O POETA E SEU LABIRINTO...
Opúsculo de Elmar Carvalho
Wilton Porto
Como eu, Elmar Carvalho, foi
lapidado na era do chumbo grosso, ferino, mortal, de quando os militares
"subiram" ao poder do governo do Brasil e permaneceram por 21 anos.
Escritores em geral, cantores,
artistas plásticos...
Todos éramos perseguidos de alguma
forma.
Vivíamos num
"labirinto", acuados, como se Minotauros perseguissem e se aproveitassem
dos jovens.
Os Teseus estavam prontos para
tirar do meio social quem se atrevesse a andar fora da cartilha: o AI5, terror
dos terrores.
O título deste livro, com certeza,
é o Poeta, que se via, e via tantos companheiros presos, amordaçados.
O eu-lírico, já na abertura do
livro, na primeira estrofe, bem o esclarece:
"Perdido e cego caminhaste
pelos labirintos,
teseu e minotauro de teu próprio
destino,
nos confrontos que travaste com
teu ego".
Quando o Poeta Elmar surgiu como
pedra preciosa da literatura piauiense, imperava no nosso país a literatura "marginal ou
mimeografada". Isto em 1970, como forma de driblar o arrocho militar.
Tabloides e poesias, artes em
geral, inclusive quadrinhos e cinema usaram deste meio de se expressar.
Através do Jornal Inovação,
usamos muito deste meio.
Assim, Elmar foi mostrando seu
talento de várias maneiras.
Na poesia "Autobiografia Zodiacal",
o Poeta se diz multiplicador de ideias, quando em todos os signos, ele se
enquadra. E dentro de cada signo, o lado mais forte: "Coração como Touro
indomável". "Fúria de Leão".
E neste poema, o traço
concretista.
Conclui de forma contundente:
"Armado de arco e flecha (a
flecha é uma cauda de Escorpião)".
Esta(s) estrofe(s) em forma de
flecha.
No poema EM TRANSE o eu-poético
bem nos envolve nos acontecimentos da época do medo:
"eu vi o caos
do nada.
Perdido no
tempo parado
e no espaço desfeito (...)
Vi sangues azuis,
cobras multicores
lagartas de fogo" (...).
Nesta poesia, notamos que o poeta
descreve de forma simbólica, o destroço em que estávamos atolados.
A geração marginal surgiu em
1970. Neste período, os intelectuais seguiam o pensamento de Leminski:
Leminski, um dos grandes
representantes dessa geração, define o termo marginal:
“Marginal é quem escreve à
margem,
deixando branca a página
para que a paisagem passe
e deixe tudo claro à sua
passagem.
Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito
quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha”.
No poema
AMOR CONCRETO
Elmar mais uma vez se vale do
concretismo, por onde Leminski fez morada:
“no vór-
ti-
ce voraz
dos abrasados amantes abraçados
o amor se faz (...)
ver tiginoso
vér ti
ce
inver tido.”
Elmar ama o simbolismo com suas
assonâncias, aliterações e jogos de palavras.
"recendente de maresia
que me
leva/lava/lavra
como se eu fora um
fruto do mar.
(Poema Paisagem Marinha).
No poema
"Mulheres na Lagoa do
Portinho"
parece que o eu-poético estava em
sintonia com Cruz e Sousa, no ativar as assonâncias.
"Esmeradas esmeriladas
esmeraldas -
da mulher bonita
de sinuosas dunas e viagens
furta-cores furtaram
outros tons e sobretons".
O Poeta Elmar
sintoniza perfeitamente com a
poesia contemporânea. No entanto, possui uma verve aguçada no romantismo não
piegas, e não se intimida, caso queira pegar o trem do épico de Camões.
É eclético e se preciso, se
multiplica como Fernando Pessoa.
Elmar possui a veia briosa da
sonoridade. Sua poesia é pura música aos nossos ouvidos.
Ele é capaz de numa poesia
erótica, levantar a mais escrota das críticas.
No poema
Autobiografia, página
22-23
ele é religioso e crítico.
"Subi montes, rompi charcos,
atravessei grutas sem luz,
com os ombros esmagados
ao peso da férrea cruz (...).
Sofri e cantei perdido nos
lupanares.
Em dias de sol escaldante e
incandescente
fui casto Dante
e Baudelaire delirante e
indecente,
pelas tardes mornas de ressacas e
orgias (...).
E nos palácios dourados de
Mefisto,
no meio de mentira e desengano,
fui Satã,
fui Cristo,
fui Humano".
O Poeta Elmar Carvalho, tão
conhecido pela grandeza da cultura e das poesias iluminadas, trabalhadas como
artesão.
Em tudo que escreve se percebe o mítico,
o místico, o nada misógino.
Elmar é um Poeta em tom maior.
Elmar, hoje, é membro de várias agremiações literárias, incluindo Academia Piauiense de Letras e a Academia Parnaibana de Letras. Sem dúvidas, está entre os mais destacados literatos do nosso estado. Que não lhe faltam são comentários elogiosos. Elmar não tem pressa em preparar o poema. Rasga é rasga papel, até ele se sentir satisfeito. Um poema é uma cria. E se tem que caprichar para evitar o mínimo de defeito. Elmar é artesão das letras.
ResponderExcluirWilton Porto
Muito obrigado, prezado poeta Wilton Porto, por suas lisonjeiras palavras sobre a minha poesia. Minha gratidão a você por ter lido com a devida atenção o meu pequeno livro.
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