domingo, 4 de junho de 2023

O POETA E SEU LABIRINTO...

 

Fonte: Google



O POETA E SEU LABIRINTO...

Opúsculo de Elmar Carvalho

 

Wilton Porto

 

Como eu, Elmar Carvalho, foi lapidado na era do chumbo grosso, ferino, mortal, de quando os militares "subiram" ao poder do governo do Brasil e permaneceram por 21 anos.

Escritores em geral, cantores, artistas plásticos...

Todos éramos perseguidos de alguma forma.

Vivíamos num "labirinto", acuados, como se Minotauros perseguissem e se aproveitassem dos jovens.

Os Teseus estavam prontos para tirar do meio social quem se atrevesse a andar fora da cartilha: o AI5, terror dos terrores.

O título deste livro, com certeza, é o Poeta, que se via, e via tantos companheiros presos, amordaçados.

O eu-lírico, já na abertura do livro, na primeira estrofe, bem o esclarece:

 

"Perdido e cego caminhaste pelos labirintos,

teseu e minotauro de teu próprio destino,

nos confrontos que travaste com teu ego".

 

Quando o Poeta Elmar surgiu como pedra preciosa da literatura piauiense, imperava no nosso  país a literatura "marginal ou mimeografada". Isto em 1970, como forma de driblar o arrocho militar.

Tabloides e poesias, artes em geral, inclusive quadrinhos e cinema usaram deste meio de se expressar.

Através do Jornal Inovação, usamos muito deste meio.

Assim, Elmar foi mostrando seu talento de várias maneiras.

Na poesia "Autobiografia Zodiacal", o Poeta se diz multiplicador de ideias, quando em todos os signos, ele se enquadra. E dentro de cada signo, o lado mais forte: "Coração como Touro indomável". "Fúria de Leão".

E neste poema, o traço concretista.

Conclui de forma contundente:

"Armado de arco e flecha (a flecha é uma cauda de Escorpião)".

Esta(s) estrofe(s) em forma de flecha.

 

No poema EM TRANSE o eu-poético bem nos envolve nos acontecimentos da época do medo:

"eu vi o caos

do nada.

Perdido no

tempo parado

e no espaço desfeito (...)

Vi sangues azuis,

cobras multicores

lagartas de fogo" (...).

 

Nesta poesia, notamos que o poeta descreve de forma simbólica, o destroço em que estávamos atolados.

A geração marginal surgiu em 1970. Neste período, os intelectuais seguiam o pensamento de Leminski:

 

Leminski, um dos grandes representantes dessa geração, define o termo marginal:

 

“Marginal é quem escreve à margem,

deixando branca a página

para que a paisagem passe

e deixe tudo claro à sua passagem.

Marginal, escrever na entrelinha,

sem nunca saber direito

quem veio primeiro,

o ovo ou a galinha”.

 

No poema

AMOR CONCRETO

Elmar mais uma vez se vale do concretismo, por onde Leminski fez morada:

 

“no vór-

                   ti-

      ce voraz

dos abrasados amantes abraçados

o amor se faz (...)

   ver      tiginoso

   vér      ti

         ce

inver      tido.”

 

Elmar ama o simbolismo com suas assonâncias, aliterações e jogos de palavras.

 

"recendente de maresia

que me

leva/lava/lavra

como se eu fora um

fruto do mar.

(Poema Paisagem Marinha).

 

No poema

"Mulheres na Lagoa do Portinho"

parece que o eu-poético estava em sintonia com Cruz e Sousa, no ativar as assonâncias.

 

"Esmeradas esmeriladas esmeraldas -

da mulher bonita

de sinuosas dunas e viagens

furta-cores furtaram

outros tons e sobretons".

 

O Poeta Elmar

sintoniza perfeitamente com a poesia contemporânea. No entanto, possui uma verve aguçada no romantismo não piegas, e não se intimida, caso queira pegar o trem do épico de Camões.

É eclético e se preciso, se multiplica como Fernando Pessoa.

Elmar possui a veia briosa da sonoridade. Sua poesia é pura música aos nossos ouvidos.

Ele é capaz de numa poesia erótica, levantar a mais escrota das críticas.

 

No poema

Autobiografia, página

22-23

ele é religioso e crítico.

 

"Subi montes, rompi charcos,

atravessei grutas sem luz,

com os ombros esmagados

ao peso da férrea cruz (...).

Sofri e cantei perdido nos lupanares.

Em dias de sol escaldante e incandescente

fui casto Dante

e Baudelaire delirante e indecente,

pelas tardes mornas de ressacas e orgias (...).

E nos palácios dourados de Mefisto,

no meio de mentira e desengano,

fui Satã,

fui Cristo,

fui Humano".

 

O Poeta Elmar Carvalho, tão conhecido pela grandeza da cultura e das poesias iluminadas, trabalhadas como artesão.

Em tudo que escreve se percebe o mítico, o místico, o nada misógino.

 

Elmar é um Poeta em tom maior.

2 comentários:

  1. Elmar, hoje, é membro de várias agremiações literárias, incluindo Academia Piauiense de Letras e a Academia Parnaibana de Letras. Sem dúvidas, está entre os mais destacados literatos do nosso estado. Que não lhe faltam são comentários elogiosos. Elmar não tem pressa em preparar o poema. Rasga é rasga papel, até ele se sentir satisfeito. Um poema é uma cria. E se tem que caprichar para evitar o mínimo de defeito. Elmar é artesão das letras.
    Wilton Porto

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  2. Muito obrigado, prezado poeta Wilton Porto, por suas lisonjeiras palavras sobre a minha poesia. Minha gratidão a você por ter lido com a devida atenção o meu pequeno livro.

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