros que você está escrevendo, uma antologia, é verdade que vai incluir Mário Faustino?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Exato. É uma série que nós vamos fazer pela Sumus Editorial, tentando publicar os poetas que de 1950 prá cá deram alguma contribuição.

GLÓRIA SANDES: Torquato Neto entra nessa lista?

AFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Não. Torquato Neto não chega a ser um poeta importante dentro da Literatura Brasileira. Ele era um letrista bastante hábil. Ele se beneficiou bastante do contato que teve com os concretistas em São Paulo, mas não chegou a produzir uma obra, desapareceu antes. O que existe é o culto a Torquato Neto. Este é outro assunto, pertence à Sociologia da Música Popular.

GLÓRIA SANDES: No Rio ele é muito cultuado?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: É. Por alguns grupos. Mas acho que isso pertence a uma área contígua. Pelo fato dele ter morrido numa situação trágica e ter se transformado num símbolo – ele se transformou em elemento sacrificial, sacrificado de uma geração, como sucedeu com a música popular americana, com Jane Joplin e outros. Ele era um indivíduo muito hábil. Poderia ter desenvolvido uma obra, mas infelizmente isso não foi possível.

GLÓRIA SANDES: Qual sua opinião sobre a Navilouca, de Torquato Neto?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Aquela revista é curiosa, mas não é tão inovadora quando se pensa. Isso é outra coisa que precisa ser esclarecida. Tem outro poeta, ligado mais ou menos ao poema processo, Sebastião Nunes, que fez umas coisas dez anos antes da Navilouca, e naquela linha, muito mais rigorosa, mais importantes e mais bonitas. Inclusive mostrei neste curso uma coisa dele: um livro que vinha dentro de um envelope chamado Finis Ópera. São folhas soltas. Ele é artista plástico-visual. Pois toda aquela ideia que aparece na Navilouca, da arte suja, da arte sórdida, da coisa meio marginal, isto tudo já estava sendo feito por grupos anteriores. Posso falar inclusive uma coisa meio dura sobre ela e revistas semelhantes. Não sei se isso vai servir para alguém. Mas acho que certas verdades se tem que ir dizendo. A Navilouca é uma diluição dos cacoetes concretistas misturada com a Arte Povera, um movimento artístico italiano que no Brasil foi representado por cinema de lixo, por coisas semelhantes. Então aquele mau-gosto intencional que tem na revista não chega a ser uma inovação. Foi uma maneira dos concretos de São Paulo, que politicamente são muito hábeis, de continuarem a manter o controle sobre alguns jovens poetas que estavam surgindo. Tanto é que surgiram mais umas cinco a seis revistinhas semelhantes à Navilouca. Eles lançam uma revista e depois outra semelhante com outro nome etc., mas o projeto deles continua se repetindo.

GLÓRIA SANDES: Você acha que no Brasil a gente continua a fazer uma arte, uma literatura colonial, que sempre nos coloca como colonizados culturalmente? Muitas vezes a gente se espanta com o pessoal que a gente acha genial, por exemplo, no caso da revista Graphis: Muita coisa que se faz aqui está lá...

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: É. O Brasil sofre de uma coisa que alguns sociólogos de São Paulo chamaram de política da dependência cultural. O Fernando Henrique Cardoso, principalmente, defende essa tese de que somos um país de terceiro mundo, dependente, culturalmente do que se faz em Nova Iorque, Londres e Paris (...) Mas em todo lugar que você vai, no mundo, as pessoas estão se queixando que são dependentes das outras, porque hoje todo mundo é dependente de todo mundo.

CARLOS EVANDRO: Até que ponto você considera a literatura brasileira de vanguarda original, de característica genuinamente brasileira?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Eu não sei se me preocupo muito com esse negócio. O problema é o seguinte: não existe nada totalmente original. Você pega os concretistas, que tinham a pretensão de exportar poesia: a gestação do concretismo é toda estrangeira. Você pega Joyce, Mallarmé, Pound, os poetas japoneses, todo o paideuma concretista é estrangeiro. Você pensa: que milagre engraçado, de repente, eles leram 30 autores estrangeiros e produzem uma poesia brasileira! ... Até que ponto essa poesia é brasileira?  (...) É como a Bossa Nova. Até que ponto é brasileira? Ela é jazz e muitas outras coisas. Então o negócio nacional acho muito complicado. Por exemplo: algumas pessoas acusam os estruturalistas brasileiros de serem cópias de estruturalistas franceses... passaram um tempo lendo os filósofos alemães Hegel, Marx, Freud, Heiddeger são os que influenciaram os franceses. Por outro lado, esses pensadores para chegarem às conclusões deles andaram lendo os franceses e ingleses anteriores (...).

GLÓRIA SANDES: A pergunta me parece que foi mais no sentido de um caminho próprio da literatura brasileira de vanguarda, assim como se exige do bom poeta que siga o seu caminho (...)

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Num poeta como o João Cabral, você detecta influência de Drummond, depois de Valery, claramente. Mas o Cabral achou o caminho dele. Não quer dizer que ele não tenha influência. Porque todo mundo tem. Ele achou qual a sintaxe, a linguagem dele, uma linguagem pessoal.

CARLOS EVANDRO: E no caso Affonso Romano de Sant’Anna, quais seriam as reminiscências projetadas na obra?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Minha primeira poesia, de Canto e Palavra, acho que tem alguma coisa, muito longe, de Drummond. Já esse livro mais recente, o Poesia sobre Poesia, a primeira parte, considera-se bastante original, na medida em que tento uma poesia que mistura ensaio e poesia; poesia com nota de pé de página, despreocupada de uma série de quesitos que interessavam à vanguarda. Nesse sentido, acho que ela é original, porque corresponde a um problema meu específico, quer dizer, eu como professor (que teve que teorizar e saber tudo) e como poeta (que se quiser teorizar e saber tudo está liquidado. Ele tem que trabalhar muito com o inconsciente dele). Então é uma solução muito biográfica, muito pessoal, por isso acho que é mais original.

JOSÉ REIS: Afonso, fazer literatura e poesia se aprende ou a pessoa “já nasce poeta etc. literata”? Se se aprende, que caminhos deve seguir?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Acho que tem um certo aprendizado. Tanto é que nos Estados Unidos existem algumas escolas. Frequentei, durante nove meses, um curso desses lá. Era um curso internacional de escritores. No curso doméstico (deles) eu frequentei o internacional. Tinha aula de tradução, aula para aprender a escrever romance, poesia, tudo. E, na conclusão de seu curso, você ia fazer prova, traduzia, entregava um romance, epopeias, sei lá, um poema, um negócio concreto. No Brasil, começamos a fazer experiência semelhante. Na PUC mesmo fizemos várias vezes o curso de Criação Literária, convocando o aluno de Letras para escrever o texto dele, que é o contrário do que acontece, porque, nos cursos de arte, o sujeito está lá desenhando, nos cursos de música, por exemplo, o sujeito aprende a tocar piano. E no curso de letras o sujeito fica estudando o texto do outro. Então isto é um erro. Ele tem que produzir o texto dele.

CARLOS EVANDRO: A Universidade do Piauí começou recentemente um movimento assim, chamado de Carpintaria Linguística.

JOSÉ REIS: Utilizando o título de Autran Dourado. Estou juntando Autran Dourado com Mário Faustino, porque o Autran Dourado fala de Matéria de Carpintaria, e o Mário Faustino tem um texto sobre Diálogos de Oficina, nesse sentido de que o fazer literário é uma oficina.

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Isso acho fundamental. Porque certas coisas você aprende sozinho mesmo, com muito sacrifício. Mas tem uma série de macetes, uma técnica que você pode aprender com outra pessoa. Lembro que li, quando tinha uns 16 ou 17 anos, um livro chamado “A Arte de escrever” (...) Acho que talvez tenha sido isso que me forçou a começar a escrever, me ajudou bastante. Descobri que o texto era um negócio dinâmico, rico.

GLÓRIA SANDES: Agora uma perguntinha do balão. Como você vê a proliferação de formas sintéticas do conto. Não prejudicaria o surgimento de escritores “de fôlego?”

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Não. As pessoas, aliás, estão escrevendo cada vez livros maiores. É porque tem mais gente escrevendo hoje. Tem um romancista paulista, pouco conhecido, que elogiei muito na Veja. Evelson Soares Pinto. Escreveu um livro de 800 páginas em corpo 8, chamado “A Crônica de Valente Parentino”. Um livro ótimo. 

GLÓRIA SANDES: O que acha, particularmente, dos minicontos?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Gosto. Gosto muito, principalmente dos de minha mulher, a Marina Colassanti. Ela tem um livro chamado Zoológico, que é de minicontos surrealistas sobre animais. E está terminando um agora.

GLÓRIA SANDES: Quem, no Brasil, é melhor no romance, na poesia e no conto?

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Tem que entrar muita gente, porque depende das gerações. Por exemplo, na faixa do modernismo, realmente o Drummond é, disparado, o melhor. Acho o Drummond o maior poeta do século. Esses poetas como o Mário Chamie e os Concretos têm um controle do verso muito grande. Quando querem fazer verso, fazem com muita habilidade, escrevem muito bem (...). Você pode é não gostar do texto deles, mas que o sujeito sabe o que está fazendo, sabe. De poesia, se você quer nomes, de gente que eu gosto, de gente nova, tem a poetisa mineira chamada Adélia Prado, que pra mim é a maior revelação de poesia no Brasil ultimamente. Tem um livro chamado Bagagem e está lançando outro pela Nova Fronteira, um de que estou fazendo a introdução. (...) Tem alguns poetas da geração marginal que eu gosto, que estão naquela antologia dos 26 poetas da Heloísa. O Antonio Carlos de Brito tem umas coisas boas. Chico Alvim, gosto de umas coisas dele; e outros. Em poesia tem outros, o Domingos Pellegrini.  Esse menino que ganhou o prêmio da Remington, em Minas. (...) Na ficção, por exemplo, gosto muito do Rubem Fonseca. Acho excelente; Inácio Loyola acho mais ou menos, o João Antônio acho bom escritor, mas faz um gênero que não gosto. O Moacyr Scliar? Ele sabe fazer as coisas, mas o texto não me diz, é um negócio emocional. O J. Veiga? Muito bom. O Autran é muito bom. A Nélida Piñon, por exemplo, é uma escritora muito difícil de se ler, mas muito boa. O Osman Lins? Gosto. É difícil também de ser lido. Assis Brasil? Acho muito desigual. Tem um romance “Beira Rio Beira Vida” que acho fraquíssimo. Já um outro, que cheguei a criticar na Veja, “Rebelião dos Órfãos”, tem umas coisas muito boas. É uma coisa curiosa, o Assis Brasil participou dessas coisas de vanguarda, mas o texto dele é meio conservador em certas coisas. (...).

GLÓRIA SANDES: Por que os poetas jovens estão se identificando muito com Fernando Pessoa? Mesmo os que não leem gostam...

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: (...) Ele se tornou mais influente porque era místico, exotérico, e com a onda hippie no mundo inteiro, macrobiótica, zen, essas coisas todas, ele entrou em circulação. Porque não é um poeta racional. É muito emotivo, aquela coisa que jorra muito. É uma leitura, um discurso mais fácil. Então capta mais o jovem.

GLÓRIA SANDES: E Da Costa e Silva, o que dá o nome daquela praça?

CARLOS EVANDRO: Afrânio Coutinho diz que ele teria motivado as aspirações de poéticas de Abgar Renaut, Drummond de Andrade...

AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA: Ele é bastante conhecido nessa faixa da passagem para o modernismo, pré-modernista. Tinha um certo prestígio. Tinha inclusive uns poemas que são assim formalmente meio ousados. Mas aquilo era mais ou menos moda na época. O Hermes Fontes, a Gilka Machado, Martins Fontes, todos eles tinham assim certa invenção pré-modernista.

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